O globo, n. 31239, 16/02/2019. País, p. 8

 

Carlos volta à Câmara e silencia sobre crise

Bruno Abbud

16/02/2019

 

 

 Recorte capturado

 

 

O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do meio do presidente Jair Bolsonaro, apareceu ontem, no Palácio Pedro Ernesto, para a sessão extraordinária que inaugurou os trabalhos na Câmara Municipal do Rio após o recesso de fim de ano. Permaneceu cerca de 30 minutos no plenário. Como de costume, não usou a tribuna nem quis falar com jornalistas. Carlos aproveitou o retorno ao cargo para assinar um pedido do vereador Jimmy Pereira (PRTB-RJ) para que seja concedida a medalha Pedro Ernesto ao vice-presidente Antonio Hamilton Mourão, que é filiado ao mesmo partido do autor do pedido. Ao endossar a proposta, Carlos postou em suas redes sociais uma foto na qual aparece segurando a folha com o pedido: “Assinando pedido de colega para oferecer a Medalha Pedro Ernesto para o Grande @GeneralMourao”, escreveu no Twitter. Nesta semana, na mesma rede social, Carlos protagonizou um embate público com o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, ao desmenti-lo. O caso levou à decisão de retirar Bebianno do governo. O ministro havia contado, em entrevistas, ter conversado com o presidente Jair Bolsonaro após o envolvimento de seu nome em um caso de candidatos laranjas em Pernambuco. Ao rebater a versão, Carlos publicou o áudio de um telefonema entre Bolsonaro e o ministro no qual seu pai recusa um encontro. Bolsonaro endossou a mensagem do filho, ao republicá-la em suas redes. Ontem, Carlos chegou ao seu gabinete por volta das 11 horas, na companhia de dois oficiais do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), responsáveis por sua segurança. Deslocou-se de sua casa, na Barra, em um carro seguido pelos seguranças — ao contrário do que fazia antes do pai ser eleito presidente da República, quando costumava ir de motocicleta ao trabalho, na Cinelândia. A primeira função do dia foi reunir a equipe para dar novas diretrizes sobre os protocolos de segurança que todos terão de cumprir a partir de agora. Todos os funcionários do gabinete foram convocados para a reunião. Por volta das 14 horas, o vereador desceu de seu gabinete, no nono andar, até o plenário da Casa, onde seria votado projeto sobre o Sistema Municipal de Cultura. Por falta de quórum, contudo, a sessão foi adiada para a próxima terça-feira —Carlos deixou o local antes que a notícia da falta de quórum fosse anunciada. À tarde, depois de almoçar comida que trouxe de casa em potes de plástico, em sua sala, Carlos se reuniu com seu chefe de gabinete, Jorge Fernandes, com quem despachou pelo resto do dia.

Antes de voltar ao trabalho, Carlos passou os últimos dias na companhia do pai durante sua recuperação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, após a cirurgia de retirada da bolsa de colostomia que Bolsonaro usou por cerca de cinco meses depois de levar uma facada em ato de campanha em Juiz de Fora. Foi o único filho do presidente que acompanhou a cirurgia, que durou cerca de nove horas. No gabinete de Carlos, um funcionário comentou que o vereador não tocou no nome de Bebianno na volta à Câmara. Comentase o caso de Bebianno por ali a partir de uma máxima que Jair Bolsonaro costuma repetir aos filhos: “Nunca contrate alguém que não possa demitir”. Bebianno vai deixar governo após recusar diretoria de estatal.

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PF chama para depor supostas laranjas do PSL de Minas

Jailton de Carvalho

16/02/2019

 

 

Procuradoria Regional Eleitoral de Pernambuco abre investigação de caixa dois na campanha do presidente nacional da legenda

A Polícia Federal chamou para depor mulheres que teriam atuado como candidatas-laranjas do PSL em Minas Gerais nas eleições do ano passado. Uma delas, a principal suspeita, está no exterior. Segundo um policial, ela saiu do país por medo, mas já informou que voltará ao Brasil para prestar os esclarecimentos. A apuração do caso ocorre dentro de um procedimento preliminar. Pela lei, a Polícia Federal só pode abrir inquérito sobre o assunto a pedido da Justiça Eleitoral. Em uma reportagem no início deste mês, a “Folha de S. Paulo” informou que quatro candidatas do PSL de Minas teriam sido usadas como laranjas, numa estrutura patrocinada pelo ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio. O ministro era presidente do PSL no estado no período das supostas fraudes. Segundo o jornal, as quatro candidatas receberam R$ 279 mil durante a campanha e, mesmo assim, somaram pouco mais de dois mil votos. Parte dos recursos enviados às candidatas teria sido repassada para empresas de pessoas com algum vínculo com o ministro do Turismo. Não há, até o momento, indicativo de que as candidatas tenham mesmo feito campanhas eleitorais que justificassem os gastos com o dinheiro público, repassado a elas com base nas regras eleitorais. Para investigadores, a melhor alternativa para começar a apurar o caso seria a intimação das suspeitas. Mas, como não há inquérito aberto, a polícia se limitou a fazer os convites. Numa outra frente de investigação, em Pernambuco, a PF deverá interrogar a ex-candidata a deputada federal pelo PSL Maria de Lourdes Paixão, também suspeita de fazer papel de laranja. Marcado para quintafeira passada, o depoimento foi adiado para segunda-feira, a pedido da defesa. Maria de Lourdes, pivô da crise que custou o cargo de Gustavo Bebianno no comando da Secretaria-Geral da Presidência, recebeu R$ 400 mil e obteve apenas 274 votos. O caso da ex-candidata foi marcado por declarações desencontradas entre o ex-presidente do partido Gustavo Bebianno e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro, um dos filhos do presidente Jair Bolsonaro.

Bivar será investigado

A Procuradoria Regional Eleitoral em Pernambuco abriu uma investigação sobre suspeitas de caixa dois na campanha do presidente do PSL, Luciano Bivar, ao cargo de deputado federal. A informação foi revelada pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Dentre as irregularidades detectadas estão o recebimento de doação de R$ 8 mil de uma pessoa desempregada há mais de quatro meses. Procurado, Luciano Bivar não retornou o contato até o fechamento desta edição.