O globo, n. 31235, 12/02/2019. País, p. 9

 

Agência de mineração determina inspeção diária em barragens

Manoel Ventura

12/02/2019

 

 

A Agência Nacional de Mineração (ANM) determinou ontem que mineradoras realizem inspeções diárias em barragens de rejeitos do modelo alteamento a montante, o mesmo tipo dos reservatórios da Vale que se romperam em Brumadinho e Mariana.

As informações obtidas a partir das inspeções diárias deverão ser enviadas pelas mineradoras ao Sistema Integrado de Gestão de Segurança de Barragens de Mineração. A ANM também determinou a instalação de sirenes nas barragens até 30 de abril.

Em reservatórios com alteamento a montante, a estrutura cresce em forma de degraus, utilizando o próprio rejeito do processo sobre o dique inicial. Especialistas consideram esse modelo o mais inseguro de todos. O país tem hoje 88 barragens construídas dessa forma.

Vale já avaliava risco

Em reportagem publicada ontem, a agência Reuters informa que a Vale estava ciente do risco elevado de ruptura da barragem em Brumadinho, segundo documento interno obtido pela agência. O relatório, datado de 3 de outubro de 2018, mostra que, segundo a própria Vale, a barragem da mina de minério de ferro Córrego do Feijão tinha duas vezes mais chance de se romper do que o nível máximo tolerado pela política de segurança da empresa.

A Vale não havia respondido à Reuters até o fechamento desta edição. A empresa já citou um relatório de auditoria independente declarando a barragem segura. Afirmou que os equipamentos mostraram que a estrutura estava estável antes do colapso.

Intitulado “Geotechnical Risk Management Results”, o relatório colocou a barragem da mina Córrego do Feijão dentro de uma “zona de atenção”, dizendo que “deve ser assegurado que todos os controles de prevenção e mitigação estejam sendo aplicados”.

Outras nove barragens, das 57 que foram estudadas, foram colocadas na zona de atenção, segundo o relatório.

Ressarcimento

A Advocacia-Geral da União (AGU) vai cobrar da Vale o ressarcimento de prejuízos das vítimas do rompimento da barragem da companhia em Brumadinho, Minas Gerais. A afirmação partiu do ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que ontem afirmou não achar justo que famílias usem os recursos do FGTS para cobrir danos. De acordo com ele, é uma poupança dos trabalhadores, cabendo à empresa compensar as perdas.

Já a Vale pediu mais tempo para analisar o plano de reparação proposto pelo Ministério Público Federal.