O globo, n. 31238, 15/02/2019. País, p. 6

 

Moro: repasses do PSL estão sendo investigados

Renata Mariz

Amanda Almeida

15/02/2019

 

 

Ministro disse estar cumprindo determinação de Bolsonaro; gráfica ligada ao partido do presidente, no interior de Pernambuco, recebeu R$ 1,2 milhão na campanha. Oposição vai tentar convocar Bebianno no Congresso

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, disse que a determinação do presidente Jair Bolsonaro de investigar repasses suspeitos de dinheiro público por parte do PSL a possíveis candidatas de fachada nas últimas eleições “está sendo cumprida”. Questionado sobre o assunto ao fim de um evento com magistrados, Moro não deu detalhes, porém, se há inquéritos formalmente abertos, nem quais casos serão objeto de apuração, uma vez que há duas situações suspeitas, uma em Minas Gerais e outra em Pernambuco.

—O senhor presidente Jair Bolsonaro proferiu uma determinação e a determinação está sendo cumprida. Os fatos vão ser apurados e eventuais responsabilidades, após as investigações, vão ser definidas —disse o ministro.

Suspeitas de que o PSL, partido de Bolsonaro, repassou verba pública destinada à campanha eleitoral a candidatas que funcionavam como laranjas, apenas para cumprir formalmente a cota feminina de 30% das candidaturas, abriram uma crise no governo. A permanência do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que era presidente da sigla à época, foi inclusive colocada em dúvida por Bolsonaro em entrevista anteontem.

Gráfica ligada a PSL

Uma gráfica ligada a um dirigente do PSL no interior de Pernambuco recebeu, do partido, R$ 1,2 milhão durante a campanha eleitoral para prestar serviço a sete candidatos a deputado. O maior gasto foi feito pelo atual presidente do partido, o deputado federal Luciano Bivar, que declarou ter pago R$ 848 mil para a impressão de mais de 5 milhões de santinhos e adesivos.

Os outros seis candidatos que utilizaram a gráfica Vidal não foram eleitos. A empresa fica em Amaraji, município de 22 mil habitantes a cerca de 100 km de Recife, e pertence a Luís Alfredo Vidal Nunes da Silva, dirigente do PSL em Pernambuco.

A contratação de empresas de dirigentes não é proibida pela legislação eleitoral. Ainda assim, no ano passado, a ministra Rosa Weber, que hoje preside o Tribunal Superior Eleitoral, criticou a prática durante a votação das contas do DEM.

Segundo reportagem publicada ontem no jornal “Folha de S.Paulo”, a gráfica funciona em um imóvel pequeno, possui uma máquina e ao menos dois funcionários. Ao jornal, o proprietário disse que abriu a empresa em 2013 e que só passou a ter clientes políticos nas últimas eleições. Ele negou irregularidades.

De acordo com o jornal “O Estado de São Paulo”, cerca de um quarto do que Bivar gastou com a gráfica, R$ 215 mil, foram pagos nos últimos quatro dias de campanha oficial, em outubro. O deputado declarou ter feito material gráfico para outros 18 candidatos a deputado estadual.

Pelo menos 88% do valor recebido pela gráfica Vidal, originários de fundo eleitoral e partidário, foram autorizados por Bebianno, que era o presidente do PSL na época.

No domingo, outra reportagem publicada pela “Folha de S.Paulo” apontou que o PSL destinou R$ 400 mil de fundo partidário para Maria de Lourdes Paixão, candidata a deputada federal de Pernambuco que recebeu apenas 274 votos. Anteontem, a Polícia Federal intimou a candidata a prestar depoimento sobre a suspeita de ter sido usada como laranja pelo PSL, porém ela não compareceu na data marcada.

Em entrevista à GloboNews anteontem, Bebianno negou ter cometido irregularidades, disse não pretender pedir demissão e que o repasse de verbas do partido aos candidatos é responsabilidade dos diretórios estaduais.

Convocação de Bebianno

O líder da minoria no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou ontem que a oposição trabalhará, na semana que vem, pela convocação de Bebianno para que ele explique as acusações.

—O governo está paralisado pelas fissuras do próprio governo. Por enquanto, tem sobrado pouco para a oposição fazer. Trata-se de acusações gravíssimas. Iremos tentar convocar o ministro em todas as comissões, estando ou não estando (ministro) — disse Randolfe, referindo-se a uma possível saída de Bebianno.