Correio braziliense, n. 20353, 10/02/2019. Economia, p. 8

 

Consumo das famílias puxa o PIB em 2019

Ingrid Soares e Marina Torres

10/02/2019

 

 

 Recorte capturado

CONJUNTURA » Melhora do mercado de trabalho, expansão da massa de renda e alta do crédito sustentam previsão de economistas para o indicador, que representa 64% da demanda. Gastos do governo devem ter queda, e investimentos dependem das reformas

O consumo das famílias brasileiras deve impulsionar a economia em 2019. A reação do mercado de trabalho, o crescimento da  renda e a expansão do crédito serão os motivos da alta, segundo economistas.  Na expectativa de Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências Consultoria, o consumo deve crescer 2,5% em 2019, superando a evolução do PIB como um todo, estimada em 2%. Ainda de acordo com os cálculos da economista, no ano passado, para uma alta de 1,2% do PIB, o consumo familiar avançou 1,8%. O resultado das contas nacionais de 2018, no entanto, só será divulgado no fim deste mês pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No último trimestre de 2018, o país tinha 12,2 milhões de pessoas desempregadas, mas esse número caiu 2,4% em relação ao trimestre anterior. Embora a queda tenha sido puxada pelo crescimento do trabalho informal e por conta própria, o efeito na economia foi positivo. “A massa de renda aumentou 2%. É um dos grandes pilares. Outro é a reação do crédito para pessoas físicas. Esperamos a continuidade desse movimento em 2019, e que a massa de renda avance 2,7%”, afirma Alessandra.

A manutenção da taxa básica de juros em 6,5%, patamar mais baixo da série histórica, tem possibilitado a redução dos custos do crédito, observa Alessandra. “Temos consumidores mais confiantes, e a taxa de juros Selic deve se manter em 6,5% por um bom período, possibilitando empréstimos e financiamentos mais baratos. Há fundamentos para o crescimento, a confiança está em patamar mais alto”, conclui.

 

Motor

O consumo das famílias é o principal motor do PIB, uma vez que tem um peso de 64% na demanda agregada, conforme dados do IBGE referentes a 2017. O coordenador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), Armando Castelar, ressalta que, por conta disso, o consumo das famílias deve ter papel primordial na melhora do PIB.

“A maior confiança dos consumidores e a queda da inadimplência devem sustentar uma nova alta no crédito às famílias, que já aumentou 8,6% em 2018. Isso deve ajudar na expansão do consumo, com uma elevação da massa salarial, ainda que modesta. Quando se diz que o consumo vai puxar o PIB, também se tem em mente que ele é o componente mais importante da demanda”, explica.

Na contramão, a projeção para o consumo do governo em 2019 é de redução de 0,5% — uma consequência direta da precária situação fiscal da União, estados e municípios. “O governo vem segurando despesas para poder cumprir as metas de deficit e a regra do teto de gastos. Com a crise fiscal dos estados, esse processo se acentuou, levando à virtual estagnação do consumo do governo, no conceito das contas nacionais”, explica Castelar.

Embora o cenário seja positivo, a professora de economia do Insper Juliana Inhasz pondera que a recuperação da economia ainda é discreta e que os investimentos — que poderiam colocar o PIB numa trajetória de crescimento mais robusta —  ainda estão represados. “Os investidores aguardam a reforma da Previdência. Isso vai ajudar na recuperação da confiança. Mas, embora seja fundamental, só ela não resolve. É preciso pensar também em outra reformas, como a tributária e a trabalhista, além das privatizações. É preciso um pacote para resolver o problema. Mas se a reforma da previdência passar, conseguimos fazer o resto funcionar”, afirma.

A empregada doméstica Silvana Batista, 62 anos, moradora de Santa Maria, diz que, apesar do orçamento familiar apertado, tem uma visão otimista sobre 2019. Ela mora com o filho, o estudante Felipe Batista, 25 anos. “Ano passado, os gastos aumentaram em relação a água, luz e despesas no geral. Também cheguei a me endividar, mas consegui pagar tudo depois. Este ano, tudo indica que vai ser ótimo. Vou conseguir comprar ainda mais coisas. O gasto em comida aumentou, temos melhores refeições e pretendo reformar meu banheiro, além de comprar um sofá”, afirma Silvana.

A família Lasneaux também acredita em melhora de consumo esse ano. Marcello tem 48 anos e é professor; ele mora com a esposa, Andrea, que é advogada, e os três filhos: Andressa, Marcella e Eduardo. Para Marcello, o foco é quitar as dívidas do ano passado para poder investir. “Ano passado foi um ano difícil. o ano de 2019 começou melhor, então a tendência é consumir mais, apesar de o nosso foco ser quitar dívidas.”

Apesar disso, há famílias que preferem ir com calma e nem sempre seguem a expectativa de consumo. Mariana Fraga e Geraldo Alvares são moradores do Guará II. O casal mora com a filha de seis anos e a avó de Mariana, e tem planos diferentes. “Este ano queremos economizar para sair da casa da minha avó. Queremos um lugar para morar só eu, meu marido e minha filha. Portanto, estamos diminuindo o consumo,” conta.

*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo

 

Frase

“A massa de renda aumentou 2% (em 2018). Também cresceu o crédito para pessoas físicas. Esperamos a continuidade desse movimento em 2019, e que a massa de renda avance 2,7%”

Alessandra Ribeiro, da consultoria Tendências