Correio braziliense, n. 20344, 01/02/2019. Brasil, p. 9

 

Água representa risco à saúde

Renan Damasceno, Luiz Ribeiro e Roger Dias

01/02/2019

 

 

Análise feita por órgãos federal e estadual detecta presença de metais pesados no Rio Paraopeba acima do limite permitido. Abastecimento da população será feito por meio de fontes alternativas ou caminhões-pipa nas áreas mais afetadas

As perdas de vidas, materiais e a contaminação das águas vieram em escala industrial. A mancha de lama de restos de mineração lançados ao meio ambiente não para de avançar pelo Rio Paraopeba. Uma alta concentração de metais pesados foi confirmada em boletim divulgado pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), após monitoramento do rio, realizado em conjunto com a Agência Nacional de Águas (ANA), o Serviço Geológico do Brasil (CPMR) e a Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) desde o desastre, ocorrido na sexta-feira passada.
As maiores concentrações verificadas no Paraopeba, após a contaminação com a lama de rejeitos de minério, foram de chumbo e mercúrio, de 21 vezes acima do limite permitido pelas normas ambientais. Também foi constatada a presença no rio de outros metais, como níquel, cádmio e zinco, acima dos valores considerados toleráveis.
Diante dos resultados, o governo do estado alertou que a água do manancial “apresenta riscos à saúde humana e animal” e não deve ser consumida em estado bruto. A Defesa Civil atestou que nenhuma cidade do estado está sujeita a cortes de abastecimento, e que municípios que eventualmente façam captação no Paraopeba recorrerão a fontes alternativas enquanto os parâmetros estiverem alterados.
Já o abastecimento de pessoas e comunidades que usavam diretamente a água do rio deve ser suspenso de imediato. Para essas pessoas, o estado deve garantir o fornecimento com a ajuda de 50 caminhões-pipa e orientações de 40 técnicos da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater).

Distância

O governo estadual informou ainda que, diante dos resultados e “por segurança à população”, “deve ser respeitada uma área de 100 metros das margens” do Paraopeba. “O contato eventual não causa risco de morte. E para os bombeiros, que têm trabalhado em contato mais direto com o solo, a orientação da saúde é para que utilizem todos os equipamentos de segurança”, recomenda a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad).
Com uma área de quase 13 mil quilômetros quadrados, o Paraopeba passa por 48 cidades, sendo 35 na sede da bacia, atingindo as áreas central e oeste de Minas. É responsável por abastecer 2,3 milhões de pessoas. Diante das recomendações, vários municípios já se mobilizam em buscas de planos alternativos para que o abastecimento de água não seja interrompido. As iniciativas vão de criação de grandes reservatórios provisórios à utilização dos poços artesianos e outros mananciais para evitar eventuais problemas de falta de água no futuro.
Em nota, a Copasa assegurou que o fornecimento para a Região Metropolitana de Belo Horizonte não será modificado. A empresa conta para isso com as represas do Rio Manso, Serra Azul, Vargem das Flores e com a água do Rio das Velhas, feita em Nova Lima, sem barragem, em sistema conhecido como captação a fio d’água.