O globo, n. 31237, 14/02/2019. País, p. 4

 

Ministro na berlinda

Jussara Soares

Bruno Góes

14/02/2019

 

 

Bolsonaro: Bebianno pode sair do governo

O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, pode “voltar às origens”, caso esteja envolvido no suposto repasse de dinheiro do fundo público eleitoral para candidatos laranjas do PSL. Bolsonaro disse ser “mentira” que tenha falado com Bebianno, anteontem, com o avanço das acusações. A fala ocorre em meio à pressão exercida pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), que não é do governo, para que o pai demita um de seus mais importantes auxiliares.

— Se estiver envolvido (Bebianno), logicamente, e responsabilizado, lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens — afirmou o presidente, em entrevista à TV Record.

Bolsonaro afirmou que ele mesmo pediu a investigação do caso ao ministro da Justiça, Sergio Moro.

Ontem à noite, Bebianno disse à GloboNews que não pretende pedir demissão, negou as acusações e reafirmou que conversou com o presidente:

— Não tenho essa intenção porque não fiz nada de errado. Meu trabalho continua sendo em benefício do Brasil. O presidente, se entender que eu não deva mais continuar, ele certamente vai me comunicar.

Bebianno, contudo, expressou a aliados, na noite de ontem, que ainda analisa possível pedido de demissão. O ministro tem conversado com assessores e integrantes do governo para tomar sua decisão.

A crise foi deflagrada após Carlos Bolsonaro expor, nas redes sociais, um áudio do presidente endereçado ao ministro, que comandou a campanha eleitoral e presidiu o PSL no período da disputa. Na gravação, Bolsonaro afirma que tem recomendações médicas para não falar com seus auxiliares e deseja “sorte” ao subordinado.

O filho do presidente postou a gravação no começo da tarde, enquanto o pai voava de São Paulo a Brasília, para mostrar a seus seguidores que o ministro teria mentido ao dizer ao GLOBO que havia conversado três vezes com Bolsonaro no dia anterior.

O gesto do filho do presidente desagradou a ala militar do Planalto, que viu no entrevero um desgaste desnecessário para o governo.

Para rebater rumores de que estaria enfraquecido no cargo, Bebianno disse que tinha conversado com Bolsonaro na terça-feira . Isso aconteceu após a “Folha de S.Paulo” noticiar que o PSL fez repasses de dinheiro do fundo público para candidatos em Minas e Pernambuco. O dinheiro teria sido direcionado para candidatas que apenas cumpriam a cota de 30% de mulheres. Uma gráfica que recebeu parte dos recursos também tem atuação suspeita, de acordo com a reportagem.

Pernambuco é o reduto eleitoral do atual presidente do PSL, Luciano Bivar, que se licenciou do comando da legenda durante a eleição. A vaga foi ocupada, interinamente, por Bebianno, que também coordenou a campanha de Bolsonaro.

À GloboNews, Bebianno negou as acusações.

— É humanamente impossível, de Brasília, saber se um candidato tem condições de eleições ou não. Quem monta a chapa são as executivas estaduais — disse Bebianno, referindo-se ao diretório de Pernambuco, comandado por Bivar.

Na entrevista à Record, Bolsonaro afirmou que não falou com Bebianno:

— Em nenhum momento conversei com ele.

Disputa aberta

O Palácio do Planalto não se pronunciou oficialmente sobre o caso. No começo da noite, porém, o próprio Bolsonaro replicou, em uma rede so- cial, a polêmica mensagem do filho, num gesto que foi interpretado como aval a Carlos contra o ministro.

Desafeto declarado de Bebianno desde que ele se tornou o homem forte da campanha, Carlos tem atuado para convencer o pai a reduzir os poderes do ministro. Na última semana, o filho do presidente teria ficado irritado com a exposição de Bebianno na imprensa e resolvido agir. “Ontem estive 24 horas do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano (sic) que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pelo GLOBO e retransmitido pelo Antagonista”, escreveu o vereador em uma rede social.

Minutos depois, Carlos fez uma nova postagem e divulgou um áudio que supostamente teria sido enviado pelo presidente a Bebianno: “Não há roupa suja a ser lavada! Apenas a verdade: Bolsonaro não tratou com Bebiano (sic) o assunto exposto pelo O GLOBO”. Na mensagem de voz, Bolsonaro se recusa a falar com o ministro.

Integrantes da ala militar do governo criticaram, internamente, a condução da crise e a influência de Carlos no Planalto. O presidente foi criticado por endossar a briga ao replicar as mensagens do filho.

O ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, saiu em defesa de Bebianno:

—O ministro Gustavo Bebianno é uma pessoa super dedicada ao projeto, é um homem sério, responsável, correto. Acho que essas coisas são naturais em um processo que está iniciando.

“Não existe crise nenhuma. Só hoje falei 3 vezes com o presidente”

Gustavo Bebianno, na noite de terça-feira

“É uma mentira absoluta de Bebianno que ontem teria falado 3 vezes com Bolsonaro”

Carlos Bolsonaro, filho mais próximo do presidente

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Em ritmo reduzido, rotina no governo é retomada

Carolina Brígido

Cristiane Agostine

Silvia Amorim

14/02/2019

 

 

Eduardo Bolsonaro disse que pai precisa de cuidados porque seu sistema imunológico não está totalmente recuperado

O presidente Jair Bolsonaro deve voltar ao trabalho hoje priorizando a reforma da Previdência, segundo o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). O parlamentar disse que o pai deve adotar inicialmente um ritmo reduzido e ter contato com poucas pessoas, por conta da atual fragilidade de seu sistema imunológico.

— Acredito que, a partir de amanhã (hoje), ele volte a despachar, a receber ministros, mas não numa rotina normal de trabalho, algo mais reduzido, que não demande esforço e não demande tanto contato com outras pessoas. Até porque existe o risco de ele pegar, por exemplo, H1N1, e a gente sabe que o sistema imunológico dele não está ainda 100%, por ter sido uma cirurgia invasiva — disse Eduardo.

Questionado se a prioridade será a reforma da Previdência, o parlamentar respondeu, bem-humorado:

— Vocês acabaram de responder a pergunta. O presidente é consultado à medida que são feitas as tratativas. O Paulo Guedes (Economia) é o ministro que vai comandar a reforma da Previdência, mas vai passar pela pitada do Jair Bolsonaro.

Eduardo disse que o pai vai continuar recebendo visitas de médicos até se recuperar totalmente. Para o deputado, vai ser difícil manter o presidente em repouso:

—Eu estava coma suspeita de que os médicos estavam segurando e leno hospital porque sabiam que, quando liberassem ele para vira Brasília, ele ia querer voltar à rotina normal de trabalho. É complica doli darcom ele, eleéteim os o,éwork ah olic,m as agente vai trabal harpa raque ele mantenha as condições médicas.

Bolsonaro chegou por volta das 14h30 de ontem a Brasília, depois de receber alta do Hospital Albert Eintein, em São Paulo. Ele ficou internado 17 dias para retirar abolsa de colostomia que usava desde setembro e fazer o religamento do sistema intestinal.