Correio braziliense, n. 20292 , 11/12/2018. Política, p.2

Bolsonaro é diplomado e apela à conciliação

Renato Souza

Simone Kafruni

Denise Rothenburg

 

 

A complexidade dos desafios que tem pela frente, tanto em assuntos relacionados ao cargo de chefe do Executivo, quanto da articulação política necessária para garantir a governabilidade, fez com que o presidente eleito, Jair Bolsonaro, construísse um discurso recheado de defesas em nome da união entre os brasileiros. E fixou os objetivos que pretende seguir assim que tomar posse, em janeiro. Em uma cerimônia com mais de 700 convidados, lotada por autoridades dos Três Poderes, Bolsonaro e seu vice, general Hamilton Mourão, foram diplomados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A medida é necessária para que eles estejam aptos a assumirem o cargo.

Mourão foi o primeiro a receber o diploma, mas não discursou. Em seguida, ao lado da presidente da Corte, ministra Rosa Weber, Bolsonaro falou para o contingente que o elegeu e também para quem não o apoiou. “Agradeço, especialmente, aos mais de 57 milhões de brasileiros que me honraram com o seu voto. Aos que não me apoiaram, peço a sua confiança para construirmos juntos um futuro melhor para o nosso país”, disse. O presidente eleito defendeu um país onde todos sejam tratados de forma igual, sem que ocorra diferenciação nas ações do Estado em relação aos aspectos pessoais. “A partir de 1º de janeiro, serei o presidente de 210 milhões de brasileiros. Governarei em benefício de todos, sem distinção de origem social, raça, sexo, cor, idade ou religião”, completou.

A expectativa sobre o discurso no TSE era grande, uma vez que, durante a campanha, Bolsonaro questionou mais de uma vez a segurança do sistema de votação e a legitimidade da urna eletrônica. O presidente eleito preferiu apelar à conciliação: exaltou a integridade do pleito e agradeceu à Justiça Eleitoral pela organização do ato. “Senhora ministra Rosa Weber, senhores ministros do TSE, senhoras e senhores, que esse trabalho coletivo que garantiu a legitimidade do processo eleitoral seja um exemplo da união em prol do Brasil. Com o apoio e o engajamento de todos, vamos resgatar o orgulho de ser brasileiro. Vamos resgatar o orgulho pelas cores da nossa bandeira e pela força do nosso hino”, ressaltou.

Bolsonaro saiu vencedor das eleições realizando uma campanha com base na difusão de propostas por meio das redes sociais. Com apenas oito segundos de tevê no primeiro turno, e impedido de sair às ruas para o corpo a corpo com o eleitorado em razão da facada que levou em Juiz de Fora, em 6 de setembro, o presidente eleito usou a internet para transmitir seu plano de governo para os brasileiros. Durante a cerimônia no TSE, ele disse que o resultado do pleito revela que o “poder popular não precisa mais de intermediação”.

De acordo com o presidente eleito, as novas formas de comunicação permitem que o cidadão participe diretamente das decisões do governo, e possa expressar suas necessidades diretamente aos candidatos e eleitos. “O poder popular não precisa mais de intermediação. As novas tecnologias permitiram uma relação direta entre o eleitor e seus representantes. Nesse novo ambiente, a crença na liberdade é a melhor garantia de respeito aos altos ideais que balizam nossa Constituição”, afirmou.

 

Discussões

As recentes discussões entre integrantes do PSL, partido de Bolsonaro, dominaram os debates na plateia. O futuro ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, afirmou que a briga entre os integrantes da sigla é extremamente negativa. Ele criticou os conflitos internos da legenda, que ocorreram principalmente por meio do Twitter e WhatsApp. Os filhos de futuro chefe do Executivo protagonizaram discussões acaloradas com parlamentares da próxima legislatura, como com o deputado federal Julian Lemos.

Para Bebiano, a maioria dos parlamentares do partido foram eleitos por conta do efeito Bolsonaro, e devem focar em assuntos que são de interesse do país. “Acho que o partido tem que estar unido. Precisa haver uma conscientização por parte da cada um. Se não fosse a onda Bolsonaro, a maioria não teria se elegido. Estão começando uma vida nova. Brasília é um ambiente inóspito. Pato novo não mergulha fundo”, disse.