O globo, n. 31209, 17/01/2019. País, p. 9

 

Indígenas denunciam invasão de terras no Maranhão

Míriam Leitão

17/01/2019

 

 

Fazendeiros já se instalam na região da tribo Awá Guajá, onde houve retirada de ocupantes ilegais em 2014

A Terra Indígena dos Awá Guajá, na qual houve a desintrusão (retirada de ocupantes ilegais) em 2014, está sendo novamente invadida. Há fazendeiros já instalados, árvores foram derrubadas e rebanhos estão pastando por lá.

Nas últimas horas mantive vários contatos com uma liderança indígena no Maranhão na terra ao lado de onde estive em 2013 fazendo uma reportagem para O GLOBO junto com o fotógrafo Sebastião Salgado. Falei também com outras pessoas da área.

Os Awá Guajá são definidos pela Funai como “de recente contato”. A maioria só fala Guajá. Antonio Guajajara, da Terra Caru, falou que eles estão correndo extremo perigo. Existem também, desse mesmo povo, alguns grupos isolados, ou seja, os que recusam contato.

No Maranhão, os remanescentes de Floresta Amazônica estão em três terras indígenas: Awá Guajá, na qual fiz a reportagem, Caru, onde vivem os Guajajara e onde tem mais duas aldeias de Awá e a TI Alto Turiaçu onde vivem os Ka’apor.

Guardiões

Os Guajajara, depois da desintrusão, formaram dois grupos de vigilantes: os Guardiões da Floresta, e as Guerreiras da Floresta, para fiscalização e conscientização da importância da preservação.

Neste fim de semana foram feitas reuniões de grileiros para planejar novas invasões, segundo informação que eu consegui com moradores da região.

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‘É preocupante para nós’

Antonio Wilson Guajajara

17/01/2019

 

 

Estão jogando veneno por cima da floresta para matar o mato e criar capim

A gente vem acompanhando as ameaças que estão surgindo sob reaterra indígena Awá Guajá. Na verdade, são três terras coladas uma a outra: aterra indígena Caru, aterraindí gena Awá Guajá e aterra indígena Alto Turiaçu, dos indígenas Ka’apor.

Agente está vendo aterra dos Awá ser invadida pelos não-indígenas, pelos antigos invasores que moravam nela. Agora, essa nova possibilidade de o governo liberar as terras indígenas faz com que eles achem que está tudo já permitido. Aí, estão se manifestando para querer invadir.

Aqui, agente trabalha de maneira organizada. Sabemos que as únicas terras em que existem mata no Maranhão são Caru, Alto Turiaçú e Awá Guajá. Foi formado desde 2014 o grupo de Guardiões da Floresta, no qual a gente faz a vigilância. É para que essas pessoas não possam entrar. Aqui, na terra Caru, agente trabalha para isso: defendera floresta de uma maneira educada, pacífica e sem violência.

Já fizemos várias capacitações e sabemos também que onos sode verde protegera floresta é muito importante porque aqui na terra também tem os Awá, que nunca tiveram contato com ninguém.

A gente vem vendo resultado, trabalhando juntos, mostrando ao invasor que não queremos entrar em conflito, que estamos dispostos a conversar, fazendo com que eles entendam que aterraénossa,é indígena. E também aqui, quando foi formado o grupo de guardiões da floresta, foi formado também o grupo das guerreiras, de mulheres, de Guerreiras da Floresta, como chamamos aqui.

O trabalho delas é fazer reunião com os povoados, nas cidades, informando a importância da floresta, dos rios, de todos animais, e também que tem indígena dentro da terra que não se deve ter contato.

Ilha

A nossa terra indígena Caru é de 172 mil hectares, só floresta. Sabemos que quem vai sofrer mais ainda são os próprios Awá, que não estão entendendo nada do que está acontecendo. Estamos rodeados de povoados. É tipo uma ilha, tem dois rios. Existe também bastante invasão.

A gente não vê outra coisa a não ser pasto, a criação de gado é grande. Agora, estão jogando veneno por cima da floresta para matar o mato e criar capim. Fazer com que a pastagem aumente.

O que nos resta é unir forças. Precisamos de muito apoio para que possamos reflorestar o que foi destruído e proteger também, ao mesmo tempo, juntos, as três terras. A invasão aumentou. A extração de madeira, também. Tem alguns fazendeiros dentro, morando. E eles usam também fogo quando é tempo de seca. Saem queimando tudo. Isso é bastante preocupante para nós. Estamos apreensivos com o futuro das nossas vidas.