O globo, n. 31214, 22/01/2019. País, p. 6

 

Após cirurgia, Bolsonaro vai despachar em hospital de SP

Jussara Soares

22/01/2019

 

 

Ministros vão viajar para fazer reuniões com o presidente no Albert Einstein, onde ele vai retirar a bolsa de colostomia

O presidente Jair Bolsonaro montará um gabinete especial no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo, para continuar despachando com sua equipe mesmo durante a recuperação da cirurgia para a retirada da bolsa de colostomia. O procedimento está marcado para a próxima segunda-feira e a previsão é que o presidente precise ficar dez dias no hospital. A informação é do portavoz da Presidência, Otávio Rêgo Barros.

Os ministros deverão ir a São Paulo para despachar pessoalmente com o presidente. Com isso, o vice-presidente, Hamilton Mourão, não deve assumir a Presidência durante a recuperação novamente. Mourão é o chefe do poder Executivo desde domingo à noite, quando Bolsonaro viajou para participar do Fórum Mundial Econômico em Davos, na Suíça.

O presidente tem chegada prevista a Brasília na manhã de sexta-feira. No domingo, ele embarca para São Paulo, onde fazer os exames pré-cirúrgicos.

Bolsonaro será operado pela equipe do cirurgião Antonio Luiz Macedo. Esta será a terceira intervenção cirúrgica a que ele será submetido após ter sofrido um ataque à faca no início de setembro, durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG). O novo procedimento é considerado mais simples que os anteriores.

Enfermeiro 24 horas

Após o ataque, o então candidato foi operado às pressas na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Ele perdeu 40% do sangue e seu estado era considerado grave. No dia seguinte, Bolsonaro foi transferido para o Hospital Albert Einstein, onde passou por uma nova cirurgia para a desobstrução do intestino.

Assim como fará na semana que vem, Bolsonaro já usou o Albert Einstein como escritório político. Durante a campanha, ele gravava vídeos para a internet e participava de discussões estratégias no quarto do hospital.

Desde que teve alta no dia 29 de setembro, o presidente eleito tem o acompanhamento de um enfermeiro em tempo integral. Por três vezes, recebeu em sua casa, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio, a visita dos médicos.

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Criminosos incendeiam até escolas no Ceará

22/01/2019

 

 

Ataques ocorreram em Itarema, no litoral do estado; desde janeiro, já foram 225 ataques

Os ataques criminosos voltaram a crescer no Ceará no vigésimo dia de ações contínuas de criminosos. Entre a noite de domingo e a madrugada de ontem, foram registradas pelo menos cinco ocorrências.

Duas escolas públicas foram incendiadas em Itarema, no Litoral Oeste do estado. Livros, eletrodomésticos e cadeiras foram destruídos. Um ônibus escolar também foi queimado na cidade. Ainda na madrugada, bandidos atearam fogo num caminhão de lixo na cidade de Jaguaruana, no Vale do Jaguaribe. Na noite de domingo, um ônibus também foi destruído no Bairro Mondubim, em Fortaleza. Não há registro de pessoas feridas nesses ataques.

Em São Benedito, seis criminosos atearam fogo e lançaram um coquetel molotov em uma subestação da Enel, distribuidora de energia no Ceará. Conforme a empresa, no local destruído do incêndio funcionava apenas um escritório, e a cidade não foi prejudicada por falta de energia.

Desde o dia 2 de janeiro, quando começaram as ações criminosas, ocorreram 225 ataques contra ônibus, carros, prédios públicos, prefeituras e comércios em 48 dos 184 municípios cearenses. As ações começaram em Fortaleza e se espalharam para a Região Metropolitana e diversas cidades do interior. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará confirmou que 403 pessoas já foram detidas por envolvimento nas ações criminosas.

Para tentar conter os ataques, o governo estadual convocou 1,2 mil policiais militares da reserva para reforçar a segurança nas ruas. O Ministério da Justiça enviou agentes da Força Nacional e reforço da Polícia Rodoviária Federal para o estado. Policiais militares e agentes penitenciários de outros estados brasileiros também foram deslocados ao Ceará após o início dos crimes.

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O vice que queria uma sala no Planalto, mas ficou com o anexo

Karla Gamba

Jussara Soares

Daniel Gullino

22/01/2019

 

 

Mourão tem o primeiro dia como presidente e trabalha sem pompa; ele recebeu o ministro da Defesa e embaixador da Alemanha no Brasil

Por volta de 22h do domingo, o vice-presidente Hamilton Mourão tornou-se o primeiro general do Exército a ocupar a Presidência da República desde o governo de João Figueiredo, que deixou o Planalto há 34 anos, em 1985, na ditadura militar. Eleito como civil na chapa de Jair Bolsonaro, Mourão, que é filiado ao PRTB, foi para a reserva em março do ano passado, mas mantém sólidas relações com a caserna e tem atuado para se mostrar relevante no cargo.

Como vinha afirmando nos últimos dias, Mourão preferiu continuar despachando e cumprindo as reuniões previstas em sua agenda presidencial no seu próprio gabinete de vice, que fica no Anexo 2, distante da pompa do terceiro andar do Palácio do Planalto.

O primeiro compromisso do dia foi uma entrevista ao vivo para uma rádio. Já a primeira reunião foi com o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que, segundo Mourão, foi um “encontro entre amigos”, no qual ele aproveitou para fazer piadas com o ministro pela derrota do Botafogo, time de Azevedo, e vitória do Flamengo, seu time do coração.

Durante o dia Mourão recebeu o porta-voz da Presidência, o também general Rêgo Barros e embaixadores. No principal desses encontros, com o embaixador da Alemanha no Brasil, Georg Witschel, Mourão teria ouvido críticas sobre o governo.

Na saída de reunião, o embaixador afirmou que a administração Bolsonaro precisava “explicar suas intenções”, por exemplo, nas áreas de direitos humanos e mudanças climáticas, para melhorar a reputação. Witschel relatou preocupação de parte da imprensa e sociedade alemã em relação ao governo mas disse que os alemães queriam medir a nova gestão pelos atos e não pelos tuítes e palavras proferidas durante a campanha.

Ao final do dia, quando deixava o Planalto para casa, Mourão afirmou a jornalistas que Bolsonaro tinha “mandado um zap” da Suíça dizendo que estava tudo bem.

—Mandou um zap aí, falando que chegou bem, que estava bem, que chegou bem, que está tudo tranquilo, tudo certo lá —afirmou o presidente em exercício.

A sala dos sonhos

Às vésperas de ser eleito vice-presidente, Hamilton Mourão tinha outros planos. Descartava a ideia de despachar no Anexo 2, o gabinete de todos os vices anteriores, ou ser um “vice-decorativo”, e dizia que estaria dentro do Palácio do Planalto, em sala ao lado do presidente da República, com participação efetiva no governo de Jair Bolsonaro. A realidade, contudo, foi diferente: Mourão ficou, no fim das contas, no Anexo 2, edifício ao lado do Planalto.

—Eu me vejo como um assessor qualificado do presidente, um homem próximo ali, junto dele, dentro do Planalto, ali ao lado dele. Nossas salas serão juntas. Não seremos duas figuras distantes, como já aconteceu, um para o lado e o outro para o outro lado. Aquelas reuniões que ocorrem ali, eu estarei presente —disse Mourão ao GLOBO no dia 25 de outubro, três dias antes do segundo turno.

A sala que o vice almejava permite um acesso direto ao presidente e geralmente é ocupada pelos chefes de gabinete, como Gilberto de Carvalho (no governo do ex-presidente Lula), Giles de Azevedo (Dilma Rousseff ) e Nara de Deus (Michel Temer). Também ficam no Planalto, mas no andar de cima, Casa Civil, Secretaria de Governo, SecretariaGeral e Gabinete de Segurança Institucional (GSI). No organograma de poder palaciano, não escrito, mas sempre lembrado por velhos servidores, ter gabinete dentro do palácio é algo bem diferente de ter sala nos anexos. É uma questão de status.

O anexo em que fica a “VPR” abriga assessorias técnicas, além de terminais bancários e um restaurante estilo bandejão. Além disso, o local era constantemente criticado pelos assessores de Temer por problemas de segurança. Em 2013, por exemplo, no estacionamento da vice, ladrões furtaram duas rodas de um carro que estava a metros da sala de Temer. O carro era justamente de um auxiliar do então vice.

‘Mandou um zap aí (o presidente Bolsonaro), falando que chegou bem, que estava bem, que chegou bem, que está tudo tranquilo, tudo certo lá’

Hamilton Mourão, presidente da República em exercício, ao falar do contato que teve com Bolsonaro enquanto ele chegava para o Fórum Econômico Mundial