O globo, n. 31162, 01/12/2018. País, p. 8

 

Áreas indígenas têm dificuldade de atrair médicos

André de Souza

Renata Mariz

01/12/2018

 

 

Em dois municípios de extrema pobreza e duas comunidades não houve inscrições de profissionais brasileiros para substituir os cubanos que atendiam na região e deixaram o país; há 28 postos de trabalho em aberto

Entre os 27 municípios de extrema pobreza e os nove distritos sanitários especiais indígenas (DSEIs) localizados na Amazônia em que ainda há vagas a serem preenchidas no Mais Médicos, em quatro não houve nenhum profissional interessado até o momento. Desde o lançamento do edital, não foram registradas inscrições para ocupar os 28 postos de trabalho disponíveis nas cidades de Juruá e Jutaí e nos distritos indígenas Médio Rio Purus e Médio Rio Solimões e Afluentes, todos no estado do Amazonas. O DSEI Médio Rio Solimões e Afluentes tem 12 vagas, mas nenhuma foi ocupada até agora. No DSEI Médio Rio Purus, são sete, mas também não há interessados até o momento. Nos municípios de Jutaí e Juruá, há seis e três vagas respectivamente, mas todas seguem vazias. Em outros 25 municípios e sete DSEIs apareceram interessados, mas não em número suficiente para preencher todas as vagas. O distrito sanitário indígena com mais postos de trabalho, por exemplo, é do Alto Rio Solimões. São 27 ao todo, mas só quatro foram preenchidos até agora.

Com a saída dos médicos cubanos que trabalhavam no programa, em razão das divergências entre o governo de Cuba e o presidente eleito, Jair Bolsonaro, o Ministério da Saúde lançou um edital para o preenchimento de 8.517 vagas, das quais 8.185 estão em 2.824 municípios, e 332 foram distribuída em 34 distritos. Segundo a pasta ,8.366 já foram preenchidas, mas 151 continuam à espera de interessados. Considerados todos os 34 distritos, ainda há 83 vagas a serem preenchidas, ou seja, um quarto do total. Nos municípios a situação é um pouco melhor: 68 de 8.185 (menos de 1%), ainda não tiveram interessados. O Ministério da Saúde classifica as cidades em sete faixas. A última delas, em que estão todos os municípios com vagas a serem preenchidas, são as de extrema pobreza.

Médicos já são do SUS

O balanço do Ministério da Saúde, porém, não mostra alguns problemas revelados pelos gestores municipais. Levantamento do Conselho Nacional de Secretários Municipais de Saúde (Conasems) aponta que 2.844 médicos aceitos no programa estão deixando postos em equipes do programa Estratégia Saúde da Família. O presidente do Conasems, Mauro Junqueira, estima que, considerando outras áreas, como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e hospitais, mais de 50% das vagas dos programa foram preenchidas com profissionais que já atendem pelo SUS. Assim, estão apenas trocando seus postos atuais de trabalho por outros, em busca de salários melhores. Outro problema são as desistências.Em Cametá( PA ), o secretário de Saúde, Charles Tocantins, contou que três médicos que se apresentaram acabaram desistindo após perceberem que era preciso percorrer 200 km de estrada de terra ou horas de barco da capital, Belém, até o local. Até quinta feira, apenas 230 dos mais de 8 mil médicos selecionados já haviam começado a trabalhar.