Correio braziliense, n. 20255, 04/11/2018. Política, p. 6

 

Nova cirurgia em dezembro

Murilo Fagundes 

04/11/2018

 

 

Depois de passar por duas cirurgias de emergência em setembro, o presidente eleito Jair Bolsonaro deve ser submetido a uma nova operação no próximo mês. Em entrevista coletiva, Bolsonaro confirmou que, a princípio, o procedimento de fechamento da colostomia será realizado em 12 de dezembro, quando se completam três meses da última cirurgia pela qual passou. Com isso, a agenda de transição deve ter alterações e as viagens internacionais, programadas inicialmente para o Chile e os Estados Unidos, não serão, ainda, compromissos do capitão.

Sob direcionamento do cirurgião Antônio Luiz Macedo, do Hospital Albert Einstein, de São Paulo, a cirurgia de fechamento da colostomia, isto é, da bolsa instalada devido às graves lesões nos intestinos de Bolsonaro, será mais leve e menos complexa, se comparada à primeira intervenção cirúrgica. Considerada de médio porte, a cirurgia começará com um corte na barriga do paciente e, posteriormente, a porção do intestino que está externalizada será puxada novamente para dentro do abdome. Essa parte será costurada ao restante do intestino que ficou na parte interna. Desse modo, o trânsito intestinal normal será reconstruído.

Para o cirurgião e especialista em coloproctologia Rômulo de Almeida, se a cirurgia não tiver complicações, após duas semanas, já será possível que Bolsonaro realize atividades intelectuais e não físicas. “Todo procedimento no intestino é inerente de risco e pode haver infecção, mas é um percentual raro. Correndo tudo bem, em duas semanas, o paciente já consegue retomar a maioria das atividades”, explica.

Caso se confirme a intenção de Jair Bolsonaro realizar a cirurgia de fechamento da colostomia ainda em dezembro, a recuperação deve se estender até o fim do próximo mês. Essa condição coloca em dúvida se o presidente estará completamente recuperado para a posse presidencial, em 1º de janeiro. Quando foi atingido a faca em Juiz de Fora (MG), ele ficou internado por 23 dias. Devido ao período de recuperação, permaneceu fora da campanha nas ruas e dos debates televisivos.

Até agora, a cirurgia impõe sacrifícios. Os compromissos do futuro presidente fora do país, depois de eleito, passaram por uma reavaliação e ainda não foram marcados. É o caso da primeira viagem internacional, ao Chile. “Não marquei (viagem para o Chile), porque tenho problema com a bolsa de colostomia. Nessas viagens muito longas, eu posso ter algum problema. Não quero colocar em risco a minha saúde”, disse, na última quinta-feira, em entrevista coletiva.

Ainda segundo o doutor Rômulo de Almeida, que é professor da Universidade de Brasília (UnB), o paciente não necessariamente precisa reverter a colostomia para prosseguir normalmente suas atividades. “Salvo exceções, é absolutamente possível andar, movimentar-se com a bolsa, e se exercitar. Tenho pacientes com bolsas que são surfistas, maratonistas”, conta. “Passados os 90 dias da primeira cirurgia de colostomia, período que deve ser respeitado, fica a critério do paciente decidir a data ideal para a realização do procedimento de reversão”, acrescenta. Bolsonaro tem indicado que quer ser operado antes de assumir a Presidência.

 

Atentado

Jair Bolsonaro foi vítima de um traumatismo abdominal causado por arma branca. Com hemorragia interna, o, à época, candidato sofreu lesão grave no intestino grosso e perfurações no intestino delgado. Após uma semana, Bolsonaro precisou passar por nova cirurgia devido a uma obstrução do intestino e a um rompimento da sutura da cirurgia anterior, que culminou no vazamento de líquido intestinal na cavidade abdominal.

 

*Estagiário sob supervisão de Odail Figueiredo

 

Frase

"Todo procedimento no intestino é inerente de risco e pode haver infecção, mas é um percentual raro. Correndo tudo bem, em duas semanas o paciente já consegue retomar a maioria das atividades"

Rômulo de Almeida, especialista em coloproctologia e professor da UnB