Correio braziliense, n. 20254, 03/11/2018. Cidades, p. 17

 

Maioria dos derrotados pensa no próximo pleito

Pedro Grigori 

03/11/2018

 

 

O resultado das urnas em 2018 trará grande renovação para o cenário político do Distrito Federal. Ao todo, 23 políticos brasilienses com mandato até dezembro estarão sem cargos eletivos no próximo ano. A conta inclui o governador Rodrigo Rollemberg (PSB), os senadores Cristovam Buarque (PPS) e Hélio José (Pros), sete deputados federais e 13 distritais. Visando futuros pleitos, a maioria pretende continuar com o nome em evidência, seja atuando em pastas do governo local e federal, garantindo influência nos partidos que participam, seja atuando em espaços com visibilidade, como instituições públicas e privadas.

Dos 24 distritais eleitos em 2014, oito se reelegeram e três garantiram um mandato para a Câmara dos Deputados — Celina Leão (PP) e Julio Cesar (PRB) e professor Israel Batista (PV). Dos oito federais do DF, só Erika Kokay (PT) conseguiu ser reeleita. Alberto Fraga (DEM) e Rogério Rosso (PSD) disputaram o Governo do Distrito Federal, mas saíram derrotados. Izalci Lucas (PSDB) garantiu uma vaga no Senado Federal por oito anos.

Entre os senadores, Cristovam Buarque (PPS) tentou o terceiro mandato, mas acabou fora do páreo, sendo o terceiro mais votado — havia duas vagas. Hélio José (Pros) não conseguiu vaga como deputado federal. Rollemberg também não conquistou a reeleição. Perdeu a disputa, no segundo turno, para Ibaneis Rocha (MDB).

 

Indefinições

Dessa lista, o plano mais ambicioso é o de Alberto Fraga, que espera assumir um dos ministérios do governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). Ao Correio, o democrata confirmou que o convite foi feito, mas que ainda não está definido. O empecilho é uma condenação na Justiça, que o deputado federal espera ser resolvido em breve.

Em setembro deste ano, Fraga foi sentenciado a quatro anos, dois meses e 20 dias de prisão em regime semiaberto, além de 14 dias-multa, pela prática do crime de concussão — exigência de vantagem indevida em razão do cargo ocupado. “Estou lutando para que o processo possa ser levado para a segunda instância e tenho plena consciência e convicção de que haverá reforma na sentença”, explicou o deputado.

Fraga diz que, na conversa com Bolsonaro, não foram definidos detalhes do cargo, e que ele está aberto para assumir a pasta “que o presidente precisar”. “Quando conversamos, disse que estaria disposto em ajudar no que fosse preciso, não falei mais nada sobre uma escolha”, afirma o deputado. Pelo Twitter, Bolsonaro afirmou que usaria as redes sociais para anunciar oficialmente os nomes que farão parte do governo, e que “qualquer informação além dessa é mera especulação maldosa e sem credibilidade”.

Rollemberg não definiu o que fará no próximo ano, mas informou que “não deixará de servir a população de Brasília”. No momento, o socialista diz estar focado em concluir o mandato. Já o deputado federal e ex-governador tampão Rogério Rosso se reunirá na próxima semana para definir os futuros planos. O pessedista quer fortalecer o partido no DF e garante que terá como objetivos nos próximos anos “apoiar os servidores, jovens e pequenos empresários”, grupos que tiveram espaço de destaque dentro do plano de governo de Rosso.

Dois fortes nomes da Câmara Legislativa também ficarão de fora do Executivo e do Legislativo pelos próximos quatro anos. Três vezes eleita deputada distrital, Eliana Pedrosa (Pros), que chegou a liderar a corrida pelo Palácio do Buriti neste ano, não tem planos para a vida política. A família da candidata é dona de empresas de prestação de serviços, inclusive com contratos vigentes com o GDF. Eliana quer focar na vida profissional e pessoal, tendo em vista que, nos últimos meses, a ex-distrital garante ter focado toda energia na composição do plano de governo e na campanha ao GDF.

Número dois da chapa de Eliana, Alírio Neto (PTB) também não decidiu qual será seu futuro político. Três vezes eleito deputado distrital, ele garante que o resultado negativo não o afastará da vida pública. “O PTB está fazendo uma avaliação, e em meados de janeiros decidiremos nosso novo projeto”, afirma.

 

Longe do poder

Após 16 anos no Senado Federal, Cristovam Buarque não voltará ao Congresso Nacional em 2019. Ex-governador do DF e ministro da Educação no governo Lula, ele garante que não pensa em disputar uma eleição, nem assumir cargos públicos. “Vou continuar fazendo o que faço, mas fora do Senado. Vou estudar e escrever sobre economia, desenvolvimento sustentável e lutar para que, neste país, a educação seja de qualidade e igual para todos”, comenta.

O senador diz que está voltando a publicar artigos em jornais e que retomará alguns livros que estava escrevendo. “Não deixarei a política totalmente de lado. Vou aproveitar que moro em Brasília para continuar lutando para aprovar alguns dos 109 projetos de lei que deixei, principalmente o da federalização da educação. Já estou conversando com alguns deputados que entram agora, para que os adotem”, conta. Cristovam acrescenta outro desejo: fazer mais cursos de línguas. “Falo português, espanhol, francês e inglês, mas quero continuar aprendendo cada vez mais.”

 

16 anos

Tempo que Cristovam Buarque exerceu os mandatos de senador pelo DF

 

"Minha questão era contribuir neste momento, me coloquei à disposição e não obtive êxito, mas foi uma votação muito recompensadora"

General Paulo Chagas, candidato a governador derrotado

 

Novatos também se articulam

Dos 11 nomes que concorreram ao GDF neste ano, cinco eram novatos na disputa por um cargo eletivo. Um deles, Ibaneis Rocha (MDB), saiu vencedor. Os demais voltaram aos trabalhos que ocupavam, mas garantem que não desistiram da vida política. O herdeiro da rede de lanchonetes Giraffas, Alexandre Guerra (Novo), assegura que continuará na liderança da luta pela renovação política. “Infelizmente, não obtivemos sucesso agora, com a volta das velhas oligarquias ao poder do DF, mas vou continuar lutando por essa mudança pelos próximos anos.”

A partir da experiência de campanha, Guerra deu início ao Clube dos Líderes Empreendedores, que pretende servir de apoio para empresários de todo Brasil. “Vi, na campanha, que existe uma grande quantidade de empreendedores no DF, que dependem apenas deles mesmos para garantir os seus sustentos, mas essas pessoas muitas vezes ficam sozinhas. Nosso grupo trará união e força para aumentar a representatividade da categoria”, explica.

Quarto lugar nas eleições, com mais de 100 mil votos para governador, o general Paulo Chagas (PRP) não tem planos, mas garante que não atuará no governo de Ibaneis. “Minha questão era contribuir neste momento, me coloquei à disposição e não obtive êxito, mas foi uma votação muito recompensadora”, ressalta. Apoiado por Jair Bolsonaro, o general afirma que está à disposição do presidente eleito para assumir um cargo no governo federal, mas diz que o convite ainda não ocorreu.

A professora Fátima Sousa (Psol) estará de volta às salas de aula da Universidade de Brasília. A candidata do PSol destaca que continua à disposição do partido e que dará continuidade a uma série de pesquisas, comparando as práticas dos agentes da saúde na atenção primária. Júlio Miragaya (PT) voltou a atuar na presidência do Conselho Federal de Economia (Cofecon).