Correio braziliense, n. 20261, 10/11/2018. Política, p. 5

 

Presos Joesley e vice-governador

Camilla Venosa e Renato Souza

10/11/2018

 

 

O empresário e o político mineiro são suspeitos de envolvimento em esquema de corrupção. O executivo teria omitido informações e atuado para atrapalhar o trabalho da Polícia Federal

O empresário Joesley Batista, dono da JBS;  o ex-executivo da empresa Ricardo Saud, e o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade, foram presos na Operação Capitu, que apura fraudes no Ministério da Agricultura durante o governo da então presidente Dilma Rousseff. Na ação, desdobramento da Lava-Jato, Joesley e Saud são acusados de omitir fatos na delação premiada e atrapalhar as investigações.

“Os indiciados continuam a ocultar os fatos, muito embora se comportem, aparentemente, como se estivessem colaborando com a Justiça, assinando acordos de colaboração premiada”, destaca um trecho do despacho da desembargadora Mônica Sifuentes, do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1). Foram expedidos 19 mandados de prisão, sendo um deles contra o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, que já está detido em Curitiba.

Ainda segundo a decisão da desembargadora, a omissão dos delatores teve o intuito de definir os rumos das apurações. “Ao que parece, e à primeira vista, na verdade estão direcionando a atividade policial e investigatória para aquilo que lhes interessa revelar, ocultando fatos relevantes para o esclarecimento da atividade criminosa que se instalou no âmbito da administração pública federal”, apontou.

A Polícia Federal, responsável pela operação, pediu a prisão preventiva dos executivos, ou seja, sem prazo determinado para soltura. Mas a desembargadora autorizou a prisão temporária deles. Nesse caso, ficam detidos por cinco dias, período prorrogável por mais cinco.

 

Delações

Joesley Batista e Ricardo Saud tinham fechado acordo de delação premiada na Lava-Jato. Os termos de colaboração foram autorizados pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Porém, no ano passado, a Procuradoria-Geral da República (PRG) pediu a revogação dos acordos, alegando que os executivos ocultaram informações, fato negado pelas defesas. A decisão sobre a validade dos contratos cabe ao STF e não tem prazo para ser anunciada. Com o pedido de rescisão feito pela PGR, a PF entendeu que o acordo de delação não teria mais validade, possibilitando a solicitação de prisão dos investigados.

Em nota, a J&F, dona da JBS, afirmou que “essa operação só existe graças à colaboração dos seus executivos” e que eles levaram “mais de 10 anexos ao conhecimento das autoridades, com os fatos relativos ao Ministério da Agricultura”. A empresa argumentou, ainda, que a prisão gera insegurança jurídica. “Causa um imenso estranhamento e, consequentemente, insegurança jurídica que esses executivos estejam hoje (ontem) sendo presos pelos fatos que eles mesmos levaram ao conhecimento da Justiça.”

O advogado de Joesley, André Callegari, disse que estranha o pedido de prisão e que “ele (empresário) já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração”. Em nota, a defesa afirmou, também, que as suspeitas levantadas pelo delegado Mário Velloso, da PF, não levam em consideração os pontos relatados na delação. “Ao contrário do que informou o delegado ao Judiciário, não houve omissão. Os pontos trazidos pelo delegado nesta sexta feira (ontem) constam em diversos anexos que fazem parte da colaboração de Joesley Batista feita em maio de 2017 com o Ministério Público. A mera leitura dos anexos revela que todos os temas foram abordados na colaboração”.

Já Pierpaolo Bottini, advogado de Ricardo Saud, sustentou, em nota, que o decreto de prisão “causa perplexidade, pois ele (Saud) sempre esteve e permanece à disposição da Justiça, prestando depoimentos e entregando todos os documentos, inclusive áudios necessários para corroborar suas declarações”.