O globo, n. 31175, 14/12/2018. País, p. 8

 

Em SP, prefeito é preso por corrupção na merenda

Tiago Dantas

14/12/2018

 

 

Polícia Federal aponta que Átila Jacomussi teria recebido propina de nove empresas contratadas para fornecer alimentos, além de material escolar e uniformes. Dos 23 vereadores do município paulista, 22 são investigados

A Polícia Federal (PF) prendeu ontem o prefeito de Mauá, Átila Jacomussi (PSB), acusado de receber propina de nove empresas em contratos destinados ao fornecimento de merenda, uniformes e material escolar aos estudantes da cidade da Grande São Paulo. Como parte da operação, policiais federais cumpriram mandados de busca e apreensão nos gabinetes de 22 dos 23 vereadores do município.

Nos últimos meses, investigadores descobriram planilhas que indicariam que a propina era paga a parlamentares de Avante, DC, DEM, PDT, PEN, PPS, PR, PRB, PROS, PRP, PSB, PSDB, PTB e SD. Embora a PF tenha pedido o afastamento dos vereadores, o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF-3) concordou apenas com os mandados de busca, já que a retirada dos políticos de seus cargos poderia acarretar uma “completa situação de ingovernabilidade do município”.

Apenas o vereador Marcelo Oliveira (PT) não foi citado na investigação. Em maio, ele foi o único parlamentar a votar a favor do impeachment do prefeito, que havia passado quase um mês preso por ter sido alvo da primeira fase da Operação Prato Feito, que investigava desvios de verba da merenda em três estados. Na ocasião, a PFencontrouR$85milemdinheiro na casa de Jacomussi.

A operação de ontem é um desdobramento da investigação que começou em maio. Investigadores encontraram documentos na casa do ex-secretário de Governo e Transportes de Mauá João Eduardo Gaspar, que indicavam que políticos do município distribuíam de 10% a 20% do valor dos contratos de nove empresas com a prefeitura. O prefeito receberia uma mesada.

— O dinheiro, esses 20%, entrava no caixa do esquema e depois era distribuído aos vereadores, aos servidores. Tudo indica que era um mensalinho. O dinheiro era um percentual dos contratos que as empresas tinham com a prefeitura — disse o delegado regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF, Marcelo Ivo de Carvalho.

O criminalista Daniel Bialski, que defende Jacomussi, afirmou em nota que o pedido de prisão é “arbitrário” e que “requenta” fatos que já eram conhecidos.