O globo, n. 31168, 07/12/2018. País, p. 7

 

Assessor de Flávio Bolsonaro vira alvo do Coaf

07/12/2018

 

 

Relatório do conselho indica fluxo financeiro atípico em contas de funcionários da Alerj. Segundo jornal, integrante do gabinete do senador eleito faz parte da lista. Michelle, mulher do presidente eleito, teria recebido cheque de R$ 24 mil

O Ministério Público Federal (MPF) confirmou ontem que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ), anexado ao inquérito da Operação Furna da Onça, aponta movimentações financeiras suspeitas de funcionários da Assembleia Legislativa do Estado do Rio (Alerj). Segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, que revelou a existência do documento, o relatório aponta uma movimentação atípica de R$ 1,2 milhão, no intervalo de um ano, na conta de um assessor do deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL), eleito senador.

De acordo com o documento citado pelo jornal, as transações foram informadas ao Coaf porque são “incompatíveis com o patrimônio, a atividade econômica ou ocupação profissional e a capacidade financeira” de Fabrício José Carlos de Queiroz, que foi assessor do gabinete de Flávio Bolsonaro até outubro deste ano, com salário de R$ 8.517. Uma das transações listadas é um cheque de R$ 24 mil destinado à futura primeira-dama, Michelle Bolsonaro, mulher de Jair Bolsonaro. Flávio Bolsonaro é o filho mais velho do presidente eleito.

Em nota, o MPF informou que o relatório do Coaf faz parte da investigação, mas não citou o nome de nenhum funcionário da Alerj que faça parte da lista.

“O Ministério Público Federal (MPF), por intermédio do Núcleo Criminal de Combate à Corrupção (NCCC) do MPF na 2ª Região (RJ/ES), confirma que a documentação anexada aos autos relativos à Operação Furna da Onça inclui relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) sobre movimentações atípicas envolvendo profissionais da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), bem como de outros cidadãos”, diz a nota. O MPF acrescenta que “nem todas as movimentações atípicas são, necessariamente, ilícitas”.

O relatório, segundo o jornal, também cita movimentações de dinheiro em espécie. No período de um ano analisado (janeiro de 2016 a janeiro de 2017), o Coaf identificou R$ 320 mil em saques feitos por Fabrício José Carlos de Queiroz, dos quais R$ 159 mil foram sacados numa agência dentro do prédio da Alerj.

Ao todo, o Coaf rastreou R$ 200 milhões em transações financeiras envolvendo 22 funcionários da Alerj. A análise foi feita a pedido dos procuradores que investigam o esquema de corrupção envolvendo deputados e servidores da Assembleia. No início de novembro, sete parlamentares foram presos sob suspeita de receberem propina — outros três que já estavam presos foram alvos de novos mandados de prisão.

Ao jornal “O Estado de S. Paulo”, Fabrício José Carlos de Queiroz afirmou que desconhecia o assunto. Flávio Bolsonaro disse, em nota, que o assessor trabalhou com ele por mais de dez anos e sempre foi de “confiança”. O deputado acrescentou que “nunca soube de algo que desabonasse sua conduta”. Ele afirmou também que tem “certeza de que ele dará todos os esclarecimentos”.

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Moro promete independência e reforço de pessoal para conselho

Jailton de Carvalho

07/12/2018

 

 

O futuro ministro da Justiça, Sergio Moro, afirmou ontem que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) terá total independência na gestão dele na pasta. Hoje vinculado ao Ministério da Fazenda, o Coaf será transferido para a Justiça. Moro prometeu manter a autonomia do Coaf durante uma reunião com conselheiros da instituição. O encontro se estendeu por mais de uma hora.

— Ele (Moro) disse que não haverá nenhuma ingerência, que o Coaf continuará com independência técnica — disse ao GLOBO um dos conselheiros depois da reunião.

Moro sinalizou que deve aumentar a estrutura do Coaf, formada por técnicos emprestados de outras áreas do governo. Hoje, o conselho tem cerca de 40 funcionários. Para o ex-presidente do órgão Antônio Gustavo Rodrigues, o ideal seria uma equipe com o dobro de técnicos. A partir de janeiro, o Coaf será presidido pelo auditor fiscal Roberto Leonel de Oliveira Lima, chefe do Escritório de Pesquisa e Investigação da 9ª Região Fiscal, a inteligência da Receita Federal no Paraná. Na condição de auditor, ele trabalhou com Moro no caso Banestado e na Operação Lava-Jato.

A ampliação do poder de ação da instituição pode aumentar o número de relatórios sobre movimentação financeira, que hoje dão lastro a operações de combate à corrupção.