O globo, n. 31180, 19/12/2018. País, p. 8

 

Quem tem de falar é o meu ex-assessor, não sou eu’, diz Flávio

Paulo Capelli

19/12/2018

 

 

Senador eleito afirma que seu ‘gabinete não é quartel’, para justificar funcionários com atividades profissionais paralelas

Ao ser diplomado senador para assumir o mandato em 2019, o deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSL) voltou a falar sobre o caso de seu ex-assessor Fabrício Queiroz, citado em relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf ) por ter movimentado R$ 1,2 milhão em um ano. O filho do presidente eleito afirmou que gostaria que Queiroz já tivesse aparecido para dar esclarecimentos públicos — o policial militar está sumido desde que o caso veio a público, mas tem depoimento marcado para hoje no Ministério Público do Rio.

Flávio Bolsonaro disse também que é normal assessores parlamentares terem atividades profissionais paralelas, e refutou as suspeitas de que manteria funcionários fantasmas.

— No meu gabinete todo mundo trabalha. Aqui não é quartel. Nada impede de a pessoa ter uma outra atividade. Em quartel é que se bate ponto — justificou Flávio, afirmando não ter relação com as transações consideradas atípicas. — Quem tem que falar é o meu ex-assessor. Não sou eu. A movimentação atípica é na conta dele. Eu queria que ele já tivesse falado já, mas o que posso fazer? Não cabe a mim dar explicação pelos atos de terceiros.

O deputado estadual voltou a dizer que “não vai passar a mão na cabeça de ninguém”. Logo que o caso veio à tona, porém, Flávio Bolsonaro saiu em defesa de Fabrício Queiroz. No dia seguinte à divulgação de que ele era citado no relatório do Coaf, Flávio afirmou que havia conversado com Queiroz, e que ouvira de seu ex-assessor “uma história plausível” para a movimentação financeira. A explicação dada por Queiroz ao ex-chefe ainda não foi levada a público ou ao Ministério Público.

Questionado sobre a chamada “rachadinha” (esquema de nomeações fraudulentas de funcionários comissionados no qual parte dos salários deles é desviada para deputados estaduais e assessores), o deputado afirmou que não é possível comprovar se esse é o caso.

— Se for isso, é claro que é errado. Mas é isso? Você sabe se é isso? Eu não sei. Eu não posso acusar.

Em São Paulo, Eduardo Bolsonaro foi diplomado deputado federal e também comentou o caso do ex-assessor do irmão. Uma das movimentações na conta de Queiroz foi o pagamento de R$ 24 mil à futura primeira-dama, Michelle. O presidente eleito disse tratar-se de pagamento de parte de uma dívida de R$ 40 mil.

—É difícil a gente falar porque é uma coisa do assessor. Vocês sabem o que o estagiário de vocês está fazendo? — questionou Eduardo. — Acho que a questão não é minha. O assessor tem a vida dele particular, é impossível saber o que ele pagou na conta dele, o que entrou ou saiu da conta dele. Quem vai dizer o que é certo e errado são os órgãos de investigação.