Correio braziliense, n. 20224, 04/10/2018. Cidades, p. 23

 

Enfrentamento direto

Alessandra Azevedo

04/10/2018

 

 

 Recorte capturado

 

 

O penúltimo bloco do debate feito ontem pelo Correio Braziliense, em parceria com a TV Brasília, foi dividido entre dois extremos: acusações fortes e acenos amigáveis, de olho em um segundo turno. Os candidatos, em geral, mantiveram o objetivo de tentar derrubar o líder nas pesquisas de intenção de votos, Ibaneis Rocha (MDB). Embora Eliana Pedrosa (Pros) e o atual governador, Rodrigo Rollemberg (PSB) também tenham sido alvos de fortes críticas — e, inclusive, trocado farpas entre si —, o emedebista foi o mais atacado pelos adversários.

Logo de início, Rogério Rosso (PSD) ficou sem a resposta esperada após perguntar Ibaneis qual é o orçamento previsto para o Distrito Federal em 2019. Em vez de responder com a cifra de R$ 42,5 bilhões, Ibaneis preferiu falar sobre “eficiência tributária” e garantiu que conseguirá aumentar em até R$ 4 bilhões a arrecadação no DF.

Os adversários passaram boa parte do bloco tentando desconstruir as propostas do candidato do MDB. Houve ataques concentrados no correligionário de Michel Temer até em embates entre postulantes de espectros opostos, como Júlio Miragaya (PT) e Alberto Fraga (DEM). “Tem candidato prometendo o céu na Terra. Ibaneis, que está sendo conhecido como ‘Enganeis’, diz que vai gerar 100 mil empregos em seis meses”, debochou o petista. Economista, Miragaya apontou que a proposta “não tem o menor cabimento” e “é mera demagogia”. “Não tem outro nome, é chute. Não tem a menor possibilidade de acontecer”, afirmou.

Fraga entrou na onda e disse que “as propostas do Ibaneis são coisas de outro mundo”. Segundo o candidato do DEM, o líder nas pesquisas “tem muita habilidade com as palavras”, mas a população começou a perceber que as promessas são inviáveis. “Acho que a gente tem que seguir um caminho com relação à busca do emprego, principalmente para os nossos jovens, mas com os pés no chão”, continuou Fraga. Disse que vai conceder empréstimo de R$ 20 mil por meio do BRB para o jovem que quiser se tornar pequeno empresário. “Os milagres, eu deixo para o Ibaneis”, alfinetou.

 

Ataques concentrados

Na tentativa de avançar para o segundo turno, Rollemberg preferiu atacar a candidata do Pros, que está em segundo lugar na disputa, logo à frente dele. Questionou se não haveria um “conflito de interesses entre a candidata Eliana Pedrosa e a dona de empresa Eliana Pedrosa”. Segundo Rollemberg, as empresas da família dela receberam mais de R$ 500 milhões do GDF nos últimos 10 anos, devido a contratos firmados por licitações. “Quando a senhora foi deputada e secretária, no governo Arruda, as suas empresas tiveram aumento de 87% no faturamento”, afirmou o governador.

Pela terceira vez no debate, Eliana precisou se defender. Fez questão de dizer que registrou em cartório o compromisso  de não fazer contratos com o governo durante a gestão, caso seja eleita. Disse ainda que Rollemberg “não sabe fazer contas”. Segundo ela, 70% do valor recebido nos contratos com o governo são para pagar folha de pagamento. “Ainda têm impostos. O resultado líquido da empresa é muito pequeno”, defendeu Eliana.

Com foco em tentar desconstruir a candidata, Rollemberg também apontou que ela teve os bens bloqueados  recentemente pela Justiça do Rio de Janeiro, por suposta participação em “um megaesquema de corrupção” no Detran. Eliana definiu o ataque como “fake news” e “inverdade”. “O senhor, como governador, deveria saber ler o processo para fazer uma acusação”, alfinetou.

 

Entre amigos

Depois de um início mais tenso, houve a rodada de dobradinhas entre os candidatos. Após citar os “muitos acertos” do governo atual, Fátima Sousa (PSol) criticou o modelo de gestão da saúde adotado por Rollemberg, em especial ao transformar o Hospital de Base em Instituto Hospital de Base. “Tenho, inclusive, o sonho que você diga que vai trazer o Hospital de Base de volta para a gestão pública”, confessou. Para ela, se o próximo governo que tomar o mesmo caminho, “está fadado ao fracasso”.

O governador disse que a saúde é o principal problema de “todos os estados brasileiros e de todos os governos anteriores”, e defendeu o modelo do hospital. “Os dados estão aí. O antigo Hospital de Base, em dezembro, fez 531 cirurgias. Em agosto deste ano, foram 918 cirurgias. Tinha 107 leitos fechados que foram reabertos”, pontuou. Ele reconheceu que houve falhas, mas citou como avanços a contratação de médicos especialistas em saúde da família e a inauguração de Unidades Básicas de Saúde.

Fraga também atacou o governo atual e, ao mesmo tempo, levantou a bola para Rogério Rosso (PSD). Em tom amigável, os dois tiveram um momento de nostalgia ao comentar as participações passadas na gestão do DF. A deixa foi a pergunta do candidato do DEM sobre transporte público. Ele lembrou que o ex-governador Agnelo Queiroz (PT) não pagou uma licitação de renovação de frota de ônibus. “O que o senhor acha disso?”, questionou ao colega de Câmara dos Deputados.

Rosso afirmou, rapidamente, que a licitação mencionada pode ser “caso de polícia” e aproveitou os segundos restantes para lembrar os feitos da época em que foi governador, em 2010. “Os empresários de ônibus pediam reajuste de tarifa absurdo. Não dei um centavo”, gabou-se. Fraga recordou os tempos em que comandou de Secretaria de Transportes, no governo Arruda, entre 2007 e 2010. “Eu congelei as passagens a R$ 3 durante três anos. Hoje, a gente sabe que a coisa está correndo solta”, criticou.

 

Compromisso

Na última terça-feira, a mãe de Eliana, Maria Aparecida Passos Pedrosa, sócia majoritária da empresa terceirizada Dinâmica, registrou em cartório um compromisso de não participar de licitações junto ao GDF, caso a candidata seja eleita. Ela também incluiu no documento a rescisão de contratos vigentes. Eliana é constantemente alvo de críticas por ser dona de empresas que prestam serviços terceirizados ao GDF e a outros órgãos públicos nas áreas de conservação, limpeza, segurança, etc.

 

Saúde

O modelo do Instituto Hospital de Base (IHB), que começou a funcionar em janeiro, foi criado para funcionar como Serviço Social Autônomo, em substituição ao Hospital de Base. Com isso, a instituição passa a ser obrigada a cumprir as metas do contrato de gestão. As regras para a assistência aos pacientes não foram modificadas. A criação do instituto foi marcada por uma série de polêmicas judiciais. A criação do instituto foi marcada por uma série de polêmicas judiciais. O estatuto da entidade chegou a ser questionado pela 4ª Vara de Fazenda Pública do DF, que não concordava com alguns artigos e exigiu a proibição de contratações sem licitação e de pessoal sem concurso público.

 

O que eles disseram

“As propostas do Ibaneis realmente são uma coisa de outro mundo. Ele tem muita habilidade com palavras e ele fala umas coisas que acabam convencendo. No início, convenceu. Hoje, a população está vendo que não é bem assim”

Alberto Fraga (DEM)

 

“Com relação ao Rio de Janeiro, é fake news, inverdade. O senhor, como governador, deveria saber ler o processo para fazer uma acusação. (...) É lastimável que o governador faça essas acusações” (para Rollemberg)

Eliana Pedrosa (Pros)

 

“(O governo atual) tem muitos acertos, mas, na saúde, é importante que se diga, que não vai repetir o modelo do Hospital de Base. Tenho o sonho de que você diga que vai trazer o hospital de volta para a gestão pública” (para Rollemberg)

Fátima Sousa (PSol)

 

“Dá para fazer tudo isso que estamos propondo, tudo isso que está no nosso plano de governo. O que não podemos fazer é essa abertura generalizada das divisas do DF, permitir que todas as mercadorias entrem aqui de forma ilegal”

Ibaneis Rocha (MDB)

 

“Tem candidato prometendo o céu na Terra. O candidato Ibaneis, que está sendo conhecido como ‘Enganeis’, diz que vai gerar 100 mil empregos em seis meses. Isso não tem o menor cabimento. No período que a economia crescia, 2011 a 2014, em quatro anos, gerou 120 mil. Ele vai fazer esse milagre”

Júlio Miragaya (PT)

 

“A senhora acha que o juiz ia bloquear os seus bens se não tivesse participação nenhuma da senhora? Quando a senhora foi deputada e secretária, no governo Arruda, as suas empresas tiveram aumento de 87% no faturamento” (para Eliana Pedrosa)

Rodrigo Rollemberg (PSB)

 

“Todos nós temos nossos planos de governo, compromissos e objetivos lastreados na Lei Orçamentária. Nós, que queremos governar o DF, precisamos ter a noção exata do comportamento das finanças”

Rogério Rosso (PSD)