Correio braziliense, n. 20224, 04/10/2018. Cidades, p. 20

 

Começo com temas polêmicos

Ana Viriato 

04/10/2018

 

 

Na reta final da corrida pelo Palácio do Buriti, os sete candidatos convidados ao último debate antes da eleição de domingo precisaram esclarecer, ontem, pontos sensíveis das respectivas campanhas. Declarações polêmicas, desgastes partidários, aliados condenados na Justiça, palanques eleitorais para presidenciáveis que destoam do histórico político: temas controversos pautaram os questionamentos realizados aos concorrentes, no primeiro bloco do confronto direto, pelos jornalistas do Correio.

Na cidade em que, historicamente, prevaleciam azuis e vermelhos, Miragaya do PT permanece estagnado nas pesquisas eleitorais, com de 2% a 3% das intenções de voto. Questionou-se, então, se a má-avaliação da gestão do correligionário Agnelo Queiroz teria influência sob o desempenho aquém do esperado. “A gente não referencia nossa campanha e atividade política em pesquisas. Temos outros nortes. O PT tem uma larga tradição de representação de um segmento social importante para a sociedade brasileira”, afirmou. Designado para comentar a resposta, Rogério Rosso (PSD) declarou que a sigla “passou por um desgaste” nos últimos anos e ouviu de Miragaya que “todos os partidos têm seus prós e contras”.

Em seguida, o Correio perguntou a Alberto Fraga (DEM) se o candidato se considera preconceituoso, pois na semana passada, o democrata sugeriu que a própria condenação por concussão — exigência de vantagem indevida em razão do cargo ocupado — teria relação com o fato de o processo ser julgado “por um ativista LGBTI”. “Só falei que o juiz era um ativista LGBTI. Não disse mais nada. Que eu saiba, isso não é crime. Não há nenhum preconceito”, respondeu, emendando que o processo havia corrido rápido às vésperas da eleição. Responsável por comentar, Ibaneis (MDB) pediu respeito à Justiça: “O poder Judiciário não precisa trabalhar no tempo dos candidatos”.

Na sequência, Rodrigo Rollemberg (PSB) teve de responder se cometeu erros na articulação política e se o rompimento com aliados da campanha de 2014 poderia explicar, em parte, a rejeição à gestão. “Isso aconteceu porque tivemos coragem de tomar as medidas necessárias para equilibrar as contas e que, naquele momento, não foram medidas populares”, alegou, voltando a frisar que “arrumou a casa”. Eliana Pedrosa (Pros) rebateu: “Questiono esse arrumar a casa, pois na LDO votada no 1º semestre, ficou configurado que haveria um deficit de R$ 2 bilhões” Ele afirmou que a informação era mentirosa e que servidores e fornecedores recebem em dia.

Quarto a responder, Ibaneis comentou as acusações de abuso de poder econômico apresentadas pelos adversários. A maioria dos concorrentes questiona os gastos de campanha do emedebista, que declarou à Justiça Eleitoral deter R$ 94 milhões. “Meus gastos estão todos contabilizados e à disposição do TRE”, retrucou. E emendou, ao assegurar que não concorda com a lei que permite o autofinanciamento: “Estou gastando o que é meu, que ganhei com honestidade”. Em contra-argumentação, Fátima Sousa (PSol) partiu para o ataque: “O senhor está mais do que abusando, está subestimando a inteligência da população”.

A Eliana Pedrosa (Pros), o Correio perguntou se a candidata não temia ser julgada com base na frase “diga-me com quem andas, que direi quem tu és”, pois integram seu rol de aliados dois acusados de envolvimento na Caixa de Pandora: Fábio Simão, ex-chefe de gabinete de José Roberto Arruda, e Manoel Neto. A ex-distrital também tem o apoio do ex-distrital Carlos Xavier, condenado a 15 anos de prisão por homicídio. “Dos nomes citados, há, efetivamente, apenas uma na minha campanha, que é o Fábio Simão. O papel que ele tem é de agenda e, portanto, não impacta em nada. Mesmo porque não tem nenhuma condenação”, pontuou. Responsável pelo comentário, Fraga saiu em defesa da adversária: “Pré-condenar, isso sim, é preconceito”.

 

Palanque

Antigo aliado de Dilma Rousseff e líder de uma chapa que se divide entre palanques aos presidenciáveis Geraldo Alckmin (PSDB) e Álvaro Dias (Podemos) — o qual recebeu seu apoio no início da campanha —, Rogério Rosso (PSD) precisou esclarecer a guinada à extrema direita, uma vez que declarou voto em Jair Bolsonaro (PSL). “Votar em Jair Bolsonaro é patriotismo, não oportunismo. Nunca apoiei Dilma e nunca votei no PT”, disse. Ao comentar a resposta do adversário, Rollemberg afirmou ser um dos poucos políticos coerentes do Brasil. Rosso emendou: “Meu primeiro partido foi o MDB, do qual saí quando vi a chance de uma aliança com o PT”.

Em seguida, questionou-se a Fátima Sousa se o fato de o PSol nunca ter elegido um representante na capital decorre de o partido ter nascido “da costela do PT”. “Todos sabem que o PSol foi construído por não acreditar mais no conjunto de propostas do PT. Isso não quer dizer que, com nossas diferenças, não possamos sentar à mesa e dialogar”, rebateu. Miragaya ponderou que os partidos se posicionaram de forma similar em questões polêmicas, como a reforma trabalhista e a PEC do Teto de Gastos.

 

Propina

Na última semana, o juiz Fábio Francisco Esteves, da Vara Criminal e Tribunal do Júri do Núcleo Bandeirante, condenou o deputado federal Alberto Fraga (DEM) a quatro anos e dois meses de prisão em regime semiaberto pela prática do crime de concussão. De acordo com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), o democrata exigiu e recebeu R$ 350 mil em propina para assinar contratos de adesão entre o GDF e uma cooperativa de micro-ônibus em 2008, à época em que comandava a Secretaria de Transporte, na gestão de José Roberto Arruda (PR).

 

Casas

Sete candidatos ao GDF protocolaram no Ministério Público Eleitoral (MPE), ontem, denúncia contra Ibaneis Rocha por abuso de poder econômico. Entre as acusações, está a promessa do candidato de reconstruir casas derrubadas pela Agência de Fiscalização (Agefis) com o próprio dinheiro. Outro ponto destacado pelos concorrentes é o uso de verba na campanha. De acordo com a acusação, Ibaneis teria extrapolado o limite máximo de gastos, que é de R$ 5,6 milhões.

 

O que eles disseram

“Todo e qualquer partido tem seus prós e contras; pontos favoráveis e negativos. É inegável que, na última gestão do PT, a proposta foi recusada, porque ele não passou para o segundo turno. Mas isso não significa uma avaliação totalmente negativa. Houve realizações importantes. A questão do estádio foi muito negativa para o Agnelo, mas acredito que isso já esteja superado”.

Miragaya do PT

 

“Só falei que o juiz era um ativista LGBTI. Não disse mais nada. Que eu saiba, isso não é crime. Não há nenhum preconceito. O que disse que achava estranho era um processo que estava parado há mais de 10 anos, sem nenhuma prova, no fim da fila, receber as alegações finais numa sexta-feira às 14h e ter condenação na segunda-feira”.

Alberto Fraga (DEM)

 

“Isso aconteceu porque nós tivemos coragem de tomar as medidas necessárias para equilibrar as contas e que, naquele momento, não foram medidas populares. Temos, aqui, vários candidatos que estão prometendo um conjunto de coisas e só podem prometer porque nós arrumamos a casa, porque arrumamos as contas do Distrito Federal”.

Rodrigo Rollemberg (PSB)

 

“Fraga e Rosso que estavam no Congresso Nacional para criar as regras que permitiram o autofinanciamento de campanha dentro dos limites. Tendo condições de fazer uso dos meus recursos, estou dentro da lei. Acho até que a legislação está errada, porque deveria permitir somente o financiamento eleitoral, de forma igual para todos”.

Ibaneis (MDB)

 

“Dos nomes citados, há, efetivamente, apenas uma na minha campanha, que é o Fábio Simão. O papel que ele tem é de agenda e, portanto, não impacta em nada. Mesmo porque não tem nenhuma condenação.”

Eliana Pedrosa (Pros)

 

“Votar em Jair Bolsonaro é patriotismo, não oportunismo. Nunca apoiei Dilma e nunca votei no PT. Quando fui eleito, assumi a liderança do meu partido, que fazia parte da base, e fui um dos que mais discordaram da política econômica de Dilma e, também, do governo Michel Temer. Dentro do parlamento, quem mais combateu a nefasta reforma da Previdência fui eu”.

Rogério Rosso (PSD)

 

“Meu partido não é costela do PT. Todos sabem que o PSol foi construído por não acreditar mais no conjunto de propostas que o PT tinha. Isso não quer dizer que, com nossas diferenças, não possamos sentar à mesa e dialogar”.

Fátima Sousa (PSol)