O Estado de São Paulo, n. 45706, 07/12/2018. Política, p. A8

 

Pastora vai assumir Direitos Humanos

Julia Lindner, Larissa Lima e Luisa Marini

07/12/2018

 

 

Bolsonaro confirma Damares Alves no comando do novo ministério, que vai englobar ainda Mulher e F amina; bancada evangélica elogia a escolha

Governo. Ao lado de Onyx Lorenzoni, Damares Alves fala depois de ser confirmada para administrar o novo ministério Críticas •A pessoas próximas, Jair Bolsonaro evita criticar o senador Magno Malta, antigo aliado. Diz que ele poderá ter espaço no governo, desde que não seja para um cargo de influência.

A advogada e pastora Damares Alves foi confirmada ontem como futura ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos no governo Jair Bolsonaro. Em sua primeira entrevista após o anúncio, disse que é contra o aborto e pretende priorizar políticas públicas voltadas ao planejamento familiar e à infância. Afirmou ter uma boa relação com movimentos LGBT e que, se precisar, estará “nas ruas com as travestis” para defendê-las contra a violência.

“Se precisar estarei nas ruas com as travestis, se precisar estarei na porta da escola com as crianças que são discriminadas por sua orientação sexual”, afirmou ela. Sobre o aborto, disse que a “mulher que aborta acreditando que está desengravidando, o aborto não desengravida nenhuma mulher”. “Se a gravidez é um problema que dura só nove meses, o aborto é um problema que caminha a vida inteira com a mulher.”

Segunda mulher nomeada para o futuro ministério que terá 22 pastas, Damares é assessora do senador Magno Malta (PR-ES), excluído do primeiro escalão do governo Bolsonaro . Ao ser questionada sobre o assunto, respondeu: “Ele está feliz e entende que fui convidada por causa do meu trabalho ao longo de anos”. Sua escolha agradou à bancada evangélica, que vinha tentando emplacar nomes em outras pastas, após ter vetado o educador Mozart Neves para a Educação

O ministério também ficará com a Fundação Nacional do Índio (Funai). Atualmente, o órgão está vinculado ao Ministério da Justiça, mas foi cogitado ficar na Agricultura ou na Cidadania. “A minha história de luta com os povos indígenas me qualifica para estar cuidando também da Funai. Índio é gente e precisa ser visto de uma forma como um todo”, disse Damares. Ela assessorou a CPI da Funai em 1991 e tem uma filha índia – adotou a menina aos 6 anos.

O anúncio do destino da Funai foi feito no mesmo dia em que um grupo de índios foi até ao centro de transição, em Brasília, para entregar um documento ao presidente eleito pedindo que mantivesse a Funai na Justiça e as políticas de demarcação de terras. A futura ministra disse que é preciso conversar sobre a demarcação de terras indígenas. O assunto já foi alvo de críticas de Bolsonaro, que prometeu não demarcar mais “nenhum centímetro” caso fosse eleito. “Particularmente, questiono algumas áreas indígenas, mas vamos discutir e sempre integrado com outros ministérios”, disse ela.

Repercussão. O líder da frente parlamentar evangélica, deputado Takayama (PSC-PR), disse que a escolha da pastora foi acertada. “Ela é amada pela frente (evangélica)”, afirmou.

O deputado João Campos (PRB-GO) também elogiou a indicação. Um dos cotados para disputar o comando da Câmara dos Deputados no ano que vem, Campos disse que ela é “qualificada e de espírito público”.

Já o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) considerou uma provocação a escolha de Damares. “Se antes parecia uma ingratidão, agora fica claro que há uma intenção de afrontar o Magno Malta”, disse o parlamentar da frente evangélica na Câmara.

 

Críticas

A pessoas próximas, Jair Bolsonaro evita criticar o senador Magno Malta, antigo aliado. Diz que ele poderá ter espaço no governo, desde que não seja para um cargo de influência.