O globo, n. 31144, 13/11/2018. Economia, p. 19

 

Bolsonaro diz que dificilmente previdência será votada este ano

Luciano Ferreira

Daniel Gullino

Eduardo Bresciani

Mateus Coutinho

Geralda Doca

13/11/2018

 

 

Após conversa com parlamentares, Onyx Lorenzoni também afirma que tendência é que mudanças fiquem para 2019

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, admitiu ontem que a reforma da Previdência dificilmente será votada este ano. Ele informou que vai conversar com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para discutir a questão. Uma reunião com o presidente do Senado, Eunício Oliveira, chegou a ser marcada, mas foi cancelada.

— A gente está achando que dificilmente se aprova no corrente ano. Não é essa reforma que eu quero. Você tem que reformar? Tem. Mas tem que ser de forma racional. Não apenas olhando o número, mas o social também — explicou na entrada do condomínio onde mora no Rio, após sair para ir ao banco.

Já o ministro extraordinário da transição, Onyx Lorenzoni, afirmou em Brasília que há uma tendência de que as mudanças na Previdência fiquem para 2019. Ele disse ter conversado com dezenas de parlamentares sobre o tema e percebido que existem dificuldades para aprovar medidas ainda em 2018. Onyx destacou que mais da metade dos atuais senadores e deputados não se reelegeram, o que seria um obstáculo.

Onyx disse que Bolsonaro ainda vai avaliar a ideia de desmembrar a reforma que já está no Congresso para que algumas das medidas sejam feitas por meio de projeto de lei e não por emenda à Constituição. No entanto, a tendência é que o assunto só seja tratado no ano que vem:

— Todo mundo tem consciência de que seria ótimo conseguir um pequeno avanço que fosse, mas a gente precisa ter clareza de qual é o cenário que existe e tem que ter humildade de saber o que pode e o que não pode.

Aprovação do orçamento

Eunício, por sua vez, disse que o único compromisso dele com Bolsonaro é aprovar o Orçamento de 2019 com as mudanças necessárias para o novo governo. Ele contou que a audiência entre ele e Bolsonaro — marcada para ocorrer hoje às 9h — entrou e saiu da agenda sem explicações. Eunício relatou que o pedido de audiência foi feito por telefone por uma pessoa que se identificou como chefe de gabinete do deputado Bolsonaro, na sexta-feira.

O presidente do Senado contou que confirmou a audiência no mesmo dia, quando já estava em sua fazenda, no município de Alexânia, próximo a Brasília. Ficou acertado que Bolsonaro desceria na Base Aérea de Brasília e iria direto para o Congresso, antes de seguir com a agenda na capital federal.

No dia seguinte, porém, um assessor de Eunício ligou para informar que a audiência tinha sido cancelada, sem explicações. O presidente do Senado disse que estranhou, mas que não cabe a ele a iniciativa de aproximação com Bolsonaro e sua equipe. Segundo ele, o novo governo é que deve procurar o Parlamento para defender seus interesses.

— Posso acelerar ou segurar votações. Mas, até agora, ninguém me procurou. Não sei quais são os projetos de interesse do novo governo, que são importantes para a economia —afirmou Eunício.

Ele contou que pediu ao atual ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a lista de projetos prioritários para a economia. Eunício lembrou que perdeu a eleição, mas que não quer prejudicar o país no fim do mandato.

O presidente eleito negou que tenha desmarcado reuniões:

— Eu falei para a minha assessoria em Brasília que queria visitar a Câmara e o Senado. Daí eles marcaram audiência, e eu não quero audiência, porque eu falo com eles pelo telefone e eles falam comigo. Não precisa de audiência.