O globo, n. 31144, 13/11/2018. País, p. 4

 

Definições a caminho

Amanda Almeida

Daniel Gullino

Eduardo Bresciani

Mateus Coutinho

Luciano Ferreira

13/11/2018

 

 

DEM se credencia a 3º ministério; Onyx diz que Bebianno fica no Planalto

O governo do presidente eleito, Jair Bolsonaro, ganhou ontem mais dois potenciais ministros. Depois de o futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni (DEMRS), ter sinalizado a escolha do advogado Gustavo Bebianno, ex-presidente do PSL, para a Secretaria-Geral da Presidência, o próprio presidente eleito revelou estar analisando a indicação do deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) para a pasta da Saúde.

Se confirmado, Mandetta será o terceiro ministro do DEM e comandará um orçamento estimado em R$ 128 bilhões para 2019. Além de Onyx, considerado o “capitão do time” de Bolsonaro, o presidente eleito anunciou na semana passada a escolha da deputada Tereza Cristina (DEM-MS).

Amigo de Onyx, Mandetta, 53 anos, é médico ortopedista, e tornou-se um dos cotados depois de receber apoio de figuras importantes como o governador eleito de Goiás, Ronaldo Caiado. Ontem, ao falar da possível escolha, já discutida com o superministro da Economia, Paulo Guedes, o presidente eleito disse que umas das prioridades do novo comandante da Saúde será “economizar dinheiro”.

— Tem que tapar os ralos. Queremos facilitar a vida do cidadão e economizar recursos. Não temos como falar em investir mais em saúde porque estamos no limite em todas as áreas — disse, no Rio, o presidente eleito.

Enquanto a indicação de Bebianno — um dos mais próximos conselheiros de Bolsonaro — confirma uma tendência, a citação a Mandetta é um sinal de que o DEM será o grande parceiro do PSL no Planalto. Uma composição que poderá atrapalhar os planos de reeleição do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Líderes partidários da futura base de Bolsonaro poderiam tentar indicar outro nome para o comando da Casa, por considerar que o partido de Maia já fora muito contemplado na Esplanada.

Ao GLOBO, Mandetta disse ontem que não foi procurado por nenhum integrante do gabinete de transição. O deputado demonstrou, no entanto, que estaria disposto a analisar a proposta, caso seja formalizada.

— Sou um parlamentar que milita na frente da Saúde. Tem que sentar com o presidente para ver com ele o que ele está planejando. Mas não há nada de concreto no momento —disse Mandetta.

Colaboração na saúde

Mandetta colaborou com propostas sobre saúde para o programa de Bolsonaro. O presidente eleito chegou a citá-lo no programa Roda Viva, da TV Cultura, antes do primeiro turno. Ao responder sobre mortalidade infantil, Bolsonaro disse que é necessário dar atenção à saúde bucal das grávidas. Fazia referência à atuação de Mandetta como secretário de Saúde de Campo Grande.

Segundo o deputado, ao implantar consultas odontológicas no pré-natal, a prematuridade e a mortalidade infantil caíram no município.

Embora Bolsonaro tenha dito que não pretende se envolver no processo de sucessão da Câmara, seu filho Eduardo Bolsonaro, deputado reeleito, já disse que o presidente espera contar com alguém “alinhado” no comando da Casa. Publicamente, além de não descartar o atual presidente Rodrigo Maia, Bolsonaro elenca outros três nomes: Alceu Moreira (MDB-RS), João Campos (PRB-GO) e Fernando Giacobo (PR-PR).

O Congresso é uma das grandes preocupações do presidente eleito, que reconheceu ontem a dificuldade de encaminhar votações de interesse do futuro governo ainda nesta legislatura.

Bolsonaro retoma hoje uma série de agendas em Brasília, onde pretende encontrar presidentes dos tribunais superiores e retomar contatos com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), com quem marcou audiências e, depois, desmarcou. Ontem, o presidente eleito disse que pretende telefonar para Eunício e Maia para tratar de votações importantes. Ontem, coube a Onyx fazer a sinalização mais direta de aproximação com o Parlamento:

—O governo não pretende intervir nas definições do comando da Câmara, nem do Senado. Todos os governos que forçaram a mão se deram muito mal. A ideia do presidente Bolsonaro é respeitar a repartição dos poderes, a vontade e o desejo da maioria dos parlamentares (...) Fomos à casa do presidente da Câmara, conversamos sobre o cenário atual, sobre o cenário futuro, e apresentamos a ele a condição de poder, vamos dizer assim, avaliar como que nós pretendemos trabalhar com a Câmara.

______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

‘Posso acelerar ou segurar votações’, afirma Eunício

Geralda Doca

13/11/2018

 

 

Presidente do Senado diz que ainda não foi procurado por representantes do novo governo para tratar da pauta do plenário

O presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), disse que o único compromisso dele com o presidente eleito, Jair Bolsonaro, é aprovar o orçamento de 2019 com as mudanças que o novo governo considere necessárias. Ele contou ao GLOBO que a audiência entre ele e Bolsonaro — marcada para ocorrer, hoje, às 9h —entrou e saiu da agenda, sem explicações. O encontro fora acertado na última sexta-feira.

No dia seguinte, porém, um assessor de Eunício ligou para informar que a audiência tinha sido cancelada. O presidente do Senado disse que estranhou, mas que não cabe a ele a inciativa de aproximação com Bolsonaro e sua equipe. Segundo ele, o novo governo é que deve procurar o Parlamento para defender seus interesses.

— Posso acelerar ou segurar votações. Mas até agora ninguém me procurou. Não sei quais são os projetos de interesse do novo governo que são importantes para a economia —afirmou Eunício, acrescentando: — Não quero trazer problema para ninguém e estou disposto a conversar, com quem quer seja, com o Onyx Lorenzoni (ministro extraordinário da transição) ou Bolsonaro.

O senador disse que pediu ao atual ministro da Fazenda, Eduardo Guardia, a lista de projetos prioritários para a economia. Eunício lembrou que perdeu a eleição, mas que não quer “prejudicar” o país no fim do mandato.

Uma fonte próxima a Bolsonaro disse que o motivo do cancelamento foi a votação do aumento dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e as últimas declarações de Eunício de que não se preocupava com o novo governo. E se era para cancelar a audiência com Eunício, teria que fazer o mesmo com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para evitar um mal-estar maior.

Já Eunício disse que se sente injustiçado por estar sendo acusado de ter incluído na pauta do plenário o aumento do Judiciário. Ele sustenta que pautou o assunto porque havia um requerimento de urgência apresentado.

“Não sei quais são os projetos de interesse do novo governo que são importantes para a economia”

Eunício Oliveira, presidente do Senado