O globo, n. 31138, 07/11/2018. Economia, p. 24

 

Petrobras lucra R$ 6,6 bi no 3º tri, mas ações recuam 3,44%

Ramona Ordoñez

Bruno Rosa

07/11/2018

 

 

Analistas esperavam R$ 11 bi, porém ganho da estatal foi reduzido pelo pagamento de R$ 3,5 bi em acordo fechado nos EUA para encerrar investigações de corrupção

A Petrobras registrou lucro líquido de R$ 6,64 bilhões no terceiro trimestre deste ano, impulsionado pela alta do petróleo no mercado internacional e pela depreciação do real. O resultado foi quase 25 vezes maior que o ganho de R$ 266 milhões no mesmo período do ano passado, quando gastos relacionados à adesão a programas de regularização de débitos federais afetaram os ganhos. Ainda assim, ficou abaixo do esperado por analistas de mercado, que projetavam R$ 11 bilhões.

Segundo a estatal, o lucro só não chegou perto das previsões por causa do pagamento de R$ 3,5 bilhões às autoridades americanas, parte do acordo firmado em setembro para encerrar processos abertos pelo Departamento de Justiça dos EUA e pela SEC, o órgão regulador do mercado de capitais do país, para investigar a empresa por causa do esquema de corrupção revelado pela Operação Lava-Jato. Assim, as ações preferenciais e ordinárias (PN e ON) da Petrobras terminaram o dia ontem com queda de 3,44% e 2,58%, respectivamente. O dia foi de queda na Bolsa. Após quatro dias de alta, o Ibovespa, índice de referência, recuou 1,04%, aos 88.668 pontos. Já o dólar comercial subiu 0,85% ante o real, encerrando a R$ 3,759.

— O mercado tinha dados preliminares dos valores relativos aos acordos, mas é sempre difícil mensurar o impacto do câmbio no balanço—avaliou Rafael Passos, analista da Guide, que destacou ainda perdas de R$ 1,89 bilhão com a Eletrobras por fornecimento de combustível. —O resultado foi camuflado por eventos não recorrentes, como o pagamento da segunda parcela do acordo da Ação Coletiva (de acionistas) nos EUA, além dos acordos com o Departamento de Justiça e com a SEC.

Também reduziu o lucro a queda na produção de petróleo, de 6% no ano. Isso ocorreu principalmente por causa da venda de campos de produção e paralisação de plataformas para manutenção. Atualmente, a estatal produz pouco mais de 2 milhões de barris por dia.

Por outro lado, de acordo com o diretor financeiro da Petrobras, Rafael Grisolia, a alta do dólar e do preço do petróleo Brent (referência no mercado internacional, que acumula alta de 39% entre janeiro e setembro) aumentaram as margens de lucro.

A receita alcançou R$ 98,2 bilhões no terceiro trimestre, acima dos R$ 71,8 bilhões do mesmo período do ano passado, puxada principalmente pelos preços mais elevados dos derivados, como diesel, gasolina e gás de cozinha(GLP),embora tenha ocorrido queda no volume de vendas. A Petrobras anunciou nova redução, de 0,74%, do preço da gasolina a partir de hoje, mas elevou anteontem o do GLP em 8,5%.

Defesa da política de preço

O lucro no terceiro trimestre ficou abaixo dos R$ 10,1 bilhões registrados no segundo. Mas, com o terceiro trimestre consecutivo no azul, a estatal acumula, nos primeiros nove meses do ano, lucro de R$ 23,67 bilhões, avanço de 371% ante igual período de 2017. É o melhor resultado para o acumulado entre janeiro e setembro desde 2011. Como resultado de ontem, a Petrobras informou, pelo segundo trimestre consecutivo, que vai distribuir R$ 1,3 bilhão de remuneração a seus acionistas, na forma de Juros sobre Capital Próprio. Com isso, ao todo, a estatal vai pagar R$ 2,6 bilhões em dividendos este ano.

Em tom de despedida, o presidente da Petrobras, Ivan Monteiro, destacou a importância da atual política de preços dos combustíveis, que repassa para o consumidor a variação da cotação internacional do petróleo, para a recuperação da saúde financeira da companhia. Segundo ele, a estatal se esforçará para mostrar a relevância da continuidade dessa política à equipe do novo governo:

—A gente acha que essa política é transparente, dá uma previsibilidade ao mercado. Alterações nessa política têm queserdiscutidase,evidentemente, o novo governo tem toda liberdade de fazer isso.

Alternativa para o Diesel

Em teleconferência com analistas, o diretor Rafael Grisolia revelou que a Petrobras analisa a possibilidade de estender para outros combustíveis, como o óleo diesel, a política de preços adotada há dois meses para a gasolina, que prevê correção de preços para cima ou para baixo a cada 15 dias.

Em setembro, a Petrobras adotou um mecanismo de proteção financeira, conhecido como hedge, que permite à companhia repassar as variações do câmbio e do preço internacional do petróleo a cada 15 dias em vez de aumentos quase diários. O executivo disse que a empresa está avaliando os resultados dessa política:

— Estamos numa curva de aprendizado na questão do hedge na gasolina, e achamos bastante adequada a experiência de períodos de até 15 dias. E continuamos fazendo análise desse mecanismo para outros produtos, incluindo o diesel.

Eventual mudança na metodologia de reajuste do diesel só poderia ser adotada após o fim do atual regime de subvenção ao produto, em 31 de dezembro. Foi criado como parte do acordo que encerrou a greve dos caminhoneiros para reduzir o custo do diesel e acabar com reajustes recorrentes.

Opinião do GLOBO - Retomada

São boas notícias a gradual recuperação das contas da Petrobras, propiciada pela Operação Lava-Jato, e a retomada dos negócios no setor de óleo e gás, com reflexos já visíveis no mercado de trabalho.

Com o preço do petróleo em alta —o barril acima dos US$ 70 —e o calendário de leilões sendo cumprido, as empresas relançam projetos, contratam pessoal e retomam políticas de retenção de funcionários.

Estado e prefeituras serão beneficiários, pela alta de impostos e royalties. Precisam evitar erros do passado e planejar com racionalidade a aplicação desses recursos. Sem desvios ou desperdícios.