O globo, n. 31138, 07/11/2018. País, p. 10

 

Presidente eleito promete mulher no ministério

Eduardo Bresciani

07/11/2018

 

 

Depois de nomear 27 homens para o gabinete de transição, Jair Bolsonaro levou ontem a primeira mulher para a equipe. Após conversa com Michel Temer, ele ironizou pergunta sobre diversidade na Esplanada

Embora não tenha anunciado novos nomes para o ministério, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, afirmou ontem que irá indicar mulheres para o primeiro escalão de seu governo. A ausência feminina na lista de 27 nomeados para o gabinete de transição , divulgada na segunda-feira, chamou a atenção pela falta de variedade de gênero na equipe indicada para receber os dados do atual governo. Bolsonaro foi questionado ontem sobre o fato, e prometeu que haverá participação feminina no ministério.

Também ontem, foi anunciada a primeira mulher a participar do gabinete de transição, a coro neldos Bombeiros do Distrito Federal Márcia Amarílio da Silva Cunha.

Antes de fazer a promessa de nomear uma mulher como ministra, Bolsonaro foi irônico ao ser perguntado se haveria representantes femininas na Esplanada.

— Se vai me perguntar se vai ter algum homossexual, eu não sei (rindo). Nós temos o seguinte: dos cinco que já temos definidos, no caso, vai tirar um desses e vai colocar uma mulher no lugar deles só porque é mulher? Tem 12 vagas em aberto — afirmou Bolsonaro, acrescentando que pretende concluir a montagem do governo até o início de dezembro.

Diante da reiteração da pergunta sobre mulheres no ministério, respondeu:

— Pode ser. Com toda certeza, vai ter.

Ontem, o gabinete de transição, comandado pelo ministro Onyx Lorenzoni, anunciou Márcia Amarílio como sua nova integrante.

Assessora parlamentar do Conselho de Corpos de Bombeiros, ela é especialista em segurança pública e chegou ao time de Bolsonaro por meio de um grupo formado por generais da reserva, comandado por Augusto Heleno, já anunciado pelo presidente eleito como um de seus ministros.

A perspectiva é que, além de Márcia Silva, outras quatro mulheres sejam nomeadas para a equipe de transição ao longo da semana. Pelo menos mais uma delas será militar, mas o nome não foi divulgado. O grupo tem 50 cargos, terá a participação de funcionários de carreira cedidos sem remuneração adicional, além de voluntários. Dos primeiros 27 nomes indicados, sete são militares e seis economistas.

Mais cedo, ao participar de solenidade no Congresso pelos 30 anos da Constituição, Bolsonaro reconheceu que pode decidir não indicar o general Augusto Heleno para o Ministério da Defesa, mas sim para o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI), atualmente ocupado pelo também general Sérgio Etchegoyen. Se o plano se confirmar, o presidente eleito deve buscar outro militar para a vaga na Defesa. E Heleno passa a exercer posto no Palácio do Planalto.

Fusão ameaçada

O presidente eleito fez questão de elogiar diante das câmeras de televisão a experiência do general da reserva Oswaldo Ferreira na área de engenharia. Ele deve ser o ministro da área de Infraestrutura. O nome de Ferreira apareceu também em uma lista divulgada pela equipe de transição dos coordenadores de grupos de trabalho. Todos os demais coordenadores foram confirmados como ministros.

— É um general quatro estrelas, de engenharia. Mas não é porque é um general, é pelo seu conhecimento nessa área. Já construiu muita coisa pelo Brasil, tem conhecimento — disse Bolsonaro, mas sem sacramentar ainda a nomeação.

Bolsonaro disse ainda que tem nomes quase fechados para os ministérios da Agricultura, Meio ambiente, Infraestrutura e Relações Exteriores, o que indica que a ideia de fusão das duas primeiras pastas não vai mesmo acontecer, como chegou a ser anunciado. Segundo Bolsonaro, sem essa fusão, o número total de ministérios pode chegar 17.

“Se perguntar se vai ter algum homossexual, não sei. Ainda há 12 vagas. Com certeza, vai (ter mulheres)”

Jair Bolsonaro

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Partido ‘pequeno’ pediu cargos em troca de apoio, diz Bolsonaro

07/11/2018

 

 

Ainda articulando a formação de seu ministério, o presidente eleito Jair Bolsonaro afirmou ontem que foi procurado por um partido “pequeno” em busca de um posto no primeiro escalão do Executivo federal. Bolsonaro não disse qual sigla lhe fez a proposta, mas garantiu que rejeitou de imediato.

— Um partido aí pequeno que me procurou atrás de um ministério, e imediatamente eu descartei. Fora isso, a ideia é de pessoas técnicas, porque o Brasil está numa situação bastante complicada. A gente não aguenta mais um ou dois anos dessa velha política —disse Bolsonaro.

Ele reafirmou que esse tipo de negociação de apoio por cargos é o modelo da “velha política” que não terá espaço em sua gestão, refazendo a promessa de não lotear cargos entre as siglas que formarão sua base no Congresso.

—Não pretendemos fazer um governo igual aos anteriores. Essa velha forma política de toma lá da cá para obter apoio... A consequência é a ineficiência do Estado e a corrupção.

Ao sair de reunião no Comando da Marinha, Bolsonaro informou que pretende definir todos os ocupantes do primeiro escalão até 2 de dezembro, antes de se submeter à cirurgia para retirada de bolsa de colostomia.

— Estou bem, graças a Deus. Estou com a colostomia... Já está na hora de trocar a fralda. Graças a isso, à colostomia, eu tenho a certeza da equipe médica de que eu estarei bom a partir do dia 2 de dezembro.