O globo, n. 31139, 08/11/2018. Economia, p. 20

 

Previdência: Bolsonaro minimiza pressão de Guedes no Congresso

Geralda Doca

Mateus Coutinho

Karla Gamba

08/11/2018

 

 

Presidente eleito diz que algumas mudanças poderiam ser implementadas via projeto de lei

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, minimizou ontem a expressão utilizada por seu futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, que sugeriu ser necessário dar uma prensa no Congresso para aprovar a reforma da Previdência. Segundo ele, falta experiência política a Guedes, e o termo correto é “convencer”. Bolsonaro afirmou ainda que se empenhará em aprovar a reforma este ano e disse que algumas medidas poderiam ser implementadas via projeto de lei, de aprovação mais fácil.

As mudanças em 2018 podem não mexer na Constituição. Após reunião com o presidente Michel Temer, o governador eleito do Rio, Wilson Witzel, defendeu que a intervenção federal no estado continue até dezembro. Segundo ele, Temer sinalizou que não deve haver votação de proposta de emenda à Constituição este ano.

Bolsonaro vai se reunir com líderes de partidos que defendem projetos de lei que propõem alterar a regra de cálculo do benefício —evitando a aposentadoria pelo valor integral —, mudar o valor da pensão e evitar o acúmulo de benefícios (aposentadoria e pensão). Um projeto de lei complementar poderá alterar as regras das aposentadorias especiais (de portadores de deficiência e trabalhadores expostos a riscos, como os policiais, e a agentes nocivos à saúde).

—Alguns deles me disseram que têm propostas via lei ordinária ou lei complementar,quedá para um avanço. O que nós queremos é votar alguma coisa no corrente ano —disse Bolsonaro.

Votação do que for possível aprovar

Se esse caminho for seguido, o novo governo já poderia entrar o ano com redução de despesas e tentaria aprovar uma proposta de emenda à Constituição para acabar com a aposentadoria por tempo de contribuição no INSS, com a fixação de idade mínima mais elevada para requerer o benefício no setor privado e a criação de um regime de capitalização.

—Não tem prensa, ninguém vai ser movido, ainda mais aqui em Brasília, um parlamentar que tem completa independência, por prensa. Nos vamos é convencê-los — afirmou o presidente eleito.

Para Bolsonaro, Guedes usou a expressão de forma “bem intencionada”:

— Alguns podem querer interpretar de forma equivocada e levar para o outro lado, ninguém vai pressionar um parlamentar, nós vamos é convencê-lo (...). A palavra não é prensa, é convencimento.

Bolsonaro disse ainda que vai se empenhar para que seja votada a proposta de reforma que for possível aprovar no Congresso:

—Obviamente é um desgaste votar a reforma, e eu não vou me furtar desse compromisso. Virei candidato e sabia que teríamos muitos problemas pela frente. Não é só felicidade e lua de mel. O casamento começou bem antes da data marcada, que é 1º de janeiro.

Ontem, integrantes da equipe de transição se reuniram com técnicos do governo para discutir a reforma da Previdência. No primeiro encontro, o secretário de Previdência, Marcelo Caetano, apresentou em detalhes a proposta de reforma do presidente Michel Temer, desde o texto original enviado ao Congresso até o texto final aprovado em comissão especial.

Bolsonaro também se reuniu ontem com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto. Ambos fizeram um breve anúncio, dizendo que projetos de interesse do novo governo serão selecionados para que a atual gestão se esforce em aprová-los nas semanas que ainda restam de 2018. O presidente eleito disse que procurará Temer outras vezes, inclusive após a posse, pois não pode prescindir do conhecimento de quem já ocupou o mais alto posto da administração federal. Temer disse que convidou Bolsonaro para acompanhá-lo na próxima viagem internacional que fará, à Argentina, para a cúpula do G-20.

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Inflação fica em 0,45% em outubro, maior taxa para o mês desde 2015

Gabriel Freitas

08/11/2018

 

 

A inflação de outubro ficou em 0,45%, o que representa uma leve desaceleração na comparação com o mês anterior, quando o percentual foi de 0,48%. O que contribuiu para que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) continuasse elevado foram os grupos de alimentos e de transportes. A taxa é a maior para o mês desde 2015, quando o IPCA foi 0,82%. No acumulado em 12 meses até outubro, o percentual se mantém um pouco acima do centro da meta de 4,5%estipulada pelo Banco Central (BC): 4,56%.

Em alimentos, os produtos que mais subiram foram tomate (51,27%), batata inglesa (13,67%) e frango (1,95%).

Nos transportes, todos os combustíveis tiveram desaceleração. A gasolina foi de 3,94% em setembro para 2,18% em outubro. Mesmo assim, o grupo exerceu forte impacto para a alta do IPCA, já que, junto com alimentos, representa 43% das despesas das famílias, e responde por 70% do IPCA.

Na avaliação de André Braz, coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC) do Ibre/FGV, a tendência é que alimentos e combustíveis recuem.

— Questões climáticas contribuíram para a alta dos alimentos in natura. Quando as chuvas se normalizam, os preços se ajustam. No caso dos combustíveis, a tendência é que eles desacelerem em novembro.

Luis Otávio Leal, economista chefe do banco ABC Brasil, projeta que a inflação vai terminar o ano abaixo do centro da meta:

— Para o próximo mês, os números devem vir bem baixos, influenciados pelas quedas em combustíveis e energia elétrica, que, juntos, são responsáveis por algo em torno de 8% do índice.