O globo, n. 31157, 26/11/2018. País, p. 5

 

Mais Médicos já preencheu 96,6% das vagas

Catarina Alencastro

26/11/2018

 

 

Ministério da Saúde informa que 8.230 médicos foram selecionados para ocupar lugares deixados por cubanos, mas histórico de não comparecimento preocupa; pasta não informa em quais cidades atuarão

O Ministério da Saúde informou ontem que já foram selecionados 8.230 médicos para as vagas abertas no último edital do programa Mais Médicos, lançado há uma semana. O número representa 96,6% do total de 8.517 postos que precisarão ser preenchidos após a saída dos profissionais cubanos do Brasil.

O relatório do ministério mostra 29.780 inscrições, das quais 20.767 são de profissionais com registro válido no Conselho Regional de Medicina (CRM) dos seus estados. Deste total, pouco mais de 8.500 médicos tiveram um destino escolhido. Até o momento, 40 médicos já se apresentaram nas unidades básicas de saúde onde irão trabalhar, segundo o boletim, atualizado até às 17h de ontem.

O relatório do Ministério da Saúde, por outro lado, não informa se os candidatos manifestaram preferência por trabalhar em alguma região do país. Também não detalha se os médicos inscritos já foram notificados de sua aprovação no programa e em qual localidade deverão atuar.

“Com a alta procura e a apresentação imediata do médico ao município, a expectativa é de suprir a ausência do médico cubano com o médico com CRM o mais rápido possível”, afirmou, em nota, o ministro da Saúde, Gilberto Occhi.

As vagas ficaram disponíveis após o anúncio do governo de Cuba de retirar seus profissionais do programa em reação às mudanças planejadas no Mais Médicos pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro. Ele é contra a retenção de parte dos salários dos profissionais cubanos e a favor da obrigatoriedade de passar por um exame de revalidação do diploma obtido no exterior.

O governo cubano decidiu deixar o programa citando “referências diretas, depreciativas e ameaçadoras” feitas por Bolsonaro à presença desses profissionais no Brasil. Até meados de dezembro, cerca de 8 mil cubanos devem embarcar de volta ao país de origem. O primeiro grupo de médicos cubanos embarcou de volta ao país natal na última quarta-feira, em Brasília.

Em 2017, menos médicos

O número elevado de inscrições, por outro lado, não é garantia de que as vagas serão de fato preenchidas. Em 2017, houve uma seleção de brasileiros para o Mais Médicos: eram 2.320 vagas e 6.285 profissionais se inscreveram. No entanto, apenas 1.626 médicos compareceram quando foram chamados para os postos.

Desde o início do programa, o governo abre editais para preenchimento de vagas por profissionais brasileiros, além de preencher vagas por desistência e encerramentos de contrato. Segundo dados da Confederação Nacional dos Municípios, 1.575 cidades do país possuem somente médicos cubanos no programa.

O prazo para inscrição nas novas vagas do Mais Médicos iria até ontem, mas, na quinta-feira da semana passada, o Ministério da Saúde anunciou a prorrogação até 7 de dezembro. A extensão ocorreu em razão de instabilidade no sistema que, segundo o ministério, foi causada por “ataques cibernéticos”. No momento da abertura das inscrições para o novo edital, o sistema do governo recebeu mais de 1 milhão de acessos simultâneos, número maior que o total de médicos em atuação em todo o país.

De acordo com o edital, são 8.517 vagas para atuação em 2.824 municípios e 34 distritos indígenas que antes eram ocupadas por médicos cubanos. Até o dia 14 de dezembro, os médicos aprovados deverão entregar os documentos exigidos nos municípios onde irão trabalhar.

Os profissionais do Mais Médicos recebem bolsaformação no valor de R$ 11,8 mil e uma ajuda de custo inicial entre R$ 10 e R$ 30 mil para deslocamento para o município de atuação. Além disso, todos têm a moradia e a alimentação custeadas pelas prefeituras das cidades onde foram alocados.