O globo, n. 31110, 10/10/2018. País, p. 4

 

Entrevista - Gustavo Bebianno: Ministério terá 'quatro ou cinco' Generais

Gustavo Bebianno

Jussara Soares

Marco Grillo

10/10/2018

 

 

Gustavo Bebianno / PRESIDENTE DO PSL

Líder do partido que fez 52 deputados adianta que eventual governo Bolsonaro terá militares na Esplanada e que estratégia no 2º turno é ‘triplicar’ discurso antipetista

Um dos principais conselheiros de Jair Bolsonaro, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, afirmou que o presidenciável terá “quatro ou cinco” generais nos 15 ministérios que vão compor a estrutura de seu governo em caso de vitória no segundo turno. Bebianno recebeu O GLOBO na casa do empresário Paulo Marinho, eleito suplente de senador na chapa de Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). O local, na Zona Sul do Rio, se transformou em ponto de encontro de integrantes da campanha e em estúdio de gravação dos programas para o horário eleitoral da televisão. Bebianno conta ainda que Bolsonaro não deve participar de atos de campanha de candidatos a governador que estão disputando o segundo turno e insiste em pôr em dúvida a confiabilidade das urnas eletrônicas, garantida pelo TSE.

Qual é a estratégia no segundo turno?

Do outro lado, temos uma quadrilha criminosa que assaltou o Brasil. Vamos lembrar a população brasileira quem é o PT e os riscos que o partido impõe à democracia. O Jair Bolsonaro está há 30 anos na vida pública sendo eleito da forma correta. Ele prova mais uma vez agora seu potencial dentro do universo democrático. Em momento algum, ele acenou com qualquer tipo de ruptura futura.

Quando o general Mourão cita a possibilidade de autogolpe, não é uma ruptura?

Fazendo um exercício mental, o general Mourão desenvolveu uma tese analisando o caos a que o Brasil chegou. Falando em tese, ele foi infeliz, porque foi mal interpretado. Em momento algum, isso foi cogitado.

Como vão negociar os apoios?

Todo apoio será feito de forma suprapartidária, com quem tenhamos um mínimo de afinidade ideológica.

Que apoios já vieram?

Temos recebido diversos acenos, como do João Doria, que declarou que apoiará Jair Bolsonaro. Todo apoio é bem-vindo. Agora é o Brasil contra o PT. É o verde e amarelo contra o vermelho. É o vermelho da corrupção, do aparelhamento do Estado, da ineficiência, do desfazimento da família brasileira. Do outro lado, o verde e amarelo, as nossas riquezas, um país livre como sempre foi.

Vão dobrar a aposta no antipetismo? Na televisão, redes sociais e discursos?

Triplicar a aposta, com tudo junto. Teremos igualdade de tempo de TV.

O Bolsonaro vai subir em algum palanque pelos estados?

Acredito que não, até por conta do próprio estado físico. Nossa recomendação, por questões de segurança e saúde, é que ele se exponha o mínimo possível. Ele sofreu um atentado político e ouso dizer que haverá outros.

É um receio ou há ameaça concreta?

Até um tempo atrás, era receio. Antes da facada, alguns alertas e informes chegavam. Agora existem outras ameaças e informes. Nossa atenção é máxima.

Com essa preocupação, qual é a chance de ele ir às ruas no segundo turno?

Se depender dele, amanhã já está nas ruas. O Jair é a pessoa mais corajosa com quem eu já tive a oportunidade de conviver. É um homem que não foge de colocar em risco a própria vida.

Além do Paulo Guedes na Fazenda, que outros nomes estão certos nos ministérios?

O (deputado) Onyx (Lorenzoni) será o chefe da Casa Civil. Um general para a Defesa, possivelmente o general (Augusto) Heleno ou quem ele indicar. Estamos falando de um general também para a infraestrutura.

Ele falou em 15 ministérios. Quantos generais?

A escolha não é por ser ou não das Forças Armadas, mas pela competência e desenvoltura que o capitão imagina que a pessoa vá ter. Pelo desenho de hoje, são uns quatro ou cinco (generais).

Com um presidente capitão e vários generais, quanto o eventual governo será militar e quanto será civil?

Será, acima de tudo, um governo democrático, comprometido com a Constituição, as instituições e o equilíbrio de forças.

Vão procurar o Alckmin?

Não vamos procurar ninguém. Até por que o Geraldo Alckmin vendeu a própria alma. Ele sentou-se com o que há de pior na política. O PR nos procurou insistentemente. O PR é constituído de animais políticos muito experientes, que já tinham enxergado o fenômeno que ia acontecer. Ofereceram fundo partidário, tempo de TV, mas o Jair queria o Magno Malta como vice. Quando ele (Malta) decidiu que não viria mais, o Valdemar (Costa Neto) sentou conosco e abriu uma listinha para dizer o que queria. O Jair sorriu, apertou a mão dele e disse: “Não temos o que conversar.” Ele (Valdemar) ficou possesso.

E se o Alckmin ligar?

Aí vamos conversar. A última palavra é sempre do Jair.

O PSL pôs em dúvida o resultado da eleição presidencial, mas nunca teve um desempenho eleitoral tão expressivo. Não é incoerente questionar só um resultado?

Não tem incoerência nenhuma. Essa avalanche de votos poderia ter ido um pouco mais além. Esse é um ponto de interrogação. O Brasil não pode continuar com este tipo de dúvida por parte de ninguém. O processo eleitoral precisa ter a garantia de transparência e ser passível de checagem.

Mas são vocês que colocam em dúvida.

Há denúncias que foram feitas com registro de ocorrência, houve vários casos em que a polícia foi chamada. Estamos compilando todas as informações e, evidentemente, aquilo que parecer bobagem, vamos deixar de lado.

Um eleitor do PT foi assassinado em Salvador em uma discussão política. Vão se posicionar?

É muito triste a situação do Brasil, que vive esse tipo de clima. Mas quem vem colocando gasolina no incêndio? É o PT. A vida humana é o bem mais precioso que podemos ter. É um absurdo esse tipo de fato, da mesma forma que Jair Bolsonaro foi vítima de um atentado politico e à democracia. Lamentamos essa vítima (de Salvador), como lamentamos os mais de 60 mil homicídios que todo ano há no Brasil.

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À la Collor, Bolsonaro promete acabar com 'marajás'

Jussara Soares

10/10/2018

 

 

Candidato do PSL também critica reforma da Previdência proposta pelo governo Temer, mas diz que vai procurar presidente

O candidato a presidente do PSL, Jair Bolsonaro, ressuscitou ontem o mote de Fernando Collor na campanha pela disputa pelo Planalto em 1989 e prometeu “acabar com a farra dos marajás”. A declaração do capitão do exército é sobre a sua proposta de eliminar a incorporação de salários de cargos comissionados para o funcionalismo público. Seria uma das medidas para uma reforma da Previdência a ser apresentada em seu eventual governo:

— Tem muitos locais no Brasil em que o servidor público tem um salário X e tem um cargo em comissão. Depois de oito a dez anos, ele incorpora o salário. E depois de oito ou dez, ele incorpora de novo. Vamos acabar com essa farra de marajás.

Bolsonaro afirmou que, se eleito, vai procurar a equipe do governo Michel Temer responsável pela reforma da Previdência para apresentar a sua proposta. Seria, diz, “um grande passo”.

— Não podemos é passar para o ano que vem sem fazer a reforma da previdêndeputado cia — disse Bolsonaro, acrescentando que apresentará uma ideia com aceitação do Parlamento. — A proposta do Temer como está, se bem que ela mudou dia após dia, dificilmente será aprovada.

Mais cedo, o coordenador da campanha de Bolsonaro, Onyx Lorenzoni, descartou apoio à votação, ainda em 2018, da reforma proposta por Temer, chamada por ele de “porcaria”:

—Se ele ganhar a eleição no dia 28, e nós acreditamos que ele vai ganhar, nós vamos tratar deste assunto no dia 1º de janeiro de 2019, nem um dia antes. Daqui até o dia 28 (de outubro) não tem conversa nenhuma. Após o dia 28, começa a transição, aí não sei. Mas, no núcleo mais próximo do Jair, ninguém quer fazer nada em 2018.