O globo, n. 31120, 20/10/2018. País, p. 10

 

Evangélicos pressionam Paes a apoiar Bolsonaro

Luiz Ernesto Magalhães

20/10/2018

 

 

Tese é que manutenção de neutralidade prejudica campanha do candidato do DEM a governador entre o segmento e favorece o adversário Witzel. Ex-prefeito resiste por temer que declaração de voto desagrade setores da esquerda

Na reta final pela corrida ao governo do estado, líderes evangélicos ligados ao partido de Eduardo Paes, o DEM, defendem que o exprefeito abandone a posição de neutralidade e declare apoio ao candidato a presidente Jair Bolsonaro (PSL). A avaliação é que a medida ajudaria a atrair os votos que faltam para que Paes supere o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) que vem liderando as pesquisas eleitorais. Paes, no entanto, resiste: com bom trânsito na esquerda, ele teme que um apoio a Bolsonaro faça com que esses eleitores que o consideram um “mal menor” em comparação a Witzel, que tem um perfil mais de direita, optem por votar nulo no próximo dia 28. A discussão ocorre justamente num momento em que integrantes da campanha do DEM têm se reunido com militantes de esquerda para tentar movimentar o nome de Paes nas redes sociais.

— O eleitorado evangélico ainda tem uma resistência muito grande a Eduardo Paes porque ele não se define. É preciso um fato novo para sacudir esse eleitor e neutralizar Witzel. A essa altura da eleição, se declarar neutro por causa de uma remota possibilidade de vitória de Fernando Haddad (PT) de nada acrescenta — argumenta o deputado federal Sóstenes Cavalcante (DEM), membro da Assembleia de Deus.

— E discordo da tese de que a esquerda deixaria de votar em Paes. Além de jamais votar em Witzel, o eleitorado de esquerda não esqueceu que quando foi prefeito Paes sempre teve um bom relacionamento como ex-presidente Lula e o PT —diz. Segundo Sóstenes, atese de que Paes tem de aderira Bolsonaro também já foi defendida no partido por outros líderes religiosos, como o pastor Silas Malafaia, da Igreja Vitória em Cristo, também ligada à Assembleia, e seu irmão Samuel Malafaia, reeleito deputado estadual também pelo DEM.

Witzel tem voto evangélico

Ao contrário de Paes, Witzel vem colando sua imagem à de Bolsonaro desde o primeiro turno. Apesar do candidato do PSL ter declarado neutralidade na eleição do Rio, o ex-juiz tem produzido seu material de campanha com o nome do presidenciável. Ontem, no debate da TV Record, Witzel foi com um adesivo de Bolsonaro colado na roupa. Para reforçar seus argumentos, Sóstenes cita a última pesquisa do Ibope/TV Globo/Jornal O GLOBO divulgada na quarta-feira. Segundo o levantamento, o ex-juiz é o mais citado entre os evangélicos (65%). Já as intenções de voto em Paes são mais altas entre os que declaram outra religião que não a católica ou a evangélica (44%). — Independente disso, tento convencer o eleitor. Um dos argumentos que uso é que de fato Paes andou em más companhias no passado como argumenta o ex-juiz. Mas nada ficou provado contra o ex-prefeito. Já o Witzel anda com más companhias no presente. Quem você acha que o eleitor deve escolher? —diz Sóstenes. Paes preferiu não comentar as declarações de Sóstenes. E repassou a responsabilidade da resposta ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM). O deputado lembrou que logo após o fim do primeiro turno, o partido formalizou a decisão de se manter neutro no segundo turno. O que, no entanto, não impediu que vários integrantes do partido fizessem campanha para os candidatos preferidos. Na Bahia, por exemplo, o presidente nacional da legenda, ACM Neto, declarou apoio a Bolsonaro: — Em uma eleição polarizada como essa em um estado como o Rio de Janeiro, que enfrenta dificuldades econômicas, é de extrema importância que a neutralidade seja mantida — argumentou Rodrigo Maia. Na última pesquisa do Ibope, Witzel apareceu com 60% dos votos válidos contra 40% de Paes. Apesar da desvantagem, o clima na campanha ainda é de otimismo. A principal preocupação era que essa diferença chegasse ao fim desta semana superior a 20 pontos, o que na avaliação do comando da campanha tornaria qualquer tentativa de virada quase irreversível.

A aposta de Paes e de outros integrantes da equipe é que o eleitorado de Witzel vá se desidratar ao se tornar conhecido do eleitorado. Na campanha, é lembrado o caso do exprefeito Luiz Paulo Conde que, em 2000, chegou ao segundo turno como franco favorito e perdeu para seu exaliado Cesar Maia.

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No 3º debate em 72h, candidatos mantêm ataques pessoais

Bernardo Mello

20/10/2018

 

 

Em debate realizado pela TV Record, ontem à noite, os candidatos a governador do Rio Eduardo Paes (DEM) e WilsonWitzel(P SC) se concentraramem ataques diretos e usaram relações pessoais do adversário como munição. Ao contrário de encontros anteriores, foram raras as referências à disputa presidencial, entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Este foi o terceiro debate entre Paes eWit zelem um intervalo de72h.Witzel participou desta vez comum adesivo da campanha deBol sonar o— que está neutro na disputa estadual — , mas não citou o presidenciável, em quem já declarou voto. Nas considerações finais, Witzel reiterou o voto em Bolsonaro. Paes, por sua vez, só citou o capitão da reserva ao criticar o Pastor Everaldo, presidente do PSC, atual partido de Witzel. O candidato do DEM disse que Bolsonaro, que foi filiado à legenda entre 2016 e 2018, saiu da sigla porque “não aguentou o Pastor Everaldo”. Paes repetiu a estratégia, usada em debates anteriores, de ass oc iarWitze lao empresário MarioPeix oto—acusado, em delação premiada da LavaJato, de pagar propina a conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Na delação de Jonas Lopes de Carvalho Neto, filho do ex-presidente do TCE, Peixoto é mencionado também como sócio de Jorge Picciani, ex-presidente da Alerj, numa empresa que teria atuação no ramo imobiliário. Picciani foi padrinho de casamento de Peixoto, na Itália, em 2014. Witzel negou que tenha ido ao casamento do empresário, o que foi insinuado por Paes. — Nunca estive na Itália. Meu passaporte está à disposição —declarou o ex-juiz. Witzel também partiu para o ataque e pediu para que Paes explicasse o apelido “Nervosinho”, atribuído a ele nas planilhas da Odebrecht: — Quando vários delatores se referem a mim, é para dizer que jamais o Eduardo Paes pediu qualquer favorecimento pessoal. Nove delatores diferentes em 12 delações fizeram referência a esse meu procedimento. Todos afirmam que não há qualquer relação minha com pedidos pessoais — argumentou Paes. Witzel ensaiou um desagravo ao presidente de seu partido. Ao rebater a declaração de Paes, de que Pastor Everaldo havia sido denunciado na Lava-Jato (o presidente do PSC foi, na verdade, citado em uma delação), Witzel mudou o foco ligando Paes a caciques do MDB que estão presos. — Não tem investigação contra o Pastor Everaldo, ao contrário do (Jorge) Picciani, que está condenado, cumprindo prisão domiciliar. Um apessoa com quem você temo mais íntimo relacionamento —acusou Witzel.