O Estado de São Paulo, n. 45655, 17/10/2018. Política, p. A10

 

Doria dobra aposta no elo com Bolsonaro

Pedro Venceslau, Adriana Ferraz e Fabio Leite

17/10/2018

 

 

Eleições 2018 São Paulo / Candidato tucano ao governo de SP vai explorar ainda mais a imagem do presidenciável do PSL na disputa de 2º turno com Márcio França (PSB)

O ex-prefeito João Doria, candidato do PSDB ao governo de São Paulo, dobrou a aposta no presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e vai explorar ainda mais a imagem do candidato para tentar vencer a disputa no segundo turno. A estratégia dividiu o partido do capitão reformado.

O entorno do tucano ficou apreensivo após Doria viajar ao Rio na semana passada e tentar sem sucesso um encontro com Bolsonaro, que alegou mal-estar. A campanha do governador Márcio França (PSB), que disputa a reeleição, explorou o episódio nas redes sociais.

Segundo um dos estrategistas do ex-prefeito, o planejamento no segundo turno é “surfar o tsunami do capitão” e ao mesmo tempo jogar “baldes de tinta vermelha” em França, que é apresentado como esquerdista e aliado do PT.

Essa tática foi colocada em xeque após o senador eleito Major Olímpio, presidente do PSL em São Paulo, declarar voto em França no mesmo dia que o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, candidato derrotado do MDB ao governo, anunciou apoio ao atual governador.

Aliada de Doria, a jornalista Joice Hasselmann, deputada eleita pelo PSL, convenceu Bolsonaro a gravar um vídeo com uma breve declaração na qual ele deseja “sorte” ao tucano e crítica França. “No tocante ao Doria, quero agradecer o apoio dele. Eu sei que ele é oposição ao PT. Somos oposição ao PT. Eu sei que o outro, o França, tem o apoio do PT”, disse o presidenciável.

O material rapidamente foi transformado em um comercial da campanha tucana, que também usou “depoimentos” de eleitores defendendo a chapa “Bolsodoria”. A ideia, segundo um interlocutor do ex-prefeito,

é usar esse material exaustivamente até o fim da campanha. A avaliação no entorno de Doria é que a declaração “salvou” a campanha.

A estratégia, porém, abriu um racha no PSL paulista. “Achei imoral e antiético o Doria usar

esse vídeo, que só foi feito porque o Bolsonaro foi educado e elegante. O ex-prefeito fez disso uma tábua de salvação”, afirmou Major Olímpio. Segundo o dirigente do PSL, Bolsonaro está neutro em São Paulo, mas a maioria dos dez deputados federais e 15 estaduais eleitos pela sigla apoiam França.

“O João (Doria) é um pouco mais à direita, enquanto o França representa que há de pior na esquerda e tem o PT atrás dele”, disse Joice. Segundo a deputada eleita, o responsável pelo desgaste de Bolsonaro com o PSDB foi Geraldo Alckmin, que o atacou no primeiro turno.

Colaboração. Para rebater a ofensiva de Doria, França divulgou nas redes sociais postagens nas quais lembra que o tucano já elogiou e doou para políticos que hoje chama de “esquerdistas”, como o ex-ministro José Eduardo Martins Cardozo (PT) e a atual candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, Manuela d’Ávila (PCdoB).

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelados pelo Estado em 2016 confirmam a “colaboração” de Doria. Cardoso e Manuela receberam R$ 10 mil de Doria em 2006 e 2010, respectivamente. Neste ano, com o embate direto com França, tanto o PSB como o próprio Skaf, que declarou apoio à reeleição do atual governador, viraram “esquerdistas”, segundo o tucano.

O candidato João Doria confirmou as doações e disse que, como empresário, doou também para partidos como DEM, PSDB, PP e PSD. “Como se observa, nenhuma tendência ideológica ou viés partidário. As doações são compatíveis com o comportamento de um líder empresarial, como era o caso a época”, ressaltou em nota.

Ex-aliado. Gravações que registram Doria elogiando a liderança de Márcio França e declarando apoio irrestrito a ele também passaram a ser veiculadas nos programas eleitorais do PSB – em 2016, o partido de França chegou a doar R$ 25 mil

à campanha do tucano. Dois anos depois, ele agora é classificado como “lobo em pele de cordeiro”.

Na pré-campanha de Doria à Prefeitura em 2016, França foi escalado pelo então governador Geraldo Alckmin para comandar a articulação da formação da coligação do tucano, que conquistou o maior tempo de TV e rádio.

 

Direita

“O João (Doria) é um pouco mais à direita, enquanto o (atual governador Márcio) França representa o que há de pior na esquerda e tem o PT atrás dele.”

Joice Hasselmann, DEPUTADA FEDERAL ELEITA PELO PSL DE SÃO PAULO

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Defesa do presidente afirma que não teve acesso ao relatório

17/10/2018

 

 

Já advogado do coronel Lima diz estar ‘perplexo’; para Rocha Loures, ‘não há elementos’ para PGR oferecer denúncia

O advogado Brian Alves, responsável pela defesa do presidente Michel Temer no inquérito dos Portos, afirmou ontem que não se manifestaria sobre o caso porque ainda não teve acesso ao relatório da Polícia Federal. Procurado, o Palácio do Planalto informou que caberia ao advogado tratar do tema.

O inquérito da PF que investigou o suposto benefício de Temer ao grupo Rodrimar já chegou a ser chamado pelo presidente de “ficção policial”. Em junho, a Secretaria de Comunicação da Presidência divulgou nota para rebater planilhas que constavam na investigação e tinham sido tornadas públicas. “Nada mais precisa ser dito sobre esse escândalo digno de Projac, a maior fábrica de ficções do País”, afirmava o texto à época.

Em janeiro deste ano, a defesa de Temer chegou a pedir que o inquérito fosse arquivado, “em face da ausência de qualquer conduta criminosa”.

Naquele mês, o presidente também respondeu a 50 perguntas encaminhadas pela PF sobre o caso, após autorização do ministro Luís Roberto Barroso, relator no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em mais de uma ocasião desde o início das investigações, o Planalto negou que tenha havido benefício à Rodrimar no Decreto dos Portos, assinado por Temer em maio de 2017, e afirmou que o setor foi consultado antes de a medida ser adotada.

Por meio de nota, os advogados Maurício Leite e Cristiano Benzota, responsáveis pela defesa do coronel João Baptista Lima Filho, disseram estar “perplexos” com o pedido de prisão feito pela PF. Segundos os advogados, o coronel está “afastado de suas atividades profissionais e, permanentemente, em sua residência cuidando da saúde”.

“Sempre foram apresentadas todas as informações solicitadas pelas autoridades, por intermédio de sua defesa, o que torna o pedido de prisão desprovido de fundamento legal”, afirmam os defensores.

‘Sem elementos’. O advogado Cézar Bittencourt, que defende o ex-deputado e ex-assessor da Presidência Rodrigo Rocha Loures (MDB), afirmou que não teve acesso ao relatório policial e, portanto, “não há como se manifestar globalmente”. “No entanto, nesse inquérito, Rocha Loures não estava sendo investigado pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Mas, certamente, não há elementos para a PGR (Procuradoria-Geral da República) oferecer denúncia contra Rocha Loures”, afirmou o advogado.

As defesas dos outros oito indiciados, incluindo a filha de Temer, Maristela, não haviam se manifestado até a conclusão desta edição. A filha do presidente prestou depoimento à PF, em maio, e à época negou que o pai tenha ajudado a pagar a reforma de sua casa em 2014. Entre os pontos investigados pela PF está a origem do dinheiro da obra.

 

Ficção

“Nada mais precisa ser dito sobre esse escândalo digno do Projac, a maior fábrica de ficções do País.”

Michel Temer​, PRESIDENTE, EM NOTA DIVULGADA EM JUNHO PARA REBATER PARTE DAS INVESTIGAÇÕES DA POLÍCIA FEDERAL SOBRE O INQUÉRITO DOS PORTOS