O globo, n. 31072, 02/09/2018. País, p. 9

 

Alckmin estuda acionar plano B com voto útil no 1º turno

Silvia Amorim

02/09/2018

 

 

Estratégia do tucano é a de convencer eleitores que não queiram o segundo turno entre um petista e Jair Bolsonaro

Pressionado a mostrar se terá condições de chegar ao segundo turno, o candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, estreou ontem no horário eleitoral com um plano B no bolso. Se o cenário de um confronto entre PT e Jair Bolsonaro (PSL) se mantiver mesmo após a propaganda na TV, a campanha do tucano vai recorrer a um pedido de voto útil ainda no primeiro turno. A estratégia foi discutida com aliados da coligação e consistirá em convencer eleitores que não queiram um segundo turno entre um petista e o deputado a votar em Alckmin para tentar quebrar essa polarização.

Duas semanas

Até agora, não foi definida uma data-limite para que a campanha pelo voto útil no tucano seja iniciada. Ela, entretanto, tem sido tratada como uma das opções no cenário.

Alguns líderes de partidos da coligação tucana defendem que sejam dadas a Alckmin ao menos duas semanas de participação no horário eleitoral para avaliar suas chances. O candidato do PSDB tem a maior fatia da propaganda eleitoral, um ativo tido por esses políticos como o mais valioso nessa fase da campanha. Alckmin tem, sozinho, o tempo somado de cinco dos seus adversários —Bolsonaro, Marina Silva (Rede), Ciro Gomes (PDT), Henrique Meirelles (MDB) e Álvaro Dias (Podemos).

São 5 minutos e 32 segundos de programa exibidos às terças, quintas e sábados mais inserções ao longo da programação.

Desde a pré-campanha, o presidenciável pede aos apoiadores que tenham paciência. Diz sempre que começará a crescer nas pesquisas com todo esse espaço no horário eleitoral. Há meses Alckmin oscila entre o 4º e 5º lugares na corrida presidencial, pontuando entre 5% e 9%.

Obter o maior tempo na propaganda eleitoral foi a principal razão do tucano para fechar uma aliança com o centrão —DEM, PP, PR, PRB e SD — , apesar de todo o desgaste político que a aliança tem lhe causado. Há disposição neste momento entre os partidos aliados em dar ao candidato um voto de confiança, embora engajamento real na campanha dele não exista na prática em nível regional. Principalmente no Nordeste, siglas como o PP e o PTB estão pedindo votos para o ex-presidente Lula no Piauí e em Pernambuco. Representante do centrão na coordenação da campanha, o presidente nacional do DEM, ACM Neto, já se antecipa a pressões e diz que o crescimento de Alckmin virá aos poucos.

— Temos uma estratégia de comunicação bem planejada. Acreditamos que o crescimento de Alckmin é questão de tempo. Não é de imediato, mas virá progressivamente —afirmou. — Mais do que verificar o desempenho o nosso candidato, é importante também acompanhar o que vai acontecer com os outros. Não sabemos nem o que acontecerá com os votos declarados em Lula hoje — diz o presidente nacional do PPS, Roberto Freire. Embora evitem tratar do assunto em público, apoiadores de Alckmin têm feito cálculos reservadamente do que seria um prazo razoável para o candidato mostrar reação. Um movimento tardio da campanha, na opinião deles, poderá levar a uma migração de eleitores que hoje estão com o tucano para outro candidato. Tem prevalecido a avaliação de que até meados de setembro Alckmin precisa mostrar algum crescimento para ser visto por aliados e eleitores com alguma chance de chegar ao segundo turno. A curta duração da propaganda na TV — 35 dias — é fator de preocupação para uma virada do tucano.

Ofensiva

Desde o início da semana, o marketing do candidato assumiu uma cara mais ofensiva. Na terça-feira, a campanha colocou para circular na internet um vídeo com ataques de uma só vez a Jair Bolsonaro (PSL), ao presidente Michel Temer (MDB) e ao PT. O jingle de Alckmin fala em “não dá pra olhar pra trás, não dá pra errar de novo”.

Na quinta, a campanha divulgou um vídeo especialmente destinado a desgastar Bolsonaro, líder nas pesquisas sem Lula, e sua proposta de armar a população. Apesar de Jair Bolsonaro ter prioridade na estratégia de Geraldo Alckmin e o PT ser um alvo óbvio, o governo não será poupado na propaganda dos tucanos.

—A campanha não vai aliviar para o lado de Temer — disse um aliado que acompanha o planejamento do marketing de Alckmin, mantendo segredo sobre o conteúdo dos vídeos que vão ao ar na propaganda eleitoral obrigatória. Temer tornou-se um problema para Alckmin porque adversários estão usando o apoio dado pelo PSDB ao governo do emedebista após o impeachment de Dilma Rousseff (PT) —hoje candidata ao Senado por Minas Gerais— para colar no presidenciável a pecha de que ele é próximo de Temer. O presidente tem uma reprovação recorde, de 89,6%.