Correio braziliense, n. 20198, 08/09/2018. Política, p. 2

 

Bolsonaro deve retomar atividades em 20 dias

Paulo Silva Pinto

08/09/2018

 

 

São Paulo — Um avião UTI com o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) pousou às 9h44 ontem no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, menos de 12 horas depois de ter sido negada pela equipe médica que o operou em Juiz de Fora (MG) a possibilidade de o político mudar de hospital. Na sexta-feira, Bolsonaro sofreu em evento de campanha na cidade um ataque a faca. Bolsonaro foi num helicóptero da Polícia Militar até o Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, e de lá seguiu em ambulância ao Hospital Albert Einstein, onde deu entrada às 10h43. A Polícia Federal reforçou a segurança e restringiu o acesso ao político.

A transferência havia sido descartada diante do quadro ainda delicado do candidato. Mas houve desconforto com a facilidade de acesso de políticos ao deputado, internado na unidade de terapia intensiva, e com o vazamento de fotos, denotando precariedade na segurança. Além disso, como ele corre risco de infecção, a família achou melhor que estivesse em um hospital com mais recursos. O cirurgião Antonio Macedo, do Einstein, que foi a Juiz de Fora, fez questão de elogiar o trabalho da equipe que atendeu o candidato, evitando desconforto.

Chegou a ser cogitada a transferência a outro hospital paulistano, o Sírio-libanês. A tradutora Dilma Fátima Ferreira, 65 anos, que foi ontem à porta do Einstein, está feliz que isso não tenha ocorrido. “O Sírio é um antro de petistas”, exagerou, em referência ao fato de que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi tratado lá, assim como a sucessora dele, Dilma Rousseff. “Fora Dilma, fica só Fátima”, brincou a tradutora fazendo referência ao próprio nome. Anti-petista ferrenha, ela fez questão de sair de casa, no bairro do Paraíso, para prestar solidariedade.

Bolsonaro deve estar apto a retomar as atividades de campanha faltando apenas uma semana para as eleições, em 7 de outubro. Relatórios médicos encaminhados ontem ao ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, revelam que ele deve passar ainda entre sete e 10 dias internado na UTI no Einstein. E a perspectiva do tempo de recuperação para voltar às atividades deve ficar entre 20 e 25 dias. Durante esse tempo, a campanha vai aproveitar a exposição do atentado na mídia e atuar fortemente nas redes sociais, já que o tempo do candidato da TV é mínimo.

As informações foram ditas ao presidente Michel Temer. Durante o desfile do Dia da Independência, o emedebista conversou muito com Jungmann ao “pé” do ouvido. O ministro explicou que, na conversa, esclarecia a situação de Bolsonaro. “Passava ‘flashes’ a ele, como: ‘olha, tá tudo bem. O avião não decolou agora porque tá fechado o tempo. Ele não vai para o (hospital) Sírio (Libanês). Vai para o Albert Einstein’. E depois passei o boletim das condições médicas”, explicou.

Ainda sob cuidados médicos, o estado de saúde do presidenciável é estável, apesar de exigir cuidados. Ele deve passar por uma nova cirurgia, ainda sem data marcada. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do candidato, disse que ele está melhor. “Está evoluindo muito bem. Os médicos, inclusive, fizeram vários elogios. Está tudo indo muito bem. A gente agradece a todo mundo que tem orado e rezado ou, de alguma maneira, mandado a sua energia positiva para cá. Tem surtido efeito”, declarou. Bolsonaro chegou a gravar vídeos de agradecimento à equipe médica e a Deus. Na noite de ontem, disse que a morte passou a 2 milímetros dele. “Sobrevivi por milagre”, afirmou.

A presença de Bolsonaro no Einstein na manhã de ontem atraiu vários outros apoiadores da candidatura dele à Presidência. De manhã, eram cerca de duas dezenas de pessoas, em pequenos grupos dispersos. O jornalista Daniel de Almeida, 37, veio de Juiz de Fora (MG), onde Bolsonaro foi esfaqueado na sexta. “Saí de lá às 20h, quando soube que ele seria transferido para São Paulo. Dirigi a noite toda”, relatou. Ele veio com o boneco inflável Bolsomito. Feito ao custo de R$ 30 mil com doações de empresários, seria içado pela primeira vez em Juiz de Fora na sexta, mas os planos tiveram de ser revistos após o ataque ao candidato.

Na manhã de ontem, chegou a ser inflado perto do hospital por alguns minutos. “O diretor veio aqui e nos pediu gentilmente para tirar, evitando atrapalhar os pacientes”, explicou. Morador de Ribeirão Preto (SP), ele disse não querer fazer manifestações na porta do Einstein, por ser uma área residencial. Mas espera levar o boneco para outras concentrações em breve.

A poucos metros, um grupo de dois homens e uma mulher conversava. Um deles, negro, com longas tranças rastafári, vestia uma camiseta com a inscrição: “Olavo tinha razão”, em alusão ao filósofo Olavo de Carvalho, crítico da esquerda. Nenhum dos três quis se identificar. “Não podemos mostrar que apoiamos Bolsonaro por medo de represálias de colegas de trabalho e até de familiares”, afirmou. Outro homem, com forte sotaque estrangeiro, disse que pensa em se naturalizar brasileiro “dependendo do resultado da eleição”.

A advogada Janaína Paschoal, candidata a deputada estadual pelo PSL paulista, também foi ao hospital. Disse esperar que o pessoal da campanha agora se una com mais afinco em torno de Bolsonaro. Indagada se falta união na campanha, ela sorriu. “União nunca é demais. Digamos que todos agora vão se preocupar menos com suas campanhas e olhar para a principal”. O deputado major Olímpio (PSL SP), candidato a senador, destacou que não vê riscos à campanha com a necessária recuperação do candidato. “Trabalharemos em dobro”, ressaltou. Passaram também pelo hospital, à tarde, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) e o senador Magno Malta (PR-ES).

O major Olímpio estava em Juiz de Fora na manhã de ontem. Veio em um avião com parte da equipe de campanha. Bolsonaro e o filho Carlos vieram na UTI aérea. O candidato passou por exames de manhã acompanhado pelo filho. O último boletim médico, das 14h28, dizia que ele estava em boas condições clínicas.

A tradutora Celene Salomão, 53, saiu da região central de São Paulo e foi para o Einstein, a 15km de casa, assim que soube que Bolsonaro estava pousando em São Paulo. E levou uma faixa de apoio a ele. A peça estava antes em um posto de gasolina, mas foi retirada, por determinação da bandeira. O dono, amigo de Celene, deu a ela a faixa, que ela usou pela primeira vez em frente ao Einstein. Indagada se vê algum problema nos acessos de ira de Bolsonaro, inclusive com mulheres, ela disse que não. “Que mulher não quer um homem que a proteja?”, perguntou. “Ele se exalta às vezes, como todos nós brasileiros, que estamos cansados de tudo isso que há na política.”

Colaborou Rodolfo Costa

“Não venham com essa historinha de que ele era maluco, não sabia o que estava fazendo, era um cara desvairado, não”
Flávio Bolsonaro, filho de Bolsonaro e deputado

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"Ataque foi premeditado"

08/09/2018

 

 

Ao chegar ao hospital Albert Einstein, onde o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) está internado, o deputado fluminense Flávio Bolsonaro (PSL), um dos filhos do candidato, reforçou que seu pai está se recuperando e que seus apoiadores continuarão fazendo a campanha presidencial nas ruas. “O capitão está se recuperando, mas a gente estará na rua para fazer a campanha dele e virar essa página triste do nosso país, e vai ser no primeiro turno”, declarou. Ele ainda disse que os aliados continuarão defendendo o que acreditam e que o ataque é a prova de que não são armas que matam pessoas. “Essa é a maior prova de que quem mata as pessoas não são as armas. Ele, com uma faca, podia ter matado meu pai. Então quem mata pessoas são pessoas, não é uma faca, não é uma arma. Vamos continuar na nossa luta defendendo o que a gente acredita.”


O filho mais velho do presidenciável disse também não acreditar que o servente de pedreiro Adélio Bispo de Oliveira, autor do atentado, tenha agido por impulso. Segundo o candidato a senador, o crime foi premeditado. “Não venham com essa historinha de que ele era maluco, não sabia o que estava fazendo, era um cara desvairado, não. Foi premeditado. Ninguém sai de casa com uma faca para enfiar na barriga dos outros por acaso”, afirmou. Cercado por apoiadores que gritavam frases como “imprensa lixo” e “Brasil acima de tudo”, Flávio aproveitou as câmeras para fazer uma crítica à imprensa que, segundo ele, tenta colar em Bolsonaro rótulos como machista e homofóbico e, assim, pode influenciar atos de violência como o visto na quinta-feira. “Parem de insistir nesses rótulos com ele, de insistir que ele é homofóbico, racista. Vocês podem estar influenciando pessoas a praticarem este tipo de ato. Vamos parar com essa palhaçada”, disse Flávio.