O globo, n. 31050, 11/08/2018. País, p. 12

 

Vice de Romário ignora aliança e lança voto ‘Bolsonário’

Stéfani Salles

11/08/2018

 

 

Delaroli sugere dobradinha entre o ex-craque e o militar, descartando apoio a Alckmin, coligado ao seu partido, ou Alvaro Dias, da sigla do senador

Nem Geraldo Alckmin (PSDB), que é apoiado pelo seu partido, o PR, nem Álvaro Dias, o presidenciável da sigla de Romário, o Podemos. O deputado federal Marcelo Delaroli (PRRJ), candidato a vice na chapa do senador ao governo do Rio, vai fazer campanha para outro postulante ao Palácio do Planalto: Jair Bolsonaro, do PSL. Ex-policial militar, Delaroli lançou ontem a primeira dobradinha infiel nas campanhas para governador e presidente no Rio: o voto “Bolsonário”, um acrônimo de Bolsonaro e Romário.

Romário esteve ontem no Palácio Duque de Caxias, sede da segurança pública no Rio, acompanhado de seu candidato a vice, Marcelo Delaroli Chapa.
—Meu candidato (a presidente) é Jair Bolsonaro. Apesar de o meu partido optar por uma linha diferente, com todo o respeito ao partido, eu mostrei que minha linha, desde sempre, vinha nesse caminho — afirmou Delaroli ontem à tarde, após participar de uma reunião com o general Braga Neto, interventor federal na segurança do estado, junto de Romário.

Nacionalmente, o PSL de Bolsonaro e o PR de Delaroli chegaram a se aproximar quando o capitão tentou ter como seu vice o senador Magno Malta (PR-ES). Procurado, Romário não quis se manifestar sobre as declarações do seu candidato a vice.

No âmbito fluminense, o apoio do PR foi cobiçado pela candidatura de Eduardo Paes (DEM), mas o partido acabou fechando acordo com Romário. Com base eleitoral em Maricá, Delaroli tinha o perfil desejado pela coligação de Paes para minimizar o efeito das declarações do exprefeito que, em 2016, teve um telefonema com o expresidente Lula interceptado pela Polícia Federal criticando a cidade. Além do PR, Romário conseguiu o apoio da Rede Sustentabilidade, legenda que lançou Marina Silva ao Palácio do Planalto.

O encontro de ontem foi o segundo de Romário com o interventor federal na segurança. O senador explicou que, há dois meses, Braga Neto disse que havia dificuldade para liberação dos recursos destinados à intervenção, mas que o problema foi resolvido. De acordo com Romário, Braga Neto não deseja a continuidade da intervenção, que termina dia 31 de dezembro, e defende a redução do número de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).

—Eles deixaram bem claro que, das 38 UPPs que existem, 19 continuem. Está na linha do que eu penso Automaticamente, a gente aproveita esse número de policiais, para colocá-los nas ruas, fazendo policiamento ostensivo. Desta forma, poderemos dar a essas UPPs que ficarem um apoio generalizado e completo do estado, coisa que não acontece hoje — afirmou Romário.

No senado, Romário votou a favor da intervenção federal na segurança do Rio. O senador afirmou que, assim como Braga Neto, não deseja a continuidade deste modelo em seu governo.

— A gente vai combater definitivamente essa violência que existe no estado. O poder paralelo tem que entender que quem manda no estado é a polícia, e o Exército —concluiu.

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Para retomar gabinete, Crivella lança mulher suplente ao Senado

Bruno Abbud

Marcelo Remigio

11/08/2018

 

 

Acordo prevê que Sylvia Jane assuma cargo caso Eduardo Lopes seja eleito;

Prefeito do Rio também trabalha para eleger filho como deputado federal

A dois meses das eleições, o prefeito do Rio, Marcello Crivella (PRB), articula para tentar colocar na política a mulher, Sylvia Jane Crivella, e o filho, Marcelo Hodge Crivella. Conforme antecipou o colunista Ancelmo Gois, Sylvia foi escolhida pelo PRB para compor chapa, como primeira suplente, com o senador Eduardo Lopes, que disputará a reeleição. Pelo acordo, caso vença a disputa, Lopes será deslocado para um cargo no Executivo carioca ou federal, abrindo espaço para Sylvia, que ocuparia a cadeira.

Primeiro suplente de Crivella, Lopes assumiu a vaga no Senado em janeiro de 2017, quando o titular tomou posse na prefeitura. Antes, substituiu Crivella quando o atual prefeito comandou o Ministério da Pesca. Bispo da Igreja Universal, Lopes enfrenta dificuldade para repetir o desempenho eleitoral de Crivella, levando a resistências dentro do PRB e da Universal. O nome de Sylvia, que tem a bênção do líder religioso da igreja e tio de Crivella, bispo Edir Macedo, reforçaria a chapa. A mulher de Crivella agregaria votos.

O GLOBO apurou que a escolha constitui uma manobra do prefeito para manter a família no comando do gabinete em Brasília. Crivella foi eleito senador em 2002 e reeleito em 2010. A estratégia incluiria o convite para que Lopes, reeleito, assumisse um cargo no governo federal. Do centrão, o PRB está na aliança do candidato do PSDB ao Planalto, Geraldo Alckmin. Em caso de derrota do tucano ou falta de acordo com o novo presidente, Lopes ocuparia uma vaga na prefeitura do Rio, de maneira que a vaga no Senado ficaria com Sylvia.

— A meta é retomar o gabinete, não deixar Crivella e a Universal de fora. Sylvia Jane reforça a chapa, é bem aceita —diz um dos bispos que integra o núcleo político da igreja.

Numa reunião na tarde da última quarta-feira, na Câmara Municipal, o presidente da Casa, Jorge Felippe (MDB), deixou transparecer a vereadores que o prefeito também se preocupa com o futuro político do filho, conforme revelou a colunista Berenice Seara no jornal “EXTRA”. Na ocasião, em que procuradores do Tribunal de Contas do Município (TCM) pleiteavam a votação de um projeto de lei que autoriza procuradores a exercer a advocacia privada, Felippe contou que foi procurado por Crivella para que ambos se licenciassem de seus cargos com a intenção de se dedicar às campanhas de familiares. Crivella trabalharia para eleger o filho deputado federal. Felippe, o neto. Deputado estadual, Jorge Felippe Neto pretende disputar a reeleição.

O GLOBO confirmou com outros participantes da reunião a fala do presidente da Câmara. A ideia de Crivella, segundo narrou o presidente da Câmara, seria transferir a prefeitura para a vice-presidente da Câmara, Tânia Bastos, também do PRB. Segundo a Lei Orgânica do Município, contudo, quem assume na ausência do prefeito, do vice e do presidente da Câmara é o presidente do TCM.

—É uma completa falta de conhecimento do prefeito sobre a própria estrutura da prefeitura. Como o prefeito não conhece a linha sucessória do seu governo? — questiona o vereador Paulo Pinheiro (PSOL).