Correio braziliense, n. 20210, 20/09/2018. Cidades, p. 19

 

Em defesa dos valores cristãos

Ana Viriato e Pedro Grigori

20/09/2018

 

 

ELEIÇÕES 2018 » Em entrevista ao Correio, os candidatos ao Senado Fernando Marques (Solidariedade) e Fadi Faraj (PRP) comentam sobre assuntos delicados, como armas, descriminalização do aborto e ensino da ideologia de gênero nas escolas

Em comum, a “defesa aos valores da família”. Com bases políticas cristãs, os dois candidatos ao Senado entrevistados ontem pelo Correio abordaram temas delicados. O líder da Comunidade Cristã Ministério da Fé, Fadi Faraj (PRP), e o empresário Fernando Marques (Solidariedade) mostraram-se contrários à descriminalização do aborto e ao ensino da ideologia de gênero em escolas. Trataram, ainda, de reformas pendentes no Congresso Nacional, a exemplo da previdenciária, e da privatização de estatais. Hoje, serão ouvidos o servidor público Danilo Matoso (PCO) e a professora Amábile Pacios (PR).

Integrante da coligação formada por PRTB e PRP, que tem o general Paulo Chagas como aposta ao GDF, Faraj disse ser “a favor da vida” ao justificar o posicionamento contrário à descriminalização do aborto. “Uma vida não pode ser sentenciada pelo erro de outra”, afirmou. Questionado sobre métodos para evitar as mortes de mulheres em decorrência dos procedimentos, o pastor disse que o tema precisa ser discutido. “Podemos debater, sim, a questão do risco. Mas não podemos debater a questão da pena de morte. O aborto é pena de morte”, alegou. Em meio à argumentação, ele retirou do bolso um boneco no formato de um feto com 12 semanas.

Apoiado pelo presidenciável Jair Bolsonaro (PSL), o candidato compartilha com o padrinho político a ideia de facilitar o acesso às armas no Brasil. “Temos de parar de tentar cobrir o sol com a peneira. A população brasileira está desarmada e insegura. O governo não consegue cobrir a segurança. O mínimo que temos de fazer é dar condição para que as pessoas se defendam”, pontuou.

Em relação à redução da maioridade penal de 18 para 16 anos em casos de crimes hediondos, como latrocínio, estupro e extorsão, Faraj afirmou considerar que, em determinados casos, a diminuição da idade mínima pode ser ainda maior. “Se o cara teve a capacidade de estuprar, organizar e matar, ele tem de responder. Não pode ter pena socioeducativa”, defendeu. Nos presídios, defendeu a implementação de “um modelo militar”: “Eles (detentos) vão aprender a marchar, capinar, estudar, trabalhar”. O candidato mostrou-se contrário, ainda, à progressão da pena.

Sobre a educação, o candidato defendeu o projeto Escola Sem Partido. “Não podemos aceitar a doutrinação ideológica dentro das salas de aula, onde as crianças aprendem uma ideologia em detrimento de outra”, frisou. Faraj também se posicionou sobre o fim da imunidade tributária para igrejas, tema discutido no Congresso Nacional. “Desenvolvemos muitos trabalhos assistenciais e não recebemos recursos do Estado. Se isso acontecer (o fim da isenção), muitos templos religiosos vão fechar”, disse.

Economia

Candidato pelo Solidariedade, Fernando Marques classificou-se como alguém que busca facilitar a vida do micro, pequeno e médio empresário. Proprietário da União Química, uma das principais empresas farmacêuticas do Brasil, ele declarou R$ 667 milhões em bens à Justiça Eleitoral: é o candidato mais rico de todo país.

Marques assegurou ser favorável a um “reajuste na Previdência”. Para ele, há pessoas com benefícios acima do que deveriam, enquanto parte da população recebe pouco. “É muito importante que seja discutida (a reforma da Previdência) na Câmara e no Senado. Não o Executivo mandar para que o Congresso aprove. É algo que precisa ser altamente debatido e executado”, pontuou. O candidato completou dizendo que o Brasil não pode deixar a Previdência virar “um monstro que inviabilize o país”. “Precisa chegar ao equilíbrio. Alguns poucos vão ter de fazer um sacrifício para favorecer muitos outros e melhorar o Brasil.”

O empresário mostrou-se também favorável à privatização do setor elétrico. Citando a crise enfrentada devido às alterações climáticas, o candidato Fernando Marques afirmou que é necessário que a Eletrobras passe por uma modernização. “Precisa ser pensado investimento na área, e acho que o Estado e a situação da nação não nos permite fazer isso. Então, temos de abrir para companhias internacionais e nacionais explorarem essa área”.

Marques tem uma base forte de evangélicos na chapa, encabeçada pelo candidato ao GDF Rogério Rosso (PSD). O empresário classifica-se como defensor da família e da vida e garante ser contrário à descriminalização do aborto. “Sou a favor de que a lei atual seja cumprida. Aborto só em casos excepcionais, como previsto na legislação”, diz o concorrente ao Senado. Para ele, é necessário investimento do governo em prevenção para impedir casos de gravidez na adolescência. Marques defende que os postos de saúde ofereçam anticoncepcionais injetáveis e que é necessário investir orientação nas escolas, “mas não por meio daquelas cartilhas de ideologia de gênero”.

Assista ao vivo

Entrevistados de hoje

Amábile Pacios (PR), às 15h30; e Danilo Matoso (PCO), às 16h