Correio braziliense, n. 20164, 05/08/2018. Política, p. 4

 

Alckmin dispara críticas a Bolsonaro e aos petistas

Rodolfo Costa

05/08/2018

 

 

De 290 votantes, 288 escolheram o tucano para liderar a chapa. Com apoio de oito partidos, aliança do PSDB terá 45% do horário gratuito

O PSDB confirmou ontem, por ampla maioria, Geraldo Alckmin como candidato da legenda à Presidência da República. Nada menos que 288 convencionalistas de um total de 290 votantes — ou seja, 99,3% — o escolheram para liderar o partido na corrida eleitoral. A campanha tucana, no entanto, ainda não desponta como uma das mais fortes na disputa pelo Palácio do Planalto. A aliança estabelecida com o centrão — bloco composto por PP, DEM, PR, PRB e Solidariedade — e PSD, PTB e PPS é tratada por tucanos e aliados como a chave para o sucesso.

Alckmin aproveitou o palanque e fez um discurso repleto de críticas indiretas ao candidato do PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas de intenção de voto nos cenários sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT. Os petistas, com quem os tucanos polarizaram a disputa política nos últimos anos, também foram alvo de críticas de Alckmin por sua “herança de radicalismo”

“Ainda hoje, na América Latina, vemos degenerar regimes conduzidos por quem promete dar murro na mesa, dizendo que faz e acontece, que pode governar sozinho, ou acompanhado apenas por um grupo de fanáticos”, disse. “Gente assim quer é ditadura. Ditadura que logo degenera em anarquia. Precisamos da ordem democrática, que dialoga, que não exclui, que tolera as diferenças”, afirmou o tucano.

Sobre o PT, Alckmin usou de ironia com o número do partido nas urnas, o 13. “Vamos mudar o Brasil, mas não com bravatas, com tumulto. Treze é o número do partido que esteve lá. Temos 13 milhões de desempregados”, comparou.

Em meio às críticas aos adversários, Alckmin ressaltou que a ampla aliança fechada pelo PSDB será um trunfo para a candidatura. A coalizão construída possibilitará que a campanha tenha 45% do tempo previsto no horário eleitoral. “Teremos nove inserções diárias. Geraldo terá condições e tempo suficiente para mostrar o preparo para governar o Brasil. Mostrar suas propostas para tirar o país da crise e fazer a transição para um país de desenvolvimento”, destacou Marconi Perillo, coordenador da campanha.

A aliança é suficientemente forte para “mudar” o Brasil e “devolver” aos brasileiros a dignidade “roubada”, enfatizou Alckmin, acompanhado da esposa, Lu Alckmin. “Aceito ser o candidato pelo PSDB e pelos demais partidos que aqui nos apoiam. Desta ampla aliança dos que acreditam no caminho do desenvolvimento e não na rota da perdição do radicalismo. Dos que acreditam na união que constrói e amplia, e não na divisão que nos paralisa e diminui”, declarou.

O presidenciável garantiu que, se vencer as eleições, promoverá um governo reformista. Citou a importância de aprovar uma reforma política, que reduza o número de partidos, e uma reforma tributária e de Estado, que reduza a burocracia e incentive o crescimento econômico. Para isso, ele trata a coalizão como fundamental. Sobrou até alfinetadas aos rivais, que desdenham da coligação. “Aqueles que dizem que aprovarão reformas sem apoio da ampla maioria dos partidos mentem ao povo. E mentira tem perna curta. O Brasil está cansado de demagogia e populismo”, criticou.

A candidata a vice, Ana Amélia, foi tratada por todos como a “joia da coroa” da aliança. O perfil ético dela garante equilíbrio e liderança ética à coligação. Um contraste em meio a nomes da coalizão que respondem a inquéritos policiais por suspeita de corrupção. A parlamentar fez até questão de afagar e transmitir ao companheiro tucano na chapa a conduta enquanto senadora. Disse que a “régua moral” de Alckmin é a mesma que usou no Senado.

O tucano é suspeito de receber R$ 10 milhões da Odebrecht nas campanhas de 2010 e 2014. O Ministério Público de São Paulo o notificou para depor sobre as acusações em 15 de agosto, último dia para o registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Frase

“Teremos nove inserções diárias. Geraldo terá condições e tempo suficiente para mostrar o preparo para governar o Brasil”

Marconi Perillo, coordenador da campanha

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MDB decide por chapa pura

05/08/2018

 

 

O MDB vai disputar as eleições com chapa pura. O emedebista Germano Rigotto, ex-governador do Rio Grande do Sul, foi escolhido pelo partido para a vice-presidência. A definição teve o dedo do próprio candidato da legenda ao Palácio do Planalto, Henrique Meirelles. O ex-ministro da Fazenda manteve diálogos nos últimos dias com o presidente nacional do partido, senador Romero Jucá (RR), e bateram juntos o martelo ainda na sexta-feira. A confirmação foi feita ontem, em reunião, na sede da sigla em Brasília.

A opção por uma chapa pura era certa. O MDB coligou com o PHS, mas a vaga de vice não entrou em pauta nas negociações com a legenda nanica. Como não há outros partidos maiores na coalizão para indicar um nome e dar mais capilaridade e espaço político à campanha emedebista nos estados, era óbvia a definição de um correligionário como o número dois de Meirelles.

As discussões para definir o vice de Meirelles se iniciaram na quinta-feira passada. Rigotto e a senadora Marta Suplicy (SP) eram opções. Após a negativa da parlamentar ao convite, o nome do ex-governador gaúcho ganhou força. Ex-prefeita de São Paulo pelo PT, Marta decidiu se desfiliar do MDB e abandonar a vida parlamentar.

Diferentemente da senadora, que tinha a indicação contestada pela cúpula do partido, Rigotto agradou aos caciques emedebistas. O próprio Jucá declarou ontem que o nome dele “completou melhor” a chapa. O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, destacou a compatibilidade de ideias do ex-governador com Meirelles, como a defesa da reforma tributária. “A escolha tem também um caráter para afirmar os compromissos da chapa do partido com reformas para garantir a continuidade do esforço para aumentar os investimentos, gerar emprego e renda e criar uma esperança para o brasileiro”, declarou.

Antes de oficializarem o vice na chapa, Jucá, Meirelles e o próprio Rigotto foram convidados ao Palácio do Jaburu para uma reunião com o presidente Michel Temer. O objetivo foi alinhar os rumos da campanha emedebista. Na ausência de alianças expressivas, a estratégia é usar os palanques regionais mais fortes para dar musculatura para a campanha do ex-ministro da Fazenda. A capilaridade da legenda nos estados é avaliada como um trunfo pela cúpula do partido.

O desafio emedebista é fazer a campanha de Meirelles decolar. Além de oscilar entre 1% e 2% dos votos válidos, segundo as pesquisas, precisa enfrentar resistências em alguns estados, como Alagoas, comandado pelo senador Renan Calheiros. A insistência com a candidatura, no entanto, tem lógica, avaliou o sociólogo e analista político Paulo Baía, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “O MDB vai usar a campanha e o tempo de televisão para fortalecer os diretórios regionais. Assim, os estados ficam livres para apoiar localmente o que for mais conveniente e poderão fazer alianças informais com qualquer um dos pré-candidatos”, disse. (RC)