O globo, n. 31033, 25/07/2018. País, p. 8

 

Marina cogita criador do Bolsa Família de vice

Dimitrius Dantas

25/07/2018

 

 

Ex-senadora diz que economista Ricardo Paes de Barros é ‘excelente nome’; Miro e Bandeira são opções

A pré-candidata da Rede Sustentabilidade, Marina Silva, já admite indicar um filiado do próprio partido para compor sua chapa como vice. Durante a primeira transmissão nas redes sociais de seu “programa pré-eleitoral”, Marina citou três possibilidades para o cargo: o presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, o deputado federal Miro Teixeira e o economista Ricardo Paes de Barros. O cartola rubro-negro ainda é considerado o favorito, mas o nome do economista surge por fora como outra possibilidade. Marina ainda não conversou com ele sobre um eventual convite.

— Temos bons nomes. Temos o nome do Miro Teixeira, o nome do Eduardo Bandeira de Mello, temos o economista Ricardo Paes de Barros, temos excelentes nomes — disse ela, ontem.

A declaração foi dada após um internauta perguntar especificamente quem seria o vice da ambientalista. Marina desconversou e afirmou que ainda não desistiu da possibilidade de realizar alianças. Entre os partidos com os quais ela conversa estão o PV e o PPS.

“HORÁRIO PESSOAL GRATUITO”

Lideranças das duas legendas, no entanto, admitem que uma aliança com a política da Rede é improvável. Entre as vantagens de Paes de Barros está o fato de que ele não será candidato a nenhum cargo, ao contrário de Bandeira de Mello e Miro Teixeira, que podem se lançar a deputado federal, ajudando o partido a superar a cláusula de barreira no Rio de Janeiro.

Paes de Barros, de 63 anos, é especialista em desigualdade social e combate à pobreza. Por mais de 30 anos, trabalhou no Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Formado em engenharia eletrônica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), com mestrado em estatística pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA) e doutorado em Economia pela Universidade de Chicago, ele é considerado no meio econômico como o “pai do Bolsa Família”, por ter sido um dos principais formuladores do programa no governo Lula. Na gestão Dilma Rousseff, entre 2011 e 2015, foi subsecretário de Ações Estratégicas da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República. Atualmente, Paes de Barros é economista-chefe do Instituto Ayrton Senna e professor do Insper. O economista apoiou Marina nas eleições de 2010 e 2014.

A pré-candidata respondeu a questões de simpatizantes por 30 minutos. Essa foi a primeira transmissão realizada por Marina. A ideia da campanha é produzir conversas informais entre a pré-candidata e os eleitores nas redes sociais, numa espécie de “horário pessoal gratuito”. Um dos focos da estratégia da ex-senadora é ter uma mensagem e discurso de campanha mais simples em comparação às suas duas últimas tentativas de chegar ao Palácio do Planalto.

Marina respondeu questões sobre economia e segurança pública, mas criticou principalmente o centrão. Após afirmar na segunda-feira que “o condomínio de Alckmin é o condomínio que era da Dilma em 2014”, Marina voltou a comparar o arco de alianças formado pelo tucano com a campanha da petista.

— O Alckmin é uma espécie de Dilma de calças — disse.

Em suas declarações, Marina também tem feito questão de citar dois outros presidenciáveis com quem dialoga: Alvaro Dias, do Podemos, e Ciro Gomes, do PDT. Segundo pessoas próximas, a ex-senadora enxerga esses dois nomes como os únicos que escaparam de serem “pegos no doping” da Lava-Jato, além dela mesma. Ainda de acordo com aliados, a relação com Ciro é respeitosa após o período em que ambos foram ministros de Lula. Segundo Marina, candidatos como Ciro, que não conseguiram o apoio do centrão, deveriam tratar o fracasso na costura do acordo como uma bênção.

A pré-candidata passou o dia na cidade de São Carlos, onde foi ao lançamento de um candidato a deputado federal por São Paulo. Após uma série de entrevistas a rádio, Marina visitou dois locais de trabalho compartilhado (coworkings), imóveis que hospedam startups da região.

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Operador descreve 'delivery' de propina

Robson Bonin

25/07/2018

 

 

Delator diz que levou cédulas amarradas nas pernas até a casa de Fernando Collor

Principal operador do “money delivery”, o serviço de entrega de propina em domicílio criado pelo doleiro Alberto Youssef, o delator Rafael Ângulo Lopez, em depoimento prestado à Justiça ontem, descreve com novos detalhes uma entrega de propina ao senador e précandidato à Presidência pelo PTC, Fernando Collor (AL). Ângulo foi interrogado na ação penal que corre em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF) e investiga se o senador e outros dois comparsas cometeram os crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e participação em uma organização criminosa. Segundo o entregador, a propina de R$ 60 mil, dividida em pacotes com cédulas de R$ 100, foi transportada até o apartamento de Collor amarrada nas suas pernas. O entregador descreveu o encontro com o “senhor Fernando” dentro do apartamento.

— Eu tinha tirado o dinheiro que tinha levado nas pernas e coloquei no paletó. Eram R$ 60 mil em notas de R$ 100. Ele (Collor) pediu para eu colocar numa mesinha que tinha lá, junto à parede, embaixo de um quadro. Ele não pôs a mão no dinheiro, mas pediu para deixar nessa mesa. Eu disse para ele: “trouxe 60, o senhor sabe?” E ele respondeu: “Sei”. Eu deixei ali, acabei me despedindo. Ele me acompanhou até a porta e eu desci — relatou.

Na denúncia, aceita pelo Supremo em agosto do ano passado, a Procuradoria-Geral da República acusa Collor de ter embolsado cerca de R$ 30 milhões em propina, entre 2010 e 2014, a partir de contratos da BR Distribuidora sobre troca de bandeira de postos de combustível.

Ângulo descreve em detalhes o dia em que foi até um luxuoso edifício residencial de Collor no bairro Bela Vista, em São Paulo, para entregar a propina.

— Era quase na frente do Teatro Ruth Escobar, na Rua dos Ingleses, 308. Eu reconheci o prédio pelas fotos que a Polícia Federal me mostrou — disse.

O operador foi instado a descrever como foi a entrega desde sua chegada à portaria.

— Tinha uma portaria externa. Quando eu cheguei, me anunciei dizendo que queria falar com o senhor Fernando. Nessa altura, não sabia quem era ele — contou. — Liberaram minha passagem, me abordaram para perguntar o assunto e com quem seria, me identifiquei por parte de quem teria me mandado, inclusive com o apelido de Primo, do seu Alberto Youssef, e disse que tinha um documento para o doutor Fernando. Eles me acompanharam até o elevador e quando o elevador abriu a porta no andar, uma pessoa me atendeu, uma mulher com uniforme. Eu disse que tinha que falar com o senhor Fernando. Aí ela foi para dentro e logo ele abriu a porta da sala. Foi quando eu vi que era ele.

Ângulo disse que Collor estava sério e foi direto ao assunto.

— Ele pediu para entrar e perguntou o que eu tinha ido fazer lá. Eu disse que tinha um documento para ele e perguntei se ele sabia que documento era e quantas páginas o documento tinha. Ele respondeu que eu é que deveria saber o número de páginas. Aí, ele me levou para uma antessala do lado esquerdo e lá eu entreguei o dinheiro.

Ângulo contou também que fez depósitos para contas de Collor, num total de R$ 20 mil.

OUTRO LADO

Em viagem, o senador Fernando Collor não foi encontrado para comentar. Ele ainda se apresenta como pré-candidato a presidente, mas seu partido, o PTC, declarou ter desistido de lançar nome próprio. Por meio de assessoria, Collor já afirmou ao GLOBO que estava convencido de que será absolvido nesse caso. “O senador já apresentou sua defesa, certo de que sua inocência será mais uma vez reconhecida pela Corte, a exemplo do que já aconteceu no passado”, diz a assessoria.