O globo, n. 30997, 19/06/2018. País, p. 3​

 

Denúncia contra Gleisi começa a ser julgada

Carolina Brígido

19/06/2018

 

 

Presidente nacional do PT é acusada de receber ilegalmente R$ 1 milhão na campanha de 2010; petista nega

Começa hoje o julgamento da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), na Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF). Ela é acusada de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido R$ 1 milhão em espécie, supostamente desviado da Petrobras para financiar sua campanha de 2010. Gleisi é a segunda ré da Lava-Jato a ter o destino definido pela Corte — o primeiro foi o deputado Nelson Meurer, condenado por corrupção e lavagem de dinheiro.

Ontem, a Procuradoria-Geral da República (PGR) enviou aos integrantes da Segunda Turma documento no qual reforça a acusação e pede a condenação. Para a procuradora-geral, Raquel Dodge, Gleisi e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, cometeram ato de ofício para fins de corrupção. No caso dele, o crime consistiu em conceder permanentemente apoio político para manter Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento da Petrobras.

Já em relação à senadora, o ato de ofício foi na modalidade omissiva, pois ela tinha o dever de fiscalizar os atos praticados por órgãos da administração pública. “A senadora, expoente de seu partido político, locupletou-se dolosamente de todo um esquema de ilegalidades praticados na Petrobras e, também por isso, deixou de cumprir com seu dever de fiscalização”, diz o documento.

As investigações começaram com as delações premiadas de Youssef e de Paulo Roberto Costa. Segundo os delatores, Paulo Bernardo pediu R$ 1 milhão a Paulo Roberto para abastecer a campanha da mulher. O dinheiro teria sido entregue por um intermediário de Youssef a Ernesto Kugler, um empresário ligado ao casal. A quantia teria sido repassada em quatro parcelas de R$ 250 mil.

Nas alegações finais entregues ao STF, os advogados dos réus alegaram inocência. A defesa de Gleisi apontou falhas nas delações premiadas que deram origem ao processo e disse que as provas levantadas não corroboram os depoimentos dos colaboradores. Lembrou que, em 2010, quando teriam ocorrido os pagamentos ilícitos, ela ainda não tinha cargo público e não gozava da “proeminência” que viria a ter. Também destacou que a presidente do PT nunca fez nada para favorecer o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa. Gleisi foi chefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff, entre junho de 2011 e fevereiro de 2014.