O globo, n. 30955, 08/05/2018. País, p. 6

 

Alckmin e Temer ensaiam aproximação

Cristiane Jungblut

Juliana Dal Piva

Silvia Amorim

08/05/2018

 

 

Presidente e tucano conversaram por telefone e pretendem marcar reunião para tratar das eleições.

O calendário eleitoral e a necessidade de evitar o lançamento de muitas candidaturas de centro estão levando PMDB e PSDB a dar os primeiros passos numa aproximação com vistas à eleição de outubro. Se o presidente Michel Temer admitiu, em entrevista ao “SBT” no domingo, abrir mão da tentativa à reeleição para apoiar outro nome, incluindo Geraldo Alckmin na lista, ontem foi a vez do tucano confirmar que os dois já conversaram sobre a possibilidade de unir as forças de centro em outubro. Os dois devem se encontrar pessoalmente ainda esta semana.

— Foi só por telefone — afirmou Alckmin, ao participar de um evento em Mesquita, na Baixada Fluminense. — Acho que as coisas só vão se definir em julho.

Enquanto o tucano cumpria agenda de précandidato, Temer promovia um jantar, no Palácio da Alvorada, reunindo os principais políticos do PMDB. O objetivo era “sentir a temperatura” das lideranças regionais em relação às três possibilidades na eleição: sua tentativa de se reeleger, a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles ou o apoio a outro nome. A maior dificuldade para o PMDB lançar candidato próprio ao Planalto é que os postulantes do partido aos governos estaduais e ao Legislativo são contra a legenda gastar boa parte do dinheiro para as eleições na campanha presidencial. Isso reforça a tese de apoiar outro nome, como o de Alckmin. Para quebrar essa resistência, Meirelles tem prometido bancar do próprio bolso sua campanha.

JOAQUIM BARBOSA PREOCUPA TUCANO

Na semana passada, Temer e Alckmin se falaram por telefone — foi o tucano quem ligou — e combinaram de marcar um encontro. A ponte entre os dois começou a ser refeita por tucanos como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que esteve com o presidente na semana passada em São Paulo, e o ex-senador do PSDB José Aníbal.

A aproximação entre Alckmin e Temer é uma reação ao aumento de expectativa de uma candidatura do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa pelo PSB. PMDB e PSDB temem ficar de fora de um segundo turno com a entrada do ex-magistrado na disputa, o que acelerou as tratativas de conciliação. Anteontem, o coordenador do programa econômico de Alckmin, Pérsio Arida, fez elogios ao governo em entrevista à “Folha de S.Paulo”.

Ter o PMDB na aliança nunca foi uma questão pacífica na campanha de Alckmin por causa do desgaste e da baixa popularidade de Temer. O próprio pré-candidato tucano nunca colocou o PMDB como prioridade em seu plano de alianças. Pelo contrário. Ele fez questão de começar as negociações por outros partidos — até o momento, a campanha dá como certa a aliança com PSD, PPS e PTB.

Desta forma, Alckmin acreditava que não ficaria refém do PMDB. O partido de Temer, porém, tem o maior espaço no horário eleitoral. Mal posicionado nas pesquisas, o tucano precisa de exposição na propaganda para se viabilizar e conseguir chegar ao segundo turno. Mas, além de tempo na TV, a aproximação entre PSDB e PMDB atende ao propósito de unificar as candidaturas de centro, para tentar evitar que Joaquim Barbosa cresça muito sobre este eleitorado.

— Enquanto não começar rádio e TV, não aconteceu nada — afirmou Alckmin ontem à noite, procurando demonstrar tranquilidade mesmo após registrar baixos números nas pesquisas.

Do outro lado, interlocutores de Temer afirmam que “alguém tinha que se mover”, ao explicar as declarações do presidente cogitando apoiar outros partidos.

— Se houver algo que seja útil para o País, e daí a história da união de todos os candidatos de centro, por que não apoiar? —, afirmou Temer, ao programa “Poder em Foco”, do SBT.

O peemedebista não quer ficar distante do que pensam os diretórios regionais de seu partido, e sabe que grande parte do PMDB resiste a uma candidatura sua e mesmo à de Henrique Meirelles. Até mesmo na cúpula havia incômodo com a firmeza de Temer em propor sua candidatura, o que estaria atrapalhando as formações de palanques nos estados. A resistência ocorre porque Temer tem baixos índices de popularidade, e os candidatos não querem dividir palanque com quem concentra tanta rejeição.

O presidente não quer perder sua influência como articulador de alianças nas eleições, mesmo que não seja candidato ou que não seja um cabo eleitoral desejado nos palanques. Ele tem aproveitado suas idas a São Paulo para vários contatos: já conversou com João Doria, candidato do PSDB ao governo paulista; com o governador de São Paulo e candidato à reeleição, Márcio França (PSB), além do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

O que ministros próximos ao presidente afirmam é que Temer não abre mão de decidir o que o PMDB fará. Por enquanto, como no jantar de ontem, ele faz a apresentação de caciques regionais da sigla a Meirelles, que insiste em se candidatar, e ganha tempo para articular um possível apoio a Alckmin.

Desde a semana passada, começou a circular uma hipótese que uniria os três: o nome de Meirelles como um potencial vice de Alckmin, na formalização da aliança PSDB-PMDB.

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DEM, Podemos e PRB articulam aliança para se fortalecer até outubro

Jeferson Ribeiro

08/05/2018

 

 

Maia, Álvaro Dias e Flávio Rocha prometem se unir em torno do mais bem colocado entre os três.

Enquanto PMDB e PSDB conversam, PRB, Podemos e DEM também negociam a construção de uma aliança para outubro. Nas últimas semanas, as articulações se intensificaram, com a participação mais ativa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM), pré-candidato ao Planalto. Ele passou a discutir a possibilidade de união, que já estava mais avançada entre os pré-candidatos das outras duas legendas: o empresário Flávio Rocha (PRB) e o senador Álvaro Dias (Podemos).

Uma fonte de uma das legendas disse ao GLOBO que o acordo ainda é preliminar, mas que uma condição já está estabelecida: a cabeça de chapa ficaria com o pré-candidato mais bem colocado nas pesquisas em julho, mês das convenções partidárias.

Segundo essa fonte, os dirigentes dessas legendas partilham da avaliação de que uma super aliança com todos os partidos de centro será mal vista pelos eleitores e, por isso, PMDB e PSDB devem ficar fora desse acordo. O Podemos é o que mais resiste a ampliar essa aliança e é também o partido que tem o pré-candidato melhor colocado nas pesquisas realizadas até agora.

— O PSDB é o sustentáculo do sistema que eu estou contestando — disse Álvaro Dias, ontem, na sabatina da Folha de S. Paulo, Uol e SBT, rejeitando a possibilidade de aliança com tucanos.

Nas contas dos três partidos, uma candidatura única teria pouco mais de 1 minuto e 30 segundos de tempo de TV, que poderia crescer se agregasse apoio de outros partidos de centro como PR ou PP.

Questionado sobre a articulação, Rodrigo Maia despistou:

— Apenas almocei com (a deputada) Renata (Abreu, presidente do Podemos) e Álvaro sem nenhum objetivo de construir nenhuma unidade. Apenas troca de ideias. Cada um (está) vazando o que interessa e ninguém (está) falando a verdade — afirmou Maia.

Dias, porém, disse que os partidos estão conversando e que ele têm se mantido um pouco distante para evitar suspeições, já que ele quer manter sua candidatura.

— A presidente Renata é que tem feito essas conversas. Eu não serei obstáculo desse debate para a convergência. Para mim é importante para que haja acordo e a aceitação da tese de refundação da República, que exige reformas de Estado — argumentou o senador.

Flávio Rocha e Álvaro Dias, porém, já frequentam eventos juntos. No domingo, num evento do Podemos na Assembleia Legislativa de São Paulo, o pré-candidato do PRB foi recebido e discursou como se fosse companheiro de chapa do senador paranaense. Os dois também visitaram juntos, ontem, a Apas Show, feira da Associação Paulista de Supermercados.

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O mergulho de Marcela em busca de Picoly

08/05/2018

 

 

Primeira-dama entra no Lago Paranoá para salvar cão, e agente do GSI é afastada.

Ao ver seu cãozinho Picoly, da raça Jack Russell, entrar no Lago Paranoá atrás dos patos que lá nadavam durante um passeio pelo Palácio da Alvorada, a primeira-dama Marcela Temer não hesitou: mergulhou para resgatar o animal de estimação. Se Marcela não se importou em entrar de roupa no lago, o episódio teve consequência pior para a agente do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República que acompanhava a primeira-dama, o filho Michelzinho e Picoly no passeio: a profissional foi afastada para outra função no GSI por não ter ajudado Marcela a buscar o pequeno cachorro nas águas do Lago Paranoá, apesar do pedido da primeira-dama.

A cena aconteceu no dia 22 de abril, e foi revelada pela revista “Veja” no último fim de semana. A segurança não foi exonerada, mas deixou de trabalhar cuidando de Marcela e foi realocada nos quadros do GSI. Segundo a assessoria de imprensa do Palácio do Planalto, a decisão foi tomada pelo próprio GSI, que viu no caso riscos para a primeira-dama.

O cão Picoly está na família do presidente Michel Temer desde setembro de 2016. Eles também cuidam do Golden Retriever Thor, que já apareceu em fotos ao lado do presidente Michel Temer nas redes sociais do peemedebista.

Ainda segundo informou a assessoria do Palácio do Planalto, Marcela Temer, como primeira-dama, tem a prerrogativa de andar com segurança, e agentes do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência costumam se revezar nessa função.