Valor econômico, v. 18, n. 4486, 19/04/2018. Política, p. A6.

 

PT busca prolongar vigília pró-Lula

Rafael Moro Martins

19/04/2018

 

 

Onze dias após a chegada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva à superintendência da Polícia Federal no Paraná para cumprir a pena de 12 anos e um mês a que foi condenado, a cúpula do PT se esforça para criar fatos que mantenham o acampamento montado próximo ao cárcere no noticiário político. Ontem, foi lida mais uma mensagem de Lula à militância, em tom emocional. "Vocês são o meu grito de liberdade todo dia. Se eu não tivesse feito nada na vida e construído com vocês essa amizade, já me faria um homem realizado. Por vocês valeu a pena nascer, e por vocês valerá a pena morrer", escreveu, segundo o vice-presidente da sigla, Márcio Macedo.

É a segunda mensagem atribuída a Lula lida por caciques petistas para manter a moral dos militantes que acampam para protestar contra a prisão. Na segunda, a presidente do PT, a senadora Gleisi Hoffmann, lera outra, mais curta, que dizia: "Ouvi os recados e as músicas que vocês cantaram. Estou muito agradecido pela existência e presença de vocês".

Também ontem, dirigentes de seis centrais sindicais desistiram de tentar visitar Lula. "Eles [os dirigentes das centrais] queriam vir, mas como não foi pedido à Justiça, não vai ter", admitiu a presidente da CUT no Paraná, Regina Cruz. Os sindicalistas aproveitaram os microfones à disposição para apresentar como novidade uma notícia de uma semana atrás - a decisão de fazer um ato nacional conjunto pelo dia do Trabalhador em Curitiba, tendo como pano de fundo a prisão de Lula.

No meio da tarde, a juíza substituta Carolina Lebbos, da 12ª Vara Federal, responsável pela execução da pena do ex-presidente, vetou a visita que o ativista de direitos humanos argentino Adolfo Pérez Esquivel, vencedor do Prêmio Nobel da Paz em 1980, pretendia fazer ao político. Pérez Esquivel invocou, em vão, as Regras Mínimas das Nações Unidas para o Tratamento de Presos, as chamadas "Regras de Mandela", um tratado que, ao ver dele, faria a visita prescindir de autorização judicial.

"Não se despreza a relevância das chamadas Regras de Mandela", escreveu a magistrada. "Contudo, consistem em recomendações a serem interpretadas, ponderadas e aplicadas de acordo com as peculiaridades de cada país, cada estabelecimento prisional e cada caso concreto", argumentou.

"[Esquivel] não apresenta fundamento concreto [para justificar o pedido]. Jamais chegou ao conhecimento deste juízo de execução informação de violação a direitos de pessoas custodiadas na Polícia Federal em Curitiba", anotou a juíza. "Especificamente em relação ao ex-presidente, reservou-se, inclusive, espécie de Sala de Estado Maior, separada dos demais presos, sem qualquer risco para a integridade moral ou física."

No despacho, ela ainda colocou obstáculos a que aliados de Lula repitam a estratégia usada pela Comissão de Direitos Humanos do Senado na terça passada - 11 parlamentares do PT, PSB, PCdoB e PDT foram autorizados a "realizar diligência nas instalações da carceragem da PF", na justificativa oficial.

"Já houve verificação das condições de custódia por Comissão de Direitos Humanos do Senado Federal [na terça], com autorização deste Juízo, inexistindo razão para a reiteração do ato", anotou a juíza, que disse ter em mãos três requerimentos semelhantes. "A repetida efetivação de tais diligências, além de despida de motivação, apresenta-se incompatível com o regular funcionamento da repartição pública e dificulta a rotina do estabelecimento de custódia", afirmou.

Com as visitas políticas provavelmente limitadas, resta ao PT levar algumas de suas principais figuras ao acampamento. Mas mesmo isso já tem ar de filme repetido. Ontem, o ex-chanceler Celso Amorim fez sua segunda passagem pelo local. Senadores, como Gleisi Hoffmann (PR) e o fluminense Lindbergh Farias, são habitués.

Hoje, Lula deverá receber a segunda visita de familiares. Na quinta passada, Fábio Luiz, conhecido como "Lulinha", Luiz Cláudio e Lurian, filhos do ex-presidente, e Tiago, neto, foram a Curitiba. Diferentemente dos políticos, eles entraram e saíram sem passar pelo acampamento.