O Estado de São Paulo, n. 45459, 04/04/2018. Política, p. A8.

 

 

Comandante diz que o Exército repudia impunidade

Marcelo Godoy e Eliane Cantanhêde

04/04/2018

 

 

O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, manifestou ontem por meio do Twitter o repúdio da Força à impunidade na véspera do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele não seja preso antes do fim de seu processo.

Assim escreveu o general: “Asseguro à Nação que o Exército Brasileiro julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia, bem como se mantém atento às suas missões institucionais.”

Sem se referir diretamente à sessão de hoje no STF, o general continuou suas manifestação, afirmando: “Nessa situação que vive o Brasil, resta perguntar às instituições e ao povo quem realmente está pensando no bem do País e das gerações futuras e quem está preocupado apenas com interesses pessoais?” Essa foi a primeira vez que Villas Bôas se pronuncia sobre o papel dos Poderes da República diante da decisão de hoje da Corte. Lula foi condenado a 12 anos de prisão.

A manifestação do general ocorreu à noite, quando estavam terminando os protestos pelo País que pediam a prisão de Lula. Generais ouvidos pelo Estado disseram que a manifestação de Villas Bôas “não continha nenhuma ameaça” ou “pressão”. “Se todos podem se manifestar, eles (os militares) também podem”. O próprio Villas Bôas deixou claro que sua fala “expressa a posição do Alto Comando do Exército e exclusivamente a da força”. Ou seja, ele não falou por conta própria, mas em nome do Exército e sem combinação com a Aeronáutica e a Marinha.

O Ministério da Defesa informou que Villas Bôas “mantém a coerência e o equilíbrio demonstrados em toda sua gestão, reafirmando o compromisso da Força Terrestre com os preceitos constitucionais”. “E manifesta sua preocupação com os valores e com o legado que queremos deixar para as futuras gerações. É uma mensagem de confiança e estímulo à concórdia”.

O general Sérgio Etchgoyen, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, disse ao Estado não ver problema com a declaração de Villas Bôas. “O general apenas reafirmou a obediência à Constituição e a preocupação com o bem comum acima dos interesses individuais.” Procurado, o presidente Michel Temer não se manifestou.

Depois da manifestação de Villas Bôas, diversos generais seguiram seu exemplo pelo Twitter. O ex-comandante militar da Amazônia, general Geraldo Antônio Miotto, disse: “Estamos firmes e leais ao nosso comandante! Brasil acima de tudo’ Aço!”. O general José Luiz Dias Freitas, comandante militar do Oeste, escreveu que o “comandante expressa as preocupações e anseios dos cidadãos brasileiros que vestem fardas”. O general da reserva Paulo Chagas escreveu: “Caro comandante, amigo e líder: Tenho a espada ao lado, a sela equipada, o cavalo trabalhado e aguardo suas ordens!”

 

PT. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), pelo Twitter, afirmou que, assim como Villas Bôas, “nós do PT defendemos o combate à impunidade e o respeito à Constituição, inclusive no que diz respeito ao papel das Forças Armadas”. “E o respeito à Constituição implica na garantia da presunção de inocência.” O ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot afirmou que “se for o que parece, outro 1964 será inaceitável. Mas não acredito nisso realmente”.

Mais cedo, o deputado Jorge Solla (PT-BA) havia pedido a Temer que o general da reserva Luiz Gonzaga Schroeder Lessa fosse preso “por crime de conspiração”. O general disse ao Estado que, se o STF permitir que Lula se candidate e seja eleito, não restará alternativa ao “recurso à reação armada”. Para Solla, “não se admite que um general emparede a Suprema Corte com a ameaça de golpe militar.”/ COLABOROU CARLA ARAÚJO

 

Respeito

“Asseguro à Nação que o Exército julga compartilhar o anseio de todos os cidadãos de bem de repúdio à impunidade e de respeito à Constituição, à paz social e à Democracia.”

Eduardo Villas Bôas

COMANDANTE DO EXÉRCITO