O globo, n. 30958, 11/05/2018. País, p. 4

 

Pesquisa Nacional do PMDB rechaça aliança com Alckmin

Catarina Alencastro, Bruno Góes e Robson Bonin

11/05/2018

 

 

Força-tarefa do partido descobre que 20 dos 27 diretórios estaduais rejeitam chapa com tucano

-BRASÍLIA- Em meio aos rumores de uma possível aliança eleitoral com o PSDB do pré-candidato a presidente Geraldo Alckmin, a cúpula do PMDB decidiu montar uma força-tarefa para colher a opinião das “bases” do partido sobre os rumos da eleição. Levantamento concluído pelo Palácio do Planalto nesta semana e obtido com exclusividade pelo GLOBO mostra que a aproximação com os tucanos é rejeitada por 20 dos 27 diretórios estaduais do PMDB. Se a convenção do partido fosse hoje, um eventual apoio peemedebista à candidatura de Alckmin seria rejeitado por 508 votos dos 629 delegados da cúpula peemedebista.

Nas últimas semanas, o presidente Michel Temer foi procurado por diferentes lideranças do PSDB para tratar das eleições de outubro. As conversas alimentaram especulações de que Temer estaria disposto a negociar com os tucanos a inclusão do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles na vaga de vice de Alckmin, o que o próprio ex-ministro sempre refutou. Ontem, o GLOBO revelou que Temer, em conversa no fim de semana com seu núcleo duro do governo, descartou sua candidatura e sinalizou apoio a Meirelles.

A rejeição dos integrantes do PMDB à reeleição e o avanço das investigações da Polícia Federal sobre o círculo familiar de Temer teriam determinado a decisão. Com Temer fora da urna, restaria a Meirelles o papel de defensor do governo, não como vice dos tucanos, mas como presidenciável.

O levantamento obtido pelo GLOBO revela um abismo entre peemedebistas e tucanos. A aliança com o PSDB é rejeitada por 20 das 27 unidades da federação (veja no mapa ao lado). Apenas cinco diretórios poderiam aprovar a composição de chapa com o PSDB. Pernambuco aparece como território indefinido no mapa peemedebista. Liderado pelo presidente do Congresso, Eunício de Oliveira, o diretório do Ceará deve caminhar nas eleições com o pré-candidato do PDT, Ciro Gomes.

A partir do levantamento do Planalto, O GLOBO foi a campo ouvir os mesmos diretórios estaduais do PMDB sobre a eventual candidatura de Meirelles. Das 20 unidades peemedebistas, 11 manifestaram apoio ao ex-ministro, quatro não revelaram preferência e cinco disseram oficialmente preferir não ter candidatura própria, mesmo que isso contrarie o presidente.

 

“O ALCKMIN NÃO EMPOLGA”, DIZ PICCIANI

No Rio de Janeiro, por exemplo, onde está o maior número de delegados que votarão na convenção nacional, as lideranças do PMDB dizem que o “plano A” é ter Meirelles candidato.

— Acho muito improvável uma aliança com o PSDB. O Alckmin não empolga. Não lidera nem em seu estado de origem. Neste momento, o plano A é ter candidatura própria — diz o deputado Leonardo Picciani.

Em São Paulo, o presidente do diretório regional, Baleia Rossi, vai pelo mesmo caminho do colega do Rio e diz que é importante o partido manter a candidatura de Meirelles, já que Paulo Skaf concorrerá ao governo do estado.

— Devemos conversar com outras legendas para buscar apoio, mas não podemos abrir mão de uma candidatura própria. A que hoje se coloca é a de Meirelles — diz Rossi, que também é o líder do PMDB na Câmara.

Em Goiás, estado de Meirelles, o PMDB também terá candidato próprio ao governo do estado. É o deputado Daniel Vilela. Para ele, o ex-ministro da Fazenda é uma aposta entre os goianos e não há hipótese de uma coligação local com o PSDB:

— O Meirelles é goiano, é muito bem-vindo no estado. A candidatura dele seria a melhor opção, inclusive no sentido de reforçar a nossa candidatura. Nosso maior adversário é o PSDB, não temos a menor condição de apoiá-lo.

 

EM DEFESA DA LIBERAÇÃO TOTAL

Em Santa Catarina, o presidente do partido, Mauro Mariani, diz que a candidatura de Meirelles seria boa para o PMDB.

— Ele pode ser uma novidade. Pode atrair os que já apoiam o presidente Temer e os que rejeitam o seu nome — disse o deputado.

O desejo de Temer de contar com um candidato que defenda seu governo esbarra em uma parcela de diretórios do PMDB. Além de recusar a aproximação com o PSDB, esse grupo também rejeita Meirelles defendendo que o partido siga para as eleições sem compromissos com qualquer candidato. Preocupado em eleger uma ampla bancada parlamentar, esses líderes peemedebistas desejam ter liberdade para se coligar com qualquer partido.

À frente do diretório do Piauí, Marcelo Castro avalia que a melhor solução é liberar os estados:

— Aqui nós temos uma aliança com o governador Wellington Dias, do PT. Nosso adversário é do PSDB. Politicamente, fica atravessado (um possível apoio a Alckmin). O ideal seria a liberação, mas isso pode não ser de interesse do PMDB nacional.

No Paraná, o partido é liderado pelo senador Roberto Requião, ferrenho opositor de Temer e aliado do ex-presidente Lula. Por esse motivo, no estado, o PMDB não vê com bons olhos a aliança com tucanos nem a candidatura própria.

Seguindo essa linha de raciocínio, há algumas semanas, o presidente do Congresso, senador Eunício de Oliveira (PMDB-CE), teve uma conversa com Temer em que deixou clara a rejeição a uma candidatura própria. Analisando o futuro eleitoral do PMDB, num momento em que o próprio Temer alimentava expectativas de que poderia ser candidato, Eunício disse a ele que não contasse com seu apoio na empreitada.

Comandante do partido no Ceará, um dos estados com maior número de votos na convenção peemedebista, Eunício resumiu sua estratégia dizendo que votaria e orientaria seus comandados a votar contra qualquer projeto de candidatura própria do PMDB ao Planalto, incluindo aí a possibilidade de o partido compor a vice em outra chapa. Para Eunício, em um momento complicado para a legenda, com todo o desgaste pós-impeachment, o melhor caminho seria esquecer a eleição presidencial e priorizar as candidaturas ao Legislativo e a governos estaduais.

Temer ouviu Eunício e prometeu não questionálo. Eunício deve disputar as eleições para o Senado na chapa do governador do PT, Camilo Santana, que terá o apoio nacional de Ciro.

O Espírito Santo é um dos poucos estados em que a aliança com o PSDB pode ser de fato incentivada. Segundo o deputado Lelo Coimbra (PMDB-ES), os tucanos são aliados históricos no estado. Paulo Hartung, governador do PMDB, governa com o PSDB e diz que a aliança é possível:

— Aqui no Espírito Santo temos uma parceria muito boa. Então, podemos tanto apoiar Alckmin como o Meirelles, caso haja candidatura própria.