O globo, n. 30936, 19/04/2018. País, p. 3

 

Afasta de mim

Sérgio Roxo e Fernanda Krakovics

19/04/2018

 

 

Mal nas pesquisas, pré-candidato tucano diz que prefere uma eleição sem Aécio nas urnas

-SÃO PAULO E RIO- Com dificuldade de decolar nas pesquisas, atrair partidos para sua aliança e defender a agenda da ética em meio a denúncias que atingem em cheio o seu partido, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, tentou ontem driblar um de seus principais obstáculos: deixou claro que quer distância do senador Aécio Neves (PSDB-MG), tornado réu esta semana no Supremo Tribunal Federal (STF) por corrupção e obstrução da Justiça.

Alckmin disse ontem que o cenário “ideal” é Aécio não ser candidato nas eleições deste ano. O tucano afirmou ainda que, em comparação com o PT, seu partido lida de uma forma diferente com as denúncias de irregularidades contra seus integrantes.

— Claro que o ideal é que não seja candidato, é evidente — afirmou Alckmin, que é presidente do PSDB, em entrevista à Rádio Bandeirantes.

Mais tarde, depois de participar em São Paulo de uma palestra para investidores promovida pelo banco Santander, o tucano foi questionado novamente sobre o assunto:

— O Aécio tomou a medida correta, se afastou da presidência do partido. Tenho certeza de que ele vai refletir. Ele ainda não foi julgado, não se deve fazer prejulgamento. Ele vai se defender.

Aécio, por sua vez, reagiu à declaração de Alckmin. O ex-candidato a presidente e hoje réu disse que a decisão acontecerá no seu estado.

— Quanto à minha candidatura, ela será decidida coletivamente em Minas Gerais, como sempre ocorreu, e no momento certo.

Alckmin vai começar a conversar hoje com o grupo político do senador mineiro, por telefone, para tentar aparar arestas. A interlocutores, o pré-candidato disse que é preciso deixar a temperatura baixar para buscar um meio-termo na convivência com Aécio durante a campanha, para não prejudicar o projeto do partido.

A expectativa no PSDB é que Aécio saia de cena, desistindo de disputar a reeleição ou uma vaga de deputado federal, para não atrapalhar ainda mais as candidaturas de Alckmin e do senador Antonio Anastasia (PSDB-MG), que foi convencido a disputar o governo de Minas.

Na avaliação de Alckmin, a situação de Aécio não pode ser comparada com a do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba.

— Partido político é uma estrutura. O que nos diferencia do PT? O PT desacredita das instituições, especialmente do Judiciário. O Lula tem duas condenações e é o imperador do PT. O Aécio não tem nenhuma condenação. Nós somos bem diferentes.

Apesar da tentativa de se descolar de Aécio, tratando as acusações contra ele como de caráter pessoal, não há no PSDB movimentação para uma medida mais drástica, como a suspensão ou afastamento do senador mineiro até o julgamento da ação penal no Supremo.

PALANQUES INDEFINIDOS NOS ESTADOS

O desgaste provocado pela abertura de ação penal contra Aécio ocorre no momento em que Alckmin tem enfrentado dificuldades para formar palanques nos estados, principalmente nos maiores colégios eleitorais, e de fechar alianças com outros partidos.

No Nordeste, tradicional reduto eleitoral do PT, o tucano não tem palanques fortes. No Ceará, por exemplo, apesar de seus apelos, o senador e exgovernador Tasso Jereissati (PSDB-CE) não está disposto a disputar o cargo mais uma vez.

Na Bahia, maior colégio eleitoral da região, o PSDB não tem um nome competitivo e pretende lançar para governador o deputado federal João Gualberto para garantir o palanque de Alckmin. O estado é um emblema de outro problema enfrentado pelo presidenciável tucano: a resistência do DEM, aliado de primeira hora em eleições anteriores, de apoiá-lo. O partido lançou a pré-candidatura ao Palácio do Planalto do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ). Assim, se Maia realmente for candidato, Alckmin perde um importante cabo eleitoral, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

No Sudeste, estratégico para compensar a baixa popularidade dos tucanos no Nordeste, Alckmin também enfrenta problemas, a começar por São Paulo. Ele deixou o governo do estado, no último dia 7, com índice de aprovação de 36%, segundo pesquisa Datafolha. Em 2006, quando também renunciou ao governo de São Paulo para disputar o Planalto, Alckmin tinha aprovação de 66% do eleitorado paulista. E ele não conseguiu unificar seus palanques em São Paulo. Seu vice, o atual governador Márcio França (PSB), disputará a reeleição, e o PSDB lançará o ex-prefeito de São Paulo João Doria para governador. Se o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa, que se filiou ao PSB, concorrer para presidente, Alckmin ainda terá que dividir o palanque de França com ele.

No Rio, Geraldo Alckmin tentou filiar ao PSDB o ex-prefeito Eduardo Paes, que pretende disputar o governado do estado, mas ele preferiu ir para o DEM.

Já no Sul, o pré-candidato tucano perde terreno nas pesquisas para os adversários Jair Bolsonaro (PSL) e Alvaro Dias (Pode). O PSDB deve ter candidato próprio no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.

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Secretário de Transportes vira réu em São Paulo

Dimitrius Dantas

19/04/2018

 

 

Suspeitas na compra de trens no governo Alckmin também atingem presidente do Metrô

-SÃO PAULO- Uma compra de trens durante o governo Geraldo Alckmin levou o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) a tornar réus o secretário de Transportes Metropolitanos do estado, Clodoaldo Pelissioni, o atual presidente do Metrô, Paulo Menezes de Figueiredo, e outros quatro ex-presidentes da companhia, incluindo o hoje chefe de gabinete do prefeito Bruno Covas, Sérgio Avelleda. A investigação do Ministério Público é sobre a aquisição e abandono de trens novos que ficaram parados enquanto as obras da Linha 5-Lilás não eram finalizadas.

Pelissioni foi denunciado porque exerceu o cargo de presidente do Metrô de março a setembro de 2015, quando assumiu a secretaria. À época do ato investigado, o secretário estadual de Transportes Metropolitanos era Jurandir Fernandes, também denunciado. O juiz Adriano Marcos Laroca, da 12ª Vara de Fazenda Pública, recebeu a ação de improbidade administrativa quase dois anos após a denúncia, feita em julho de 2016. O MP pede que os acusados paguem R$ 799 milhões para ressarcir as perdas que teriam causado.

Os réus são acusados de causar danos aos cofres públicos após terem mantido a compra de 26 trens para a linha 5-Lilás do Metrô em 2011, apesar da paralisação das obras do trecho no ano anterior.

A denúncia afirma que os presidentes do Metrô que sucederam a Sérgio Avelleda devem ser punidos por omissão.

Os trens, não utilizados, ficaram espalhados em diversos locais. Segundo a denúncia, estariam abandonados e sendo vandalizados. Dezesseis composições estavam em três pátios do Metrô: Jabaquara, Capão Redondo e Guido Caloi. Outras dez nunca saíram da fábrica da CAF, empresa fabricante, em Hortolândia, no interior do estado.

 

OUTRO LADO

A defesa de Jurandir Fernandes afirmou que a única acusação feita ao seu cliente foi ter assinado uma autorização de repasse. Segundo seu advogado, Marco Aurélio Martorelli, essa era sua obrigação legal. Em nota, Avelleda afirmou que é inocente: “Mesmo não tendo participado da referida contratação, Avelleda comprovará em juízo que não houve qualquer ato na gestão do referido contrato que justifique a ação contra ele”. O GLOBO procurou a Secretaria de Transportes Metropolitanos e o Metrô, mas não recebeu resposta até o fechamento desta edição.