Correio braziliense, n. 20029, 23/03/2018. Política, p. 5

 

Liberação de verba por MP

Rosana Hessel e Rodolfo Costa

23/03/2018

 

 

GUERRA URBANA » Presidente Temer se reúne com o comando da segurança no Rio e garante recursos para a intervenção. Etapas até a chegada dos recursos ainda são longas. Ideia é editar medida provisória para dar urgência aos trâmites sem prejudicar operações

O presidente Michel Temer viajou ao Rio de Janeiro na noite de quarta-feira para uma reunião com o comando da intervenção federal do estado para anunciar que a liberação dos R$ 1 bilhão previstos para custear a operação serão alocados em até três dias. “Nesses dois, três dias, nós estaremos já definindo a alocação desses recursos para a intervenção federal”, disse ele em seu discurso. No entanto, esse processo não é tão simples quanto parece.

Ainda há etapas para serem cumpridas, porque o governo não tem recursos sobrando no Orçamento. Não à toa, arrumou um jeito de incluir esse valor no bloqueio de R$ 18,2 bilhões, divulgado ontem pelo Ministério do Planejamento, para facilitar a liberação. O secretário do Orçamento Federal da pasta, George Soares, contou que o órgão ainda aguarda o detalhamento das despesas da intervenção e suas respectivas prioridades para poder elaborar o texto de uma medida provisória que será enviada ao Congresso Nacional. Dessa forma via MP, segundo ele, o dinheiro será liberado mais rapidamente.

Durante esse processo, contudo, será necessário que o governo detalhe a origem para cobrir essa despesa que não estava prevista. E isso não está ocorrendo, o que deixa especialistas em orçamento desconfiados. Inicialmente, esperava-se que esse gasto, assim como os R$ 3 bilhões a R$ 4 bilhões previstos para custear o recém-criado ministério da Segurança Pública, seria coberto pela receita com a reoneração da folha de pagamentos. Como o projeto de lei está com dificuldades para tramitar no Congresso, Soares contou que o governo já retirou da programação orçamentária os R$ 8,8 bilhões previstos com essa proposta.

O ministro-chefe da Secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, todavia, garantiu que os recursos para a intervenção federal no Rio de Janeiro independem da reoneração da folha de pagamento. Ele reforçou que a destinação de R$ 1 bilhão nas ações de segurança virá no decorrer dos próximos dias. “O mais importante é que a decisão está tomada e isso atende as reivindicações, pelo menos momentâneas. E, se, futuramente, mais necessidade houver, mais análises em relação às solicitações serão realizadas. E, se necessário for, serão empregados outros recursos”, afirmou.

Especialistas, no entanto, veem essa dificuldade do governo em arranjar receita para cobrir novas despesas no orçamento como mais um atropelo das autoridades. “A medida mostra uma carência de planejamento que não deveria ter sido desconsiderada e o que vejo agora é que as chances desses custos serem muito maiores do que estão divulgando são crescentes”, alertou o professor de Administração Pública da Universidade de Brasília José Matias-Pereira.

Frase

“O mais importante é que a decisão está tomada e isso atende as reivindicações, pelo menos momentâneas”

Carlos Marun, ministro-chefe da Secretaria de Governo

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Cobrança pela solução do caso

23/03/2018

 

 

A irmã da vereadora do Rio Marielle Franco (PSOL) cobrou que a polícia desvende o assassinato da irmã e do motorista dela, Anderson Gomes, executados a tiros na semana passada na capital fluminense. Em declaração à imprensa após participar de sessão solene do Dia Internacional do Direito à Verdade na Câmara dos Deputados, Anielle Franco disse acreditar que a irmã não foi morta pelas causas que defendia.

“Nossa família urge por Justiça. Que as autoridades competentes consigam descobrir o porquê disso, por que calarem minha irmã. Por quê? (...) Quero entender por que fizeram isso com ela. Pelas causas que ela defendia? Acho que não. Porque se fosse assim muita gente era para estar morta hoje em dia”, afirmou Anielle. “Independente de posição política, ninguém merece morrer como ela morreu”, acrescentou.

Anielle disse que a família está muito “sentida” com mentiras sobre a vereadora. “Muita coisa sendo dita que não é verdade. Toda vez que falo: vou dar só uma declaração, sinto uma necessidade muito grande de falar para vocês que, em nome da família, a gente está muito sentido.”

O PSol ingressou com representação no Conselho de Ética da Câmara contra o deputado Alberto Fraga (DEM-DF), sob acusação de que ele quebrou o decoro parlamentar por ter divulgado informações falsas sobre Marielle. Na sexta-feira, ele publicou no Twitter um comentário em que apontava suposta relação entre a vereadora e uma organização criminosa. A postagem foi removida de seu perfil no domingo, após protestos dos internautas.

“A gente quer dizer que o Brasil precisa que esse crime seja esclarecido. Isso não pode ficar impune, enquanto muitos outros já ficaram impunes, esse não pode. Não é porque é minha irmã. Não é isso. Não quero colocar ninguém no pedestal. Quero dizer que foi uma covardia, uma barbaridade”, afirmou Anielle. “A gente quer dizer que quem fez acordou um gigante, um gigante que talvez estevisse adormecido, mas que a gente vai seguir na luta.”

Também presente na sessão solene na Câmara, a companheira de Marielle, Mônica Benício, também cobrou resposta da polícia em rápido discurso na tribuna da Casa. “As autoridades brasileiras competentes não devem só a mim a satisfação sobre o que aconteceu com a minha mulher, porque isso não vai trazer ela de volta, mas ao mundo o respeito e satisfação do que aconteceu nesse crime bárbaro”, afirmou.

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Três PMs assassinados

Bruno Santa Rita

23/03/2018

 

 

Três policiais militares foram assassinados em menos de 24 horas durante patrulha ou em assaltos com tiroteio. Uma das mortes foi a do soldado Felipe Santos de Mesquita, que ocorreu na região conhecida como “Boidadeiro”, na Rocinha. Mesquita era lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha, tinha 28 anos, era solteiro e estava na corporação havia dois 2 anos. O tiroteio que tirou a vida de Mesquita também foi responsável por matar Antônio Ferreira da Silva, 70 anos, que trabalhava na região consertando eletrodomésticos.

Outro policial que foi morto no mesmo dia foi o sargento Maurício Chagas Barros, 37 anos, do 39º Batalhão da Polícia Militar (BPM), em Belford Roxo. Ele faleceu em um confronto na comunidade Gogó da Ema, na Baixada Fluminense. Os policiais militares realizavam uma operação na comunidade quando foram atacados por criminosos. Depois de atingido, o sargento foi encaminhado para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Bom Pastor, mas não resistiu aos ferimentos. O policial estava na corporação havia 16 anos e era casado.

Sepultamentos

A terceira vítima foi o cabo Luciano da Silva Coelho, lotado no 25ºBPM, de Cabo Frio. Ferido após criminosos atirarem durante um roubo a estabelecimento comercial no Centro de Cabo Frio, na Região dos Lagos, o cabo não resistiu e morreu no local. O policial estava à paisana, tinha 38 anos e participava da Corporação havia sete anos.

Os sepultamentos do Sargento Maurício Chagas Barros e do Cabo Luciano da Silva Coelho aconteceram ontem. O primeiro foi às 13h30, no cemitério Parque Jardim da Saudade, em Sulacap; e o segundo, no Cemitério de São Pedro da Aldeia, em São Pedro da Aldeia, às 16h. O soldado Felipe Santos de Mesquita será sepultado hoje, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap, capela 3, às 14h.