Título: Ataques a bomba deixam 27 mortos
Autor: Garcia, Larissa
Fonte: Correio Braziliense, 18/03/2012, Mundo, p. 24

Atentados simultâneos atingiram prédios das forças de segurança de Bashar Al-Assad

Dois dias após os conflitos na Síria completarem um ano, pelo menos 27 pessoas morreram e 97 ficaram feridas em dois ataques simultâneos a prédios dos serviços de segurança ocorridos ontem na capital, Damasco. Autoridades anunciaram que os atentados foram realizados por "grupos terroristas". No mesmo dia, um diplomata árabe confessou à agência de notícias France-Presse que a Arábia Saudita envia armas ao Exército Sírio Livre — opositor ao regime de Bashar Al-Assad — pela fronteira com a Jordânia. Desde o início do derramamento de sangue no país, mais de 9 mil pessoas foram mortas em represálias do governo, segundo relatórios de organizações dos direitos humanos.

Segundo o canal de televisão oficial do país, Al-Ikhbarya, dois carros-bomba foram utilizados nos ataques. Analistas falaram à emissora que a Arábia Saudita e o Qatar — que manifestaram apoio ao armamento dos rebeldes — têm responsabilidade "política, jurídica e religiosa" pelos atentados. O ditador sírio luta para manter-se no poder, apesar de a comunidade internacional e a população pedirem que a democracia seja instaurada, em um cenário que muitos analistas caracterizam como guerra civil. Desde o início dos conflitos, em março do ano passado, a população síria foi vítima de vários atentados, tanto por parte do regime quanto da oposição. Em 6 de janeiro, uma bomba atingiu o centro de Damasco e provocou a morte de dezenas de civis.

Os ataques mostram que os conflitos na Síria estão longe de terminar. "O regime ainda não caiu porque a verdade é que a população não quer isso. O número de pessoas que quer manter Al-Assad no poder é maior e esse é o impasse. A estratégia do governo é acelerar o processo de reformas enquanto tenta acabar com a insurreição armada", opinou o professor de direito internacional da Fundação Getúlio Vargas, Salem Nasser, descendente de libaneses. No aniversário da revolta, milhares de pessoas foram às ruas em apoio a Al-Assad, em um movimento denominado pelo governo como "Marcha global pela Síria".

Por isso, a comunidade internacional recrimina que a oposição receba armamento. "O povo está profundamente dividido e, se dermos armas à oposição, criaremos uma guerra civil", justificou o ministro das Relações Exteriores da França, Alain Juppé. O Iraque também já informou ao Irã, país aliado à Síria, que não permitirá o envio de material bélico ao país através de seu território. "Nenhum carregamento de de munições de qualquer partido ou país passará pelo espaço aéreo ou pelas fronteiras do nosso país", anunciou o porta-voz do governo, Ali al-Dabbagh.

Intervenção A comunidade internacional se empenha, sem sucesso, para encontrar uma solução para a crise. Na última sexta-feira, o representante da ONU e da Liga Árabe, Kofi Annan, afirmou que mais uma tentativa de negociação fracassou. Segundo ele, a resposta da Síria às suas propostas foram "decepcionantes". No último fim de semana, o diplomata se reuniu, a portas fechadas, com o presidente do país. Com a negativa, ele pediu que os membros do Conselho de Segurança da ONU se unam para aumentar a pressão sobre Damasco.

No início do mês passado, líderes da diplomacia árabe apresentaram um projeto no Conselho de Segurança da ONU, apoiado pelas potências ocidentais, no qual o ditador cederia o poder ao vice e retiraria tropas das cidades. O processo iniciaria a transição para a democracia no país. A Rússia e a China, no entanto, votaram contra a iniciativa. Na quinta-feira, organizações de ajuda humanitária e direitos humanos fizeram um apelo a Moscou e a Pequim para que ajudem na intervenção contra o governo sírio.