O Estado de São Paulo, n. 45254, 11/09/2017.Política, p.A4

 

 

 

 

Joesley se entrega à PF e delação fica sob ameaça

COLABORAÇÃO SOB SUSPEITA / Delatores estão presos temporariamente por determinação do ministro Edson Fachin; inquérito deve apurar se ex-procurador Marcello Miller atuou nas tratativas do acordo

Por: Rafael Moraes Moura / Luiz Vassallo / Fausto Macedo

 

Rafael Moraes Moura / BRASÍLIA

Luiz Vassallo

Fausto Macedo

 

O empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, e o diretor da empresa Ricardo Saud se entregaram na tarde de ontem à Polícia Federal em São Paulo após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a prisão temporária dos dois delatores por cinco dias. Para o ministro, há “indícios suficientes” de que ambos violaram o acordo de colaboração premiada ao omitir a participação do ex-procurador Marcello Miller no processo de delação. Fachin afirmou ainda que há indícios de que as delações ocorreram de maneira “parcial e seletiva”.

Os benefícios concedidos a Batista e Saud foram suspensos temporariamente por determinação de Fachin. Segundo apurou o Estado, se a anulação da imunidade penal for mantida, uma das linhas de defesa analisadas pelos advogados de Joesley e da J&F é interromper a colaboração com a Justiça. Em outras palavras, colocar fim à delação premiada. Se isso ocorrer, todos os processos e procedimentos instaurados com base nas informações prestadas por Joesley e Saud sofrerão prejuízos imediatos e deverão ser comprometidos.

Só para se ter uma ideia dos eventuais prejuízos às investigações, Joesley e Saud, por exemplo, terão de prestar uma série de depoimentos à Justiça em processos já em andamento ou que ainda vão ser instaurados, como vem ocorrendo com o empreiteiro Marcelo Odebrecht, que teve a delação premiada homologada pelo Supremo e continua a colaborar com as autoridades. Se Joesley deixar de colaborar, isso poderia inviabilizar dezenas de processos contra políticos citados pelos executivos da empresa, entre eles o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foram alvo de gravações feitas pelo empresário.

A reviravolta no caso ocorre após os próprios delatores entregarem a gravação de uma conversa, ocorrida possivelmente no dia 17 de março, antes da assinatura do acordo. No áudio, Joesley e Saud falam da participação do Miller nas tratativas para a delação. O ex-procurador, que atuou na Operação Lava Jato, pediu exoneração da PGR em fevereiro, mas deixou oficialmente a equipe de Janot apenas em abril. Após sair do cargo, ele foi trabalhar no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que atuou em parte da negociação para a leniência do Grupo J&F.

 

Omissão. O ministro Edson Fachin decidiu pela prisão na sexta-feira à noite, no mesmo dia em que Janot encaminhou ao STF o pedido. Ontem, ao tornar pública a decisão, Fachin deixou claro que, para ele, há indícios suficientes de que delatores omitiram informações.

“Percebe-se pelos elementos de convicção trazidos aos autos que a omissão por parte dos colaboradores quando da celebração do acordo diz respeito ao, em princípio, ilegal aconselhamento que vinham recebendo do então procurador da República Marcello Miller”, afirmou.

Fachin disse ainda que, soltos, Joesley e Saud poderiam continuar ocultando informações da Justiça: “Em liberdade, os colaboradores encontrarão os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatórios, os quais se comprometeram a entregar às autoridades em troca de sanções premiais, mas cuja entrega ocorreu, ao que tudo indica, de forma parcial e seletiva”.

Joesley e Saud se entregaram ontem à tarde na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Os delatores dormiriam no prédio e a previsão é de que eles sejam transferidos para Brasília ainda hoje.

Em nota, o Grupo J&F declarou que seus executivos “não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada”. No texto, o grupo assinalou ainda que os executivos “estão cumprindo o acordo”. / COLABORARAM BEATRIZ BULLA e DAYANNE SOUSA

O empresário Joesley Batista, dono do Grupo J&F, e o diretor da empresa Ricardo Saud se entregaram na tarde de ontem à Polícia Federal em São Paulo após o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizar a prisão temporária dos dois delatores por cinco dias. Para o ministro, há “indícios suficientes” de que ambos violaram o acordo de colaboração premiada ao omitir a participação do ex-procurador Marcello Miller no processo de delação. Fachin afirmou ainda que há indícios de que as delações ocorreram de maneira “parcial e seletiva”.

Os benefícios concedidos a Batista e Saud foram suspensos temporariamente por determinação de Fachin. Segundo apurou o Estado, se a anulação da imunidade penal for mantida, uma das linhas de defesa analisadas pelos advogados de Joesley e da J&F é interromper a colaboração com a Justiça. Em outras palavras, colocar fim à delação premiada. Se isso ocorrer, todos os processos e procedimentos instaurados com base nas informações prestadas por Joesley e Saud sofrerão prejuízos imediatos e deverão ser comprometidos.

Só para se ter uma ideia dos eventuais prejuízos às investigações, Joesley e Saud, por exemplo, terão de prestar uma série

de depoimentos à Justiça em processos já em andamento ou que ainda vão ser instaurados, como vem ocorrendo com o empreiteiro Marcelo Odebrecht, que teve a delação premiada homologada pelo Supremo e continua a colaborar com as autoridades. Se Joesley deixar de colaborar, isso poderia inviabilizar dezenas de processos contra políticos citados pelos executivos da empresa, entre eles o presidente Michel Temer e o senador Aécio Neves (PSDB-MG), que foram alvo de gravações feitas pelo empresário.

A reviravolta no caso ocorre após os próprios delatores entregarem a gravação de uma conversa, ocorrida possivelmente no dia 17 de março, antes da assinatura do acordo. No áudio, Joesley e Saud falam da participação do Miller nas tratativas para a delação. O ex-procurador, que atuou na Operação Lava Jato, pediu exoneração da PGR em fevereiro, mas deixou oficialmente a equipe de Janot apenas em abril. Após sair do cargo, ele foi trabalhar no escritório de advocacia Trench, Rossi e Watanabe, que atuou em parte da negociação para a leniência do Grupo J&F.

Omissão. O ministro Edson Fachin decidiu pela prisão na sexta-feira à noite, no mesmo dia em que Janot encaminhou ao STF o pedido. Ontem, ao tornar pública a decisão, Fachin deixou claro que, para ele, há indícios suficientes de que delatores omitiram informações.

“Percebe-se pelos elementos de convicção trazidos aos autos que a omissão por parte dos colaboradores quando da celebração do acordo diz respeito ao, em princípio, ilegal aconselhamento que vinham recebendo do então procurador da República Marcello Miller”, afirmou.

Fachin disse ainda que, soltos, Joesley e Saud poderiam continuar ocultando informações da Justiça: “Em liberdade, os colaboradores encontrarão os mesmos estímulos voltados a ocultar parte dos elementos probatórios, os quais se comprometeram a entregar às autoridades em troca de sanções premiais, mas cuja entrega ocorreu, ao que tudo indica, de forma parcial e seletiva”.

Joesley e Saud se entregaram ontem à tarde na Superintendência da Polícia Federal em São Paulo. Os delatores dormiriam no prédio e a previsão é de que eles sejam transferidos para Brasília ainda hoje.

Em nota, o Grupo J&F declarou que seus executivos “não mentiram nem omitiram informações no processo que levou ao acordo de colaboração premiada”. No texto, o grupo assinalou ainda que os executivos “estão cumprindo o acordo”. / COLABORARAM BEATRIZ BULLA e DAYANNE SOUSA

 

 

 

 

Fachin nega pedido de prisão de ex-procurador

Por: Rafael Moraes Moura / Luiz Vassallo / Andreza Matais / Fernanda Nunes

O ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, negou o pedido de prisão do ex-procurador da República Marcello Miller feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na sexta-feira. Fachin, no entanto, disse ver “consistentes indícios de exploração de prestígio” por parte do advogado.

Miller é citado em conversa entre Joesley Batista e Ricardo Saud, delatores da J&F. Após deixar o Ministério Público, ele passou a integrar escritório de advocacia que negociou o acordo de leniência da J&F.

Ontem, em nota, o ex-procurador disse repudiar “o conteúdo fantasioso e ofensivo” das menções ao seu nome nas gravações. Ele afirmou ainda que “jamais fez jogo duplo ou agiu contra a lei”. “Enquanto procurador, (Miller) nunca atuou em processos relativos ao Grupo J&F nem buscou dados no Ministério Público sobre essas empresas”, diz a nota. / R.M.M., L.V., ANDREZA MATAIS e FERNANDA NUNES

 

 

 

 

 

'Recepção' tem fogos de artifício

Na porta da PF / Manifestantes pró-Lava Jato apoiam prisão
Por: Dayanne Sousa

Um grito de “pega ladrão” rompeu o silêncio na rua de casas de luxo, cercadas por muros altos, onde mora o empresário Joesley Batista, no Jardim Europa, na capital paulista. Ainda não eram 7h e a intensa movimentação da imprensa despertava a atenção de quem passava na região. Joesley estava a 1.600 metros dali, refugiado na casa do pai.

A rua arborizada e de grandes casas é a rota de motoristas e pessoas que se exercitam ou passeiam com cachorros. Após a notícia de que o pedido de prisão de Joesley havia sido aceito pelo ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), diversos frequentadores do bairro expressaram apoio à prisão. “Cadeia!”, afirmou um senhor que não se identificou. Outra vizinha disse apoiar o trabalho dos jornalistas: “Gostaria muito que vocês filmassem ele sendo preso”.

Às 14h40, a jornalista Ticiana Villas Boas, mulher de Joesley, deixou a casa dirigindo um Porsche e evitou a imprensa. Ela foi para a casa do sogro, na Rua Haddock Lobo, mas não se encontrou com o marido, que havia saído cerca de 40 minutos antes.

Na porta da Polícia Federal, Joesley foi recebido com fogos de artifício. Três mulheres vestindo camisetas de apoio à Operação Lava Jato se declararam “indignadas” com as atitudes recentes do empresário. / DAYANNE SOUSA