O globo, n.30851 , 24/01/2018. PAÍS, p.8

Além de Cristiane, ministro das Cidades preocupa Planalto

LETICIA FERNANDES

DÉBORA BERGAMASCO

 

 

 
Temor é que Baldy, empossado em novembro, saia para concorrer

Com a nomeação da deputada Cristiane Brasil (PTB-RJ) para o Ministério do Trabalho suspensa há 15 dias, o presidente Michel Temer poderá enfrentar outro problema num futuro próximo: a possibilidade de o ministro das Cidades, Alexandre Baldy, deixar o cargo para concorrer nas eleições de outubro.

Se o plano de Baldy se concretizar, ele será mais um dos ministros a sair, até abril, da pasta que assumiu em novembro do ano passado, deixando vago mais um dos ministérios que o presidente terá que preencher com a saída dos titulares que serão candidatos.

O problema, segundo pessoas próximas a Temer, é que o ministro verbalizou ao presidente que ficaria até o fim do governo, mas aliados têm percebido, em conversas com Baldy, o desejo do ministro em disputar a eleição.

Procurado pelo GLOBO, o ministro das Cidades afirmou que está focado no trabalho à frente da pasta, mas disse que nunca se comprometeu a não concorrer.

— Hoje eu só cogito ser ministro. Não fiz o compromisso de ser ou não ser candidato, mas não falo de eleição, e o estado que menos vou em agendas é Goiás (sua base eleitoral) — afirmou Baldy, negando ter dito a Temer que ficaria até o fim de seu governo: — Eu nunca discuti sobre momento de sair, só discuti o momento de entrar e fazer um bom trabalho.

O caso de Cristiane Brasil, que segue com a posse suspensa, também é problemático. Cresce no Planalto a desconfiança sobre o compromisso dela com Temer de não concorrer se virar ministra. O temor de pessoas próximas ao presidente é que, após todo o desgaste com a sucessão de investidas e de derrotas para garantir a posse, Cristiane resolva tentar se reeleger deputada federal.

Setores do governo temem que um recurso ao plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) para garantir a posse de Cristiane possa provocar efeitos colaterais indesejáveis. Isso porque, se perder no colegiado, a derrota abre a possibilidade de os magistrados fixarem o entendimento de que a Justiça pode estabelecer certas regras para que o presidente da República nomeie um ministro.

O efeito imediato de uma decisão majoritária do STF pode ser o engessamento para futuras nomeações presidenciais, acreditam conselheiros no Palácio do Planalto. Se por um lado garante a segurança jurídica e respaldo para as próximas escolhas, por outro lado, limita as possibilidades de o governo atender as indicações da base aliada.

Até o início de abril, Temer terá que escolher 13 nomes para substituir ministros que deixarão seus cargos para concorrer na eleição de outubro. O excesso de regras para este tipo de nomeação pode dificultar a governabilidade. Os governistas estão contando com a nova distribuição de cargos de alto escalão para garantir fidelidade no Congresso Nacional, especialmente a fim de selar votos favoráveis para a aprovação da reforma da Previdência.

Há preocupação ainda, embora remota, que surjam brechas que possam reabrir discussões sobre a permanência de Moreira Franco como ministro da Secretaria Geral da Presidência.