O Estado de São Paulo, n. 45234, 22/08/2017. Política, p.A10
Por: Renan Truffi / Vera Rosa / Igor Gadelha
Renan Truffi
Vera Rosa
Igor Gadelha /BRASÍLIA
Aliados do senador Aécio Neves (MG) e ministros tucanos do governo Michel Temer intensificaram a pressão pela saída do presidente interino do PSDB, Tasso Jereissati (CE). Já há tucanos que pedem abertamente a destituição do senador cearense.
Ontem à noite, em um jantar, a sucessão na sigla foi discutida. Participaram do encontro Bruno Araújo (Cidades), Antonio Imbassahy (Governo), o governador de Goiás, Marconi Perillo, e deputados, entre eles o anfitrião, Giuseppe Vecci (GO), vice-presidente nacional da legenda cotado para substituir Tasso.
Mais cedo, o deputado Marcus Pestana (MG), aliado de Aécio, defendeu a saída do presidente interino e disse que, se o senador permanecer no cargo, o partido sairá mais dividido. “Infelizmente caminhamos para um impasse. Tasso agiu por seis vezes em curto espaço de tempo contra a posição majoritária. Agora, ou ele se afasta e prevalece a visão da maioria, ou ele fica e o partido saí esfacelado do governo”, afirmou.
Mesmo pressionado, Tasso Jereissati deve continuar no cargo. Entre seus apoiadores, a avaliação, por ora, é de que sua saída implicará aproximação ainda maior com o governo.
O Palácio do Planalto incentiva a estratégia articulada por Aécio, presidente licenciado, para destituir Tasso. Embora Temer negue interferência em “assuntos internos” dos tucanos, Tasso é visto com muita desconfiança e sua permanência no comando do partido tem sido considerada desagregadora. Tasso defende a saída do governo e foi o responsável pelo vídeo do PSDB que critica o “presidencialismo de cooptação”.
Escancarada na semana passada, com três reuniões entre Temer e Aécio, a articulação para esvaziar o poder de Tasso não é de hoje, mas ficou mais forte após a divulgação do programa do partido. Tasso assumiu o comando do PSDB, em caráter provisório, depois que Aécio foi atingido pelas delações da JBS.
“O governo respeita o PSDB, que está vivendo um dilema. Não está interferindo. É um dilema que eles têm que resolver”, afirmou o presidente do PMDB, Romero Jucá (RR), e líder no Senado. Em conversas reservadas, porém, interlocutores de Temer dizem que Aécio havia conseguido “estabilizar” o PSDB e foi “atropelado” por Tasso.
2018. O senador cearense é chamado no Planalto de “personalista” e muitos veem em seus movimentos uma tentativa de ocupar espaço para emplacar uma candidatura à sucessão de Temer, em 2018.
Cotado para disputar a Presidência, o governador Geraldo Alckmin se colocou ontem contra o movimento que tenta retirar Tasso do comando nacional da sigla. Em conversas reservadas, Tasso defende a candidatura de Alckmin ao Planalto. “A questão da direção partidária já foi resolvida, o Aécio já se afastou, o Tasso já assumiu e vai conduzir bem esse trabalho (de transição para as convenções) ”, afirmou Alckmin.
No caso de uma eventual saída de Tasso, Aécio teria de reassumir de forma definitiva o cargo ou indicar um dos sete vice-presidentes para o posto. / COLABORARAM MARCO ANTÔNIO CARVALHO e PEDRO VENCESLAU
Tucano. Senador Tasso Jereissati, presidente interino do PSDB, é defensor da saída do partido do governo Michel Temer
PONTOS-CHAVE
Os impasses e as divisões entre tucanos
Desembarque
Após a divulgação das delações de executivos do Grupo J&F, os tucanos se dividiram entre continuar no governo Michel Temer ou desembarcar. Áudio da delação mostra ligação entre Joesley Batista e Aécio Neves, presidente do PSDB. Senador se afasta e Tasso Jereissati assume interinamente.
Presidência
Em meio aos impasses internos, PSDB ainda assiste a disputas entre tucanos, como Geraldo Alckmin e João Doria, pela vaga a candidato a presidente.
Autocrítica
Programa de TV com admissão de ‘erros’ causou mais mal-estar entre tucanos. Peça publicitária foi elaborada com a orientação de Tasso Jereissati
O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse ontem que seu partido pretende ter candidato próprio à Presidência em 2018. Em entrevista durante o “Fórum Estadão” sobre reforma política, Maia afirmou que as divergências internas do PSDB, aliado histórico do DEM, abrem espaço para que a sigla trilhe caminho próprio no próximo pleito.
“O (prefeito de São Paulo, João) Doria é do PSDB. O Doria e o Geraldo (Alckmin, governador de São Paulo) vão se entender no PSDB, e o DEM vai ter candidato próprio à presidente”, disse Maia, após negar que seu partido tenha convidado Doria para ser candidato em 2018. “Partido serve para ocupar poder. Ninguém pode querer ter um partido para ser auxiliar de poder dos outros.”
Impeachment. Para Maia, autorizar a abertura de um pedido de impeachment contra o presidente Michel Temer neste momento seria “querer parar o Brasil”. “A Câmara já decidiu sobre esse assunto. Foi uma decisão democrática. Alguns acham bom outros acham ruim, mas que foi democrática, foi”, afirmou, referindo-se à rejeição da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Temer no dia 2 de agosto. / I.G. e ALTAMIRO SILVA JÚNIOR