Moro mantém Bendine preso

Antonio Temóteo

01/08/2017

 

 

O juiz federal Sérgio Moro decretou a prisão preventiva, sem prazo determinado, do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, já que a temporária vencia ontem. Ele está na cadeia desde quinta-feira. O magistrado acatou os argumentos de procuradores da República que integram a força-tarefa da Operação Lava-Jato. Eles afirmaram que são fortes as evidências de que ele cometeu os crimes de corrupção, de pertencimento a organização criminosa e de lavagem de dinheiro.

Conforme os membros do Ministério Público Federal (MPF), “é imprescindível decretação da prisão preventiva dos representados Aldemir Bendine, André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira Junior para a garantia da ordem pública, aplicação da lei penal e por conveniência da instrução criminal”, detalharam em petição encaminhada à Justiça.

Em depoimento prestado também ontem à PF, Bendine negou que tenha recebido propina de R$ 3 milhões da Odebrecht, em depoimento realizado ontem à Polícia Federal. Ele detalhou que não recebeu valores ilícitos de qualquer empresa. Comentou que tinha boa relação com o publicitário André Gustavo Vieira da Silva, mas negou que mantivessem “relações profissionais”.

O ex-presidente de duas das maiores estatais do país ainda relatou que, enquanto foi presidente do Banco do Brasil, “negou inúmeros pleitos da Odebrecht, como o pedido de financiamento da construção do estádio do Corinthians”. Bendine foi preso durante a 42ª fase da Operação Lava-Jato, denominada Operação Cobra. Ele é suspeito de ter recebido propina da construtora baiana. Na ocasião também foram presos André Gustavo e o irmão, Antonio Carlos Vieira Júnior.

Na lista de propinas da empreiteira, Bendine era identificado como “Cobra”. O empresário Marcelo Odebrecht, preso desde junho de 2015, disse em delação premiada que pagou R$ 3 milhões a Bendine. À PF Bendine afirmou que “contrariou Marcelo Odebrecht, cancelou negócios e manteve seus contratos suspensos em decorrência das investigações no âmbito da Lava-Jato”. Ele ainda comentou que teve “conversa tensa com representantes da Odebrecht em escritório de advocacia que atendia ambas as empresas”.

Sobre a viagem que faria a Portugal, o ex-executivo voltou a afrmar que se tratava de “uma viagem turística, com a família, que tinha passagem de volta”. Os advogados do ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras entregaram ao juiz Sérgio Moro comprovantes de que pretendia retornar ao Brasil em 19 de agosto. Para reforçar o argumento, os criminalistas Pierpaolo Bottini e Cláudia Vara San Juan de Araujo, juntaram aos autos da Operação Cobra as reservas em hotéis de quatro países, Portugal, Hungria, Áustria e República Tcheca. Bendine ainda disse que “foi surpreendido com sua prisão, uma vez que já tinha manifestado intenção de prestar depoimento e abriu mão do seu sigilo fiscal e do bancário”.

Por ordem do juiz federal Sérgio Moro, o Banco Central (BC) bloqueou R$ 3.417.270,55 de contas bancárias de Bendine. O confisco foi informado ao magistrado ontem. Moro decretou o bloqueio de R$ 3 milhões de Bendine, dos publicitários André Gustavo e Antônio Carlos Vieira Junior e da empresa de ambos, a MP Marketing e Planejamento Institucional e Sistema de Informação. O bloqueio superou, portanto, em R$ 417.270,55 o valor determinado pelo magistrado.

No Banco do Brasil, foram congelados exatamente R$ 3 milhões de uma conta de Bendine. Em outra conta, no Bradesco, ficaram presos 417.253,09. Na Caixa Econômica Federal, foram encontrados R$ 17,46. A MP Marketing teve R$ 36,41 congelados. O BC bloqueou R$ 18.386,81 de Antonio Carlos Vieira Junior —R$ 17.467,58 de uma conta no Banco do Brasil e R$ 919,23 de outra no Safra. André Gustavo Vieira Junior teve R$ 637.285,53 confiscados — R$ 631.210,15 de uma conta no Banco Original e o valor restante de outra no Banco BRB.

 

 

Correio braziliense, n. 19789, 01/08/2017. Política, p. 4.