O globo, n.30721 , 16/09/2017. PAÍS, p.5

TEMER QUER BARRAR DENÚNCIA ANTES DE GEDDEL FALAR

CRISTIANE JUNGBLUT

ANDRÉ SOUZA

16/09/2017

 

 

 

O Planalto tem pressa para enterrar a denúncia contra o presidente Temer por receio de que o ex-ministro Geddel Vieira Lima tente delatar. O presidente Michel Temer quer barrar a denúncia por organização criminosa e obstrução de Justiça feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na discussão que o Supremo Tribunal Federal (STF) fará sobre o tema, mas, se isso não ocorrer, irá trabalhar por uma tramitação rápida na Câmara. Nos bastidores, o temor no Planalto não é com a última flechada de Janot, e sim com uma delação do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Por isso, quer enterrar a denúncia “antes que Geddel fale”.

Geddel e Temer são aliados políticos desde os anos 1990 e cresceram no Congresso quase simultaneamente a partir do governo Fernando Henrique Cardoso. Por ao menos duas décadas, ambos integraram o núcleo do grupo do PMDB da Câmara. Tanto com mandatos como fora deles, Geddel sempre foi um dos interlocutores mais próximos do presidente. Foi a pedido de Temer que a então presidente Dilma Rousseff nomeou Geddel para uma vice-presidência da Caixa em seu primeiro governo. O advogado Gustavo Ferraz, cujas digitais, assim como as de Geddel, estavam em parte dos R$ 51 milhões atribuídos ao exministro e encontrados em um apartamento em Salvador, diz que recolheu dinheiro para o baiano em 2012, justamente quando ele estava na Caixa.

Seguindo a estratégia de interromper a denúncia ainda no Judiciário, a defesa de Temer pediu ontem que o ministro Edson Fachin devolva à Procuradoria-Geral da República (PGR) a segunda denúncia. Antônio Mariz, advogado de Temer, alega que a denúncia relata supostos crimes cometidos antes de Temer assumir a presidência. E a Constituição diz que o presidente só pode ser investigado por atos ocorridos durante o exercício do cargo. Fatos anteriores só podem ser apurados depois que ele deixar o posto.

Na quinta-feira, a defesa de Temer já tinha pedido que Fachin suspendesse o envio da segunda denúncia à Câmara. Fachin concordou e decidiu esperar o fim do julgamento no STF, previsto para ser retomado na próxima quarta-feira.