Aécio volta ao Senado, mas segue afastado da presidência do PSDB

Fabio Murakawa

05/07/2017

 

 

O senador Aécio Neves (PSDB-MG) pisou ontem pela primeira vez após 48 dias no Senado e fez um discurso em plenário com críticas à condução da Operação Lava-Jato, à Procuradoria-Geral da República e ao empresário Joesley Batista, dono da JBS. Mas, apesar do retorno às suas funções, ele permanecerá afastado da presidência do partido, que continuará interinamente nas mãos do senador Tasso Jereissati (CE).

Aécio teve o mandato suspenso em 18 de maio, por ordem do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF). Na sexta-feira, o também ministro Marco Aurélio Mello ordenou seu retorno e indeferiu um pedido de prisão contra ele feito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

Em sua fala no plenário, o senador se defendeu das acusações feitas por Joesley contra ele na delação que resultou em seu afastamento. E criticou os benefícios concedidos por Janot ao empresário, que livrou-se de penas de prisão por haver delatado altas autoridades como Aécio e o presidente Michel Temer.

"Não aceitei recursos de origem ilícita, não ofereci ou prometi vantagens indevidas a quem quer que fosse e tampouco atuei para obstruir a ação da Justiça, como me acusaram", disse Aécio. "Fui, sim, vítima de uma armadilha engendrada e executada por um criminoso confesso [Joesley] de mais de 200 crimes, cujas penas somadas ultrapassariam mais de 2.000 anos de prisão."

Falando a um plenário esvaziado de senadores, porém cheio de assessores, parlamentares e políticos tucanos, Aécio admitiu ter cometido apenas três erros:

"Quero nesta tribuna dizer que eu errei, e assumo aqui esse erro, em primeiro lugar por me deixar envolver nessa trama ardilosa e, principalmente, ao permitir que meus familiares servissem de massa de manobra para atender aos propósitos espúrios daqueles que, por absoluta ausência de caráter, não se constrangeram em submeter a honra e a vida de pessoas de bem a seus nefastos interesses", afirmou. "Errei também [...] ao me permitir utilizar, mesmo em conversa que deveria ser privada, vocabulário que não me é comum."

O senador disse que o ministro Marco Aurélio, ao revogar a suspensão de seu mandato, "tratou de trazer luzes ao que diz a Constituição". "Coube a ele demonstrar com clareza didática que medidas cautelares como o afastamento do mandato de um senador da República ou de um deputado federal representam grave violação de preceitos constitucionais."

E, em aparente referência a Janot, Joesley e Fachin, afirmou ter sido "vítima da manipulação de alguns, da má-fé de muitos e de julgamentos apressados". Depois, voltou à carga contra a PGR, insinuando haver uma suposta disputa entre Poderes. "O papel de investigar, apontar erros e puni-los é fundamental para o aprimoramento de nossas instituições, mas não pode ser feito ao arrepio do nosso ordenamento jurídico."

Ele reiterou seu compromisso com a "ousada agenda de reformas, que, aliás, foi a razão do apoio do PSDB ao governo do presidente Michel Temer".

Horas antes de seu pronunciamento, Aécio participou de almoço no gabinete de Tasso com a bancada tucana no Senado e alguns líderes tucanos. Um dos presentes relatou ao Valor que Tasso disse a Aécio que seria melhor que ele não reassumisse a presidência do partido neste momento. Segundo essa fonte, Aécio concordou.

Outra fonte afirmou ainda que senadores manifestaram a Aécio - defensor desde sempre da adesão ao governo Michel Temer - que "o sentimento majoritário na bancada do Senado já é por um desembarque do governo".

Ainda de acordo com essa fonte, Aécio teria dito que optará "sempre pela unidade" - ou seja, seguirá a orientação da maioria. O desembarque, se houver, será depois da votação da reforma trabalhista, prevista para a semana que vem.

Na quinta, o Conselho de Ética julga recurso de um grupo de senadores contra o arquivamento do requerimento de Rede e PSOL pela cassação do mandato de Aécio. O arquivamento foi feito monocraticamente pelo presidente do colegiado, João Alberto (PMDB-MA).

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4290, 05/07/2017. Política, p. A6.