Alckmin e aliados distanciam-se do Palácio do Planalto

Fernando Taquari

28/06/2017

 

 

A denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PRG) contra Michel Temer "é grave e deve ser apurada", mas o presidente não pode ser condenado por antecipação. Assim o governador paulista, Geraldo Alckmin, reforçou ontem o pedido de "serenidade" ao PSDB em relação ao governo pemedebista.

"É preciso entender que denúncia não é condenação. Não podemos antecipar a condenação", afirmou Alckmin após anunciar no Palácio dos Bandeirantes um pacote de investimentos em obras para rodovias paulistas. "É grave. Há uma denúncia e ela precisa ser apurada", acrescentou o tucano.

Cotado para concorrer à Presidência na eleição de 2018, o governador paulista tem defendido aos correligionários tucanos a tese de que o PSDB deve manter o apoio ao governo Temer até pelo menos a aprovação das reformas trabalhista e previdenciária. "Isso não quer dizer que não possamos tomar uma atitude amanhã", ponderou.

Alckmin defendeu que o PSDB promova um novo encontro partidário, "no devido tempo", para debater um eventual desembarque. Os deputados federais, segundo o governador, devem votar em bloco pela aceitação ou não da denúncia da PGR. "Defendo que a decisão seja do partido e não se libere a bancada", disse.

Apesar dos apelos por cautela, aliados do governador, como o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), começam a dar sinais em favor do desembarque. Secretário-geral da sigla e principal interlocutor de Alckmin na direção nacional, o parlamentar afirmou que a denúncia abre caminho para uma reavaliação do apoio do PSDB a Temer.

"Há um fato novo. A denúncia obriga o PSDB a fazer essa reavaliação", disse Torres ao ressaltar que as acusações contra Temer enfraquecem o presidente, criam insegurança e colocam em xeque sua capacidade de cumprir a agenda de reformas. Torres frisou, no entanto, que não há uma data para o partido fechar questão sobre o tema.

Outro presidenciável tucano, o prefeito paulistano, João Doria, reconheceu, em evento no Rio, que a situação de Temer se "agravou" com as acusações da procuradoria. Mas em linha com Alckmin, declarou que o posicionamento do PSDB deve ser dado depois de uma decisão da executiva nacional.

A denúncia da PGR tampouco foi o bastante para assegurar um consenso no PSDB. O Instituto Teotônio Vilela (ITV), presidido por José Aníbal, suplente no Senado, divulgou uma carta em defesa de Temer e com duras críticas ao trabalho do Ministério Público Federal ao apontar o que considera "fragilidades" na acusação.

"Não há, pelo menos por ora, uma prova inconteste, uma evidência acachapante ou um depoimento irrefutável que leve a uma condenação inequívoca. O que se tem - por ora, repita-se - é a palavra do maior réu confesso [Joesley Batista] do país contra a de Temer. Nada além disso", diz o documento do instituto.

A entidade argumenta ainda que não existe até o momento provas necessárias e suficientes para condenar um presidente da República. "O histórico recente de exageros e abusos por parte dos procuradores federais não ajuda", observa o ITV ao destacar que "não há indício de que o dinheiro supostamente fruto da corrupção tenha chegado ao presidente, senão a um subalterno".

Para decidir os próximos passos, alerta o instituto, o PSDB deve levar em conta que o "clima aziago que se criou em torno de Michel Temer a partir da divulgação dos termos de delação de Joesley Batista só beneficiou, até agora, o PT", que teria sumido do noticiário policial. (Com agências noticiosas)

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4285, 28/06/2017. Política, p. A12.