Assessor de Temer é preso em ação da Polícia Federal

Andrea Jubé, Bruno Peres e André Guilherme Vieira

24/05/2017

 

 

Em novo capítulo da crise agravada pela delação da JBS, mais um assessor do presidente Michel Temer surgiu como investigado pela Polícia Federal. Ontem o ex-vice-governador do Distrito Federal Tadeu Filippelli, que despachava no 3º andar do Palácio do Planalto, foi preso na Operação Panatenaico, que investiga desvio de recursos das obras do estádio nacional Mané Garrincha.

Do quarteto inicial de assessores nomeados por Temer ainda no governo interino, permanece apenas o ex-deputado Sandro Mabel, também do PMDB. O deputado federal afastado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR) é investigado no mesmo inquérito que Temer e o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG). O advogado José Yunes pediu demissão em dezembro, depois de ser citado em delação da Odebrecht.

Para tentar evitar que o episódio ganhasse contornos ainda maiores, Temer assinou a exoneração de Filippelli logo pela manhã, assim que chegou ao Planalto, por volta das dez horas.

"Essa operação é para impedir que o Michel [Temer] rearrume a base", criticou um deputado pemedebista, que tem participado das reuniões estratégicas no Alvorada. Ontem, contudo, Temer acompanhou, com alívio, o avanço das votações da medida provisória que liberou os saques das contas inativas do FGTS na Câmara. Havia um quórum elevado de deputados - resultado do esforço de articulação de Temer com a base aliada.

Filippelli - que também é presidente do PMDB no Distrito Federal - despachava no gabinete vizinho ao de Rocha Loures, flagrado pela Polícia Federal carregando uma mala de dinheiro com R$ 500 mil, entregue pelo diretor da JBS Ricardo Saud, um dos delatores do grupo. Segundo Saud, Rodrigo Rocha Loures teria sido indicado por Temer para tratar de assuntos de interesse da empresa.

O deputado paranaense devolveu anteontem à noite em São Paulo, por meio de sua defesa, R$ 465 mil, em notas de R$ 50. Não há explicação para a falta de R$ 35 mil.

Filippelli representou, no DF, a aliança nacional do PMDB com o PT, ao compor a chapa para o governo com o petista Agnelo Queiroz. Quando Temer foi nomeado articulador político de Dilma Rousseff, em 2015, Filippelli foi alçado a chefe de gabinete do ministério da Secretaria de Relações Institucionais.

O primeiro assessor envolvido nas investigações da Polícia Federal foi o advogado José Yunes. Depois de ser citado em delação do executivo da Odebrecht Claudio Melo Filho, Yunes declarou à Procuradoria-Geral da República que foi "mula involuntária" do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. Segundo Yunes, a pedido de Padilha ele recebeu em seu escritório um envelope entregue pelo doleiro Lúcio Funaro, no qual havia R$ 1 milhão de suposta propina da Odebrecht.

Do quarteto inicial, remanesce o ex-deputado federal Sandro Mabel. Ele é citado em investigação que tramita na primeira instância da Justiça Federal em Goiás. Segundo um dos executivos da Odebrecht, Benedicto da Silva Júnior, Sandro Mabel teria recebido R$ 140 mil via caixa dois da empreiteira para sua campanha em 2010.

Em nota, Mabel diz que teve a prestação de contas aprovada pela Justiça Eleitoral e quer o esclarecimento dos fatos o mais rapidamente possível.

 

 

Valor econômico, v. 17, n. 4261, 24/05/2017. Política, p. A6.